São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2001

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FUTEBOL

Para evitar "pizza", presidente da comissão impede votação de texto final, e 2 versões agora serão enviadas ao MP

CPI da CBF/Nike termina sem relatório

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Exatos nove meses após ter sido criada na Câmara dos Deputados, a CPI da CBF/Nike encerrou ontem seus trabalhos sem conseguir aprovar um relatório final e com uma intensa troca de farpas e ameaças entre seus membros.
Assim, dois textos, completamente diferentes, produzidos pelos grupos que polarizaram a CPI serão enviados ao Ministério Público e à Polícia Federal.
Como o presidente da Casa, Aécio Neves (PSDB-MG), havia dito que o prazo final da CPI, que já teve três prorrogações, se encerraria à meia-noite de ontem, a comissão teve seu fim sem produzir um documento oficial.
Por volta das 19h, Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da CPI, decidiu suspender a sessão que votaria o texto do relator Sílvio Torres (PSDB-SP) e dar por encerrados os trabalhos da comissão, criada no dia 13 de outubro do ano passado, após vencer uma série de resistências.
Segundo Rebelo, não havia tempo nem "consenso" para votar o relatório, um calhamaço que pede ao Ministério Público o indiciamento dos principais dirigentes do futebol brasileiro, entre eles Ricardo Teixeira, presidente da CBF. A sessão de ontem, a 55ª da CPI, havia começado às 10h30.
A decisão de Rebelo revoltou o grupo de 18 parlamentares da "bancada da bola", maioria na CPI, que tem 25 membros. Os deputados -muitos ligados a clubes, federações e à CBF- queriam votar e reprovar o texto de Torres. Em seguida, apresentariam e aprovariam um novo texto, absolvendo dirigentes.
Acuados, Rebelo e seu grupo -composto por seis deputados- implodiram a CPI, como havia antecipado o presidente à Folha na semana passada.
A decisão autoritária de Rebelo contrariou o regimento interno da CPI, mas evitou que ela terminasse em uma imensa "pizza", já que o grupo contrário a Torres tirou todas as sugestões de indiciamento do texto "alternativo".
O gesto desencadeou um grande bate-boca. Nervoso, sob gritos de "golpe" e "stalinismo", Rebelo deixou o posto de presidente da CPI, imediatamente "ocupado" pelo deputado e presidente do Vasco, Eurico Miranda (PPB-RJ), poupado pelo relatório de Torres, mas contrário ao texto dele.
O que se viu, então, foi Eurico, terceiro-vice-presidente da CPI, principal alvo da CPI do Futebol (Senado) e que recebeu ajuda financeira da CBF na sua campanha eleitoral, comandando a "votação" do relatório "alternativo".
"Isso é guerrilha, é guerrilha. Eu conheço essa esquerda há muito tempo", dizia Eurico.
Eduardo Campos (PSB-PE), que dava apoio a Torres e Rebelo, criticou Eurico e seu grupo. "Eles estão aqui para defender o Ricardo Teixeira. Não iríamos, de maneira alguma permitir isso."
A votação promovida por Eurico, na qual o texto pró-cartolas venceu com larga vantagem, de nada valeu, segundo a direção da Câmara dos Deputados.
Rebelo disse que enviará o texto de Torres, um duro ataque a Teixeira, acusado de evasão de divisas e lavagem de dinheiro, para o Ministério Público. A "bancada da bola" também promete enviar ao Ministério Público o seu texto.
Com o ar-condicionado desligado por causa do racionamento, o grupo ligado a Torres e Rebelo manobrou para evitar a votação, já que o deputado José Rocha (PFL-BA), ex-presidente do Vitória, chegou ao plenário 11 da Câmara com o relatório "alternativo" de baixo do braço.
Somente por volta das 15h, os deputados contrários ao texto do relator conseguiram se articular para votar o relatório de Torres.
Mas, em uma manobra do grupo ligado ao relator, o deputado Pedro Celso (PT-DF) propôs incluir no texto final a sugestão de indiciar o presidente do Vasco.
Dr. Rosinha (PT-PR) e Jurandil Juarez (PMDB-AP), sub-relatores da CPI, também pediram que se anexasse ao relatório final uma nova sugestão de indiciamento contra Teixeira, por conta do contrato da CBF com a AmBev.
Pela intermediação do acordo, o empresário Renato Tiraboschi, amigo e ex-sócio do dirigente, vai receber US$ 9 milhões de comissão pelo negócio em 18 anos.
Torres, então, disse que precisava de tempo para analisar os pedidos. Queria retomar a sessão às 19h. Rebelo deu o prazo, mas somente até as 17h30.
Quando a sessão foi retomada, os líderes dos dois grupos se fecharam em uma sala para tentar negociar um relatório "consensual". Não houve acordo.
Voltaram ao plenário e a troca de farpas aumentou. Rebelo discutiu com José Lourenço (PFL-BA). O presidente da CPI chegou a chamar Lourenço, que interrompeu intempestivamente seu discurso, de "verme".


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