São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grupos anti-Pan levam bandeiras ao Maracanã

Manifestantes condenavam desde o aborto à operação no Complexo do Alemão

Religiosos, moradores de favelas e punks se misturam aos 90 mil espectadores, que reclamaram de falta de informação na entrada


ITALO NOGUEIRA
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Os anti-Pan eram uma minoria, mas circundavam ontem o Maracanã -estádio da cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos 2007, no Rio- desfraldando suas bandeiras.
Os arredores do estádio transformaram-se em palco de diferentes tipos de manifestações de grupos que se consideram "excluídos" do Pan.
Punks, religiosos e moradores de favelas se misturaram aos cerca de 90 mil espectadores e participantes do evento que aguardavam em longas filas e pequenas aglomerações, antes do começo.
Apesar dos insatisfeitos, prevaleceu a atmosfera de tranqüilidade. O temor de que o esquema de trânsito falhasse não se concretizou. A população atendeu à recomendação de usar transportes públicos e não houve grandes engarrafamentos.
Em lugar das queixas contra o trânsito, restaram apenas os protestos dos grupos dispersos, que condenavam desde o aborto à operação policial no Complexo do Alemão.
"O Pan é o evento para uma minoria e expõe que não se traduz no dia-a-dia. Queremos que esse tipo de diferença social fizesse parte dos jogos", declarou o missionário Leonardo Neryn, 35.
O Movimento Revolucionário Brasileiro, com cerca de 20 punks, rodou o estádio atacando a realização do evento.
"Não ficaremos calados em casa, assistindo pela TV essa merda do Pan. Quero ver se, quando o Pan acabar, vai ter policiamento ou se vão voltar todos aqueles carros sucateados! Isso aqui é um evento de burguês mesmo", afirmou Alexandre Billy.
Quando passou uma delegação de atletas estrangeiros, um punk do grupo mostrou o dedo para o ônibus, enquanto a maioria das pessoas na rua aplaudia.
Grupos de três diferentes associações "em defesa da vida humana" carregavam faixas contra o aborto.
"Podemos matar hoje os atletas de amanhã", disse o zootecnista João Gabriel Matias, 50.
Cerca de 150 pessoas caminharam ao redor do Maracanã hasteando bandeiras contra a ação da polícia no Complexo do Alemão, na zona norte, que matou ao menos 44 desde o seu início, em maio.
"Gastou-se muito dinheiro no Pan e pouco em projetos sociais nas comunidades [carentes]. Não somos contra os Jogos, mas queremos investimentos", afirmou Wanderlei da Cunha, morador da favela de Acari (zona norte).
Evangélicos de todo o país deram um abraço simbólico no estádio, minutos antes da abertura oficial dos Jogos.
Fizeram uma oração e soltaram no ar bolas de encher de diversas cores e pediram integração e paz no Rio.
"Vamos orar, vamos orar, irmão! Dê a mão aqui e vamos dar um abraço no Maracanã", pedia André Luís Faria, assistente administrativo a quem passava. "Se não acontecer nada de mal no Pan é por causa dessa oração", disse Adriana Felício.

Falta de informação
Filas, desorientação, reclamações de falta de informação correta a respeito de locais de entrada foram as principais queixas do público.
Apesar da confusão, causada pela falta de informações e pela passagem obrigatória pelos detectores de metais, a espera raramente ultrapassou os 45 minutos para a entrada.
Não era permitida a entrada de bebidas, alimentos, objetos perfurantes e metálicos. Até canetas tiveram de ser descartadas. Dezenas de quilos de comida foram recolhidos.
A partir das 17h, meia hora antes do início previsto, quase todo o público já havia entrado, e os portões já estavam vazios.
A grande quantidade de policiais militares, agentes da Força Nacional e da Guarda Municipal não inibiu a ação de cambistas e ambulantes.


Texto Anterior: Moacyr Scliar: O esporte e o Brasil
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.