São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

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"Ano da África" é conquista de Blatter

Presidente da Fifa, antes adversário do continente, destina verbas à região de diversas formas e ganha apoio político

Além do Mundial e da Copa das Confederações, países africanos receberão nos próximos meses disputas de torneios sub-17 e sub-20

DOS ENVIADOS A BLOEMFONTEIN

Copa das Confederações a partir de hoje. Mundiais sub-17 (Nigéria) e sub-20 (Egito) até o fim do ano. A Copa do Mundo da África do Sul em 2010.
Nos próximos 12 meses, tudo o que importa no futebol entre seleções nacionais estará no mais pobre dos continentes.
E isso não vai acontecer por acaso ou por obra de caridade. O fato: a África tornou-se prioridade política para Joseph Blatter, o presidente da Fifa.
Antes refratária ao cartola, a região, que com suas 53 federações nacionais (junto com a Europa é a maior do mundo no futebol) responde por um quarto dos votos na eleição para presidente da máxima entidade do esporte, é agora aliada de Blatter -o apoiou em peso na sua última reeleição, em 2007.
""Este é o ano da África em termos de futebol", disse Blatter, que na sua primeira eleição na Fifa, em 1998, foi acusado de comprar o voto de 18 países africanos na disputa contra o sueco Lennart Johansson. Nunca se provou nada.
A sequência de competições importantes no continente é só a cereja do bolo na conquista da África por Blatter, o suíço que colocou a organização de uma Copa no continente africano como plataforma desde o início da sua administração.
Ele já investiu pelo menos US$ 200 milhões (cerca de R$ 385 milhões) da Fifa na criação de infraestrutura para o futebol africano. Em um de seus projetos, um comunicado oficial da entidade até reconheceu o uso político desses gastos.
Foram US$ 38 milhões (cerca de R$ 73 milhões) na construção de campos de grama sintética em 52 países africanos -só a África do Sul ficou fora. Para a Fifa, uma ""consideração política" foi um dos motivos dessa milionária ideia.
Segundo a entidade, um país que não participa por mais de dois anos dos torneios organizados por ela perde seus direitos nos congressos da entidade, inclusive o que elege o presidente da Fifa.
Com a grama artificial, de acordo com a Fifa, não existe o risco de ""gramados deploráveis" provocarem a desistência de algumas seleções -dá como exemplo o Djibuti, um pequeno país africano. Agora, ainda segundo organização dirigida por Blatter, ""esse tipo de situação não mais vai ocorrer".
São várias as torneiras que fazem a Fifa irrigar de dólares as miseráveis federações nacionais africanas.
A mais importante delas é o projeto ""Goal", pelo qual a entidade investe, em média, US$ 400 mil (cerca de R$ 770 mil) por iniciativa para a construção de centros de treinamento, gramados artificiais e outras obras de estrutura para o futebol. A CBF recebeu esse dinheiro para fazer sua escola de treinadores, mas o projeto nunca decolou de verdade.
Dos 393 programas aprovados até hoje, 115 foram para países da África -o continente é o líder em avais recebidos.
A África ainda conta com um programa criado pela Fifa especialmente para o continente. "O Vencer na África com a África" tem orçamento de US$ 67 milhões. Desse bolo, saiu a verba para os gramados artificiais. (EDUARDO ARRUDA E PAULO COBOS)


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