São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2000


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BOXE
Inversão

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

""O sul-africano Frans Botha é um boxeador que vem ganhando respeito no meio pugilístico."
Foi assim que defini o Búfalo Branco, que amanhã enfrenta o campeão unificado dos pesados, o britânico Lennox Lewis, ao ser questionado por uma colega sobre as qualidades do desafiante.
Só então, ao lembrar que Botha, 31, já foi campeão pela FIB (Federação Internacional de Boxe), em dezembro de 1995, me dei conta da ironia. Afinal, ""ganhando respeito" é uma condição mais apropriada para um pugilista ainda ""verde" e não para um ex-campeão com mais de 40 lutas.
É verdade que o sul-africano ganhou moral após suas apresentações com o ex-campeão Mike Tyson, quando ganhava por pontos até ser nocauteado no quinto assalto, e com Shannon Briggs, com quem empatou após um excepcional décimo assalto.
Mostrando fibra, Botha (107,5 kg) garantiu a chance de enfrentar Lewis (o combate será transmitido no Brasil pela Directv, em pay-per-view), embora seja, com razão, o azarão na proporção de 15 para 1 nas bolsas de apostas.
O problema é que suas performances nos combates com Tyson e Briggs foram no ano passado. Elas qualificaram Botha como um desafiante para a luta com o inglês Lewis (113,5 kg).
Então a pergunta que fica é: o que Botha havia feito para merecer disputar o cinturão em 1995, contra Axel Schulz? Nada.
Foi tão escandalosa a ascensão do sul-africano naquela oportunidade, que a situação é apontada hoje como indício de irregularidade no caso em que Bob Lee, presidente da FIB, é investigado por suspeita de corrupção.
O comentarista Steve Farhood, ex-editor da publicação especializada ""The Ring", que atua como especialista em rankings para o governo dos EUA no caso, exibiu gráficos mostrando a ascensão de Botha (e outros lutadores) nos rankings, luta a luta. Também mostrou aos jurados os cartéis (muitos dos quais negativos, ou seja, com mais derrotas do que vitórias) dos adversários de Botha durante o mesmo período.
A situação de Botha na ocasião, que não é um caso isolado (é possível encontrar situações semelhantes nos rankings de todas as entidades), mostra quão desvalorizados estão os cinturões ""mundiais" e como qualquer um, por meio do trabalho de bastidores, pode ter acesso a eles.
E já que estamos no tópico dos chamados títulos ""mundiais", uma questão que permanece sem resposta: se o mundo é um só, como pode haver diversos campeões ""do mundo" em uma mesma categoria de peso?
Ainda nessa linha, você gostaria que seu mundo fosse governado pela FIB, ou pelo CMB (Conselho Mundial de Boxe), ou pela OMB (Organização Mundial de Boxe), ou pela AMB (Associação Mundial de Boxe), ou por qualquer outra entidade do boxe?
Uma das vantagens: se você, por qualquer motivo, não apreciasse o atual presidente (por não concordar com seu modo de se vestir, por exemplo), bastaria se filiar a uma outra entidade que tivesse como líder outro candidato derrotado nas últimas eleições...
Não faria sentido? Para os cartolas do pugilismo, faz.

Brasil 1
O leve Edson do Nascimento, o Xuxa, enfrenta o colombiano Rosember Palacios em sua estréia como contratado de Don King, no próximo dia 22, em Miami (EUA). O colombiano tem 17 vitórias, 12 nocautes, 7 derrotas e 3 empates. Originalmente, Xuxa enfrentaria Juan Polo-Perez, na programação cuja luta de fundo é uma defesa de título de Félix Trinidad, mas a equipe do brasileiro teria vetado o ex-campeão ""por ele ser canhoto" e por Xuxa não lutar desde março.

Brasil 2
A Associação Internacional de Boxe oficializou a destituição do supermédio Reginaldo ""Hollyfield" Andrade de sua versão do título continental. O campeão, após luta eliminatória pelo título vago, passou a ser o norte-americano Fernando Zuniga.

E-mail
eohata@folhasp.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata


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