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Efeito Bombonera
Sem favoritismo ao ouro por equipes, ginastas brasileiros esperam que a pressão da torcida ajude-os a subir hoje ao topo do pódio no Rio
LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Se não der na técnica, que seja na base da empolgação, empurrados pelo calor do público.
É com este pensamento que
os ginastas brasileiros entram
hoje na disputa por equipes, a
partir das 10h, atrás de um inédito título dos Jogos Pan-Americanos que parece distante.
Mais de uma vez desde que
chegaram ao Rio, há dez dias, os
atletas falaram em transformar
a Arena Multiuso do Complexo
de Jacarepaguá no estádio de
La Bombonera -campo de futebol do Boca Juniors, famoso
por ser um alçapão francamente favorável ao time portenho,
atual campeão continental.
Logo no treino inaugural,
quando conheceram o ginásio,
deram mostras disso. Antes de
iniciar o primeiro aquecimento, Daniele Hypólito, 22, e Laís
Souza, 18, sobre o tablado do
solo, olhavam para os 13 mil assentos do ginásio vazios e comentavam entre si: "Imagina o
barulho do "aah!" disso aqui
cheio de gente depois de uma
série nossa...".
Victor Rosa, 20, é outro que
aposta no calor do público. Até
como forma de intimidação aos
estrangeiros. "O comportamento da torcida, no Brasil, é
parecido com o dos torcedores
de futebol. Lá fora, o público
não agita tanto como aqui. Para
os estrangeiros, fica pior", diz o
ginasta do Flamengo, que hoje
participa de todos os aparelhos.
Até o sisudo ucraniano Oleg
Ostapenko esboça um sorriso
quando o assunto é o público.
"Gosto muito do comportamento da torcida aqui. Sempre
pode ajudar", diz o técnico da
seleção feminina.
Renato Araújo, treinador do
time masculino, chega até a ensinar o caminho para o time tirar vantagem da arquibancada
na primeira competição oficial
neste palco. "Tem é que mostrar firmeza e segurança logo
no primeiro aparelho, para
transformar a arena em Bombonera. O pessoal vem com
vontade de torcer, e é importante começar bem."
Ele aposta no retrospecto de
Diego Hypólito, que costuma
fazer suas melhores séries
diante de uma platéia empolgada, segundo o treinador. "Estou
tranqüilo, mas muito ansioso",
afirma o campeão mundial do
solo em 2005.
Um dos mais experientes do
time, ele revela que passou os
últimos dias conversando bastante com os colegas mais novos. "Conversei muito com os
meninos, para não se apavorarem com a força da torcida,
porque tem tudo para dar certo, já que eles vêm para nos
apoiar", comenta Diego, 21.
Até mesmo Daiane dos Santos, que ontem não concedeu
entrevistas, mandou seu recado ao público nos últimos dias,
quando era mais indagada a
respeito da recuperação da lesão no tornozelo do que sobre
qualquer outro tema. "Agradeço aos que torceram e rezaram
pela minha recuperação e espero corresponder na competição." A final feminina por equipes ocorre a partir das 19h.
Porém, a julgar pela avaliação geral, nem muita gritaria
dará o ouro hoje. Vicélia Florenzano, presidente da confederação de ginástica, acha que o
Brasil deve ficar com quatro
ouros. "Mas as equipes eu não
considero [favoritas aos títulos]", avalia a dirigente.
Victor Rosa concorda. "Na
equipe, visamos mais o pódio.
Prata ou bronze está bom."
Ostapenko dá o veredicto final. "O Brasil pode ganhar o segundo lugar na equipe. Os EUA
têm um nível mais alto."
Só que para os que duvidam
que torcida ganha jogo, Gustavo Borges, dono do maior número de ouros brasileiros em
Pans, tem um recado à pág. D9.
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