São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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Efeito Bombonera

Sem favoritismo ao ouro por equipes, ginastas brasileiros esperam que a pressão da torcida ajude-os a subir hoje ao topo do pódio no Rio

LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Se não der na técnica, que seja na base da empolgação, empurrados pelo calor do público.
É com este pensamento que os ginastas brasileiros entram hoje na disputa por equipes, a partir das 10h, atrás de um inédito título dos Jogos Pan-Americanos que parece distante.
Mais de uma vez desde que chegaram ao Rio, há dez dias, os atletas falaram em transformar a Arena Multiuso do Complexo de Jacarepaguá no estádio de La Bombonera -campo de futebol do Boca Juniors, famoso por ser um alçapão francamente favorável ao time portenho, atual campeão continental.
Logo no treino inaugural, quando conheceram o ginásio, deram mostras disso. Antes de iniciar o primeiro aquecimento, Daniele Hypólito, 22, e Laís Souza, 18, sobre o tablado do solo, olhavam para os 13 mil assentos do ginásio vazios e comentavam entre si: "Imagina o barulho do "aah!" disso aqui cheio de gente depois de uma série nossa...".
Victor Rosa, 20, é outro que aposta no calor do público. Até como forma de intimidação aos estrangeiros. "O comportamento da torcida, no Brasil, é parecido com o dos torcedores de futebol. Lá fora, o público não agita tanto como aqui. Para os estrangeiros, fica pior", diz o ginasta do Flamengo, que hoje participa de todos os aparelhos.
Até o sisudo ucraniano Oleg Ostapenko esboça um sorriso quando o assunto é o público. "Gosto muito do comportamento da torcida aqui. Sempre pode ajudar", diz o técnico da seleção feminina.
Renato Araújo, treinador do time masculino, chega até a ensinar o caminho para o time tirar vantagem da arquibancada na primeira competição oficial neste palco. "Tem é que mostrar firmeza e segurança logo no primeiro aparelho, para transformar a arena em Bombonera. O pessoal vem com vontade de torcer, e é importante começar bem."
Ele aposta no retrospecto de Diego Hypólito, que costuma fazer suas melhores séries diante de uma platéia empolgada, segundo o treinador. "Estou tranqüilo, mas muito ansioso", afirma o campeão mundial do solo em 2005.
Um dos mais experientes do time, ele revela que passou os últimos dias conversando bastante com os colegas mais novos. "Conversei muito com os meninos, para não se apavorarem com a força da torcida, porque tem tudo para dar certo, já que eles vêm para nos apoiar", comenta Diego, 21.
Até mesmo Daiane dos Santos, que ontem não concedeu entrevistas, mandou seu recado ao público nos últimos dias, quando era mais indagada a respeito da recuperação da lesão no tornozelo do que sobre qualquer outro tema. "Agradeço aos que torceram e rezaram pela minha recuperação e espero corresponder na competição." A final feminina por equipes ocorre a partir das 19h.
Porém, a julgar pela avaliação geral, nem muita gritaria dará o ouro hoje. Vicélia Florenzano, presidente da confederação de ginástica, acha que o Brasil deve ficar com quatro ouros. "Mas as equipes eu não considero [favoritas aos títulos]", avalia a dirigente.
Victor Rosa concorda. "Na equipe, visamos mais o pódio. Prata ou bronze está bom."
Ostapenko dá o veredicto final. "O Brasil pode ganhar o segundo lugar na equipe. Os EUA têm um nível mais alto."
Só que para os que duvidam que torcida ganha jogo, Gustavo Borges, dono do maior número de ouros brasileiros em Pans, tem um recado à pág. D9.


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