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Grupos anti-Pan levam bandeiras ao Maracanã
Manifestantes condenavam desde o aborto à operação no Complexo do Alemão
Religiosos, moradores de favelas e punks se misturam aos 90 mil espectadores, que reclamaram de falta de informação na entrada
ITALO NOGUEIRA
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Os anti-Pan eram uma minoria, mas circundavam ontem o
Maracanã -estádio da cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos 2007, no Rio-
desfraldando suas bandeiras.
Os arredores do estádio
transformaram-se em palco de
diferentes tipos de manifestações de grupos que se consideram "excluídos" do Pan.
Punks, religiosos e moradores de favelas se misturaram
aos cerca de 90 mil espectadores e participantes do evento
que aguardavam em longas filas e pequenas aglomerações,
antes do começo.
Apesar dos insatisfeitos, prevaleceu a atmosfera de tranqüilidade. O temor de que o esquema de trânsito falhasse não se
concretizou. A população atendeu à recomendação de usar
transportes públicos e não houve grandes engarrafamentos.
Em lugar das queixas contra
o trânsito, restaram apenas os
protestos dos grupos dispersos,
que condenavam desde o aborto à operação policial no Complexo do Alemão.
"O Pan é o evento para uma
minoria e expõe que não se traduz no dia-a-dia. Queremos
que esse tipo de diferença social fizesse parte dos jogos", declarou o missionário Leonardo
Neryn, 35.
O Movimento Revolucionário Brasileiro, com cerca de 20
punks, rodou o estádio atacando a realização do evento.
"Não ficaremos calados em
casa, assistindo pela TV essa
merda do Pan. Quero ver se,
quando o Pan acabar, vai ter
policiamento ou se vão voltar
todos aqueles carros sucateados! Isso aqui é um evento de
burguês mesmo", afirmou Alexandre Billy.
Quando passou uma delegação de atletas estrangeiros, um
punk do grupo mostrou o dedo
para o ônibus, enquanto a
maioria das pessoas na rua
aplaudia.
Grupos de três diferentes associações "em defesa da vida
humana" carregavam faixas
contra o aborto.
"Podemos matar hoje os atletas de amanhã", disse o zootecnista João Gabriel Matias, 50.
Cerca de 150 pessoas caminharam ao redor do Maracanã
hasteando bandeiras contra a
ação da polícia no Complexo do
Alemão, na zona norte, que matou ao menos 44 desde o seu
início, em maio.
"Gastou-se muito dinheiro
no Pan e pouco em projetos sociais nas comunidades [carentes]. Não somos contra os Jogos, mas queremos investimentos", afirmou Wanderlei
da Cunha, morador da favela de
Acari (zona norte).
Evangélicos de todo o país
deram um abraço simbólico no
estádio, minutos antes da abertura oficial dos Jogos.
Fizeram uma oração e soltaram no ar bolas de encher de diversas cores e pediram integração e paz no Rio.
"Vamos orar, vamos orar, irmão! Dê a mão aqui e vamos dar
um abraço no Maracanã", pedia André Luís Faria, assistente
administrativo a quem passava.
"Se não acontecer nada de mal
no Pan é por causa dessa oração", disse Adriana Felício.
Falta de informação
Filas, desorientação, reclamações de falta de informação
correta a respeito de locais de
entrada foram as principais
queixas do público.
Apesar da confusão, causada
pela falta de informações e pela
passagem obrigatória pelos detectores de metais, a espera raramente ultrapassou os 45 minutos para a entrada.
Não era permitida a entrada
de bebidas, alimentos, objetos
perfurantes e metálicos. Até canetas tiveram de ser descartadas. Dezenas de quilos de comida foram recolhidos.
A partir das 17h, meia hora
antes do início previsto, quase
todo o público já havia entrado,
e os portões já estavam vazios.
A grande quantidade de policiais militares, agentes da Força Nacional e da Guarda Municipal não inibiu a ação de cambistas e ambulantes.
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