São Paulo, quinta, 14 de agosto de 1997.



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FUTEBOL
Família Ferreira mantém o domínio da entidade mineira desde 1966; oposição praticamente não existe mais
Dinastia comanda federação em Minas

PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Desde agosto de 1966, a família Ferreira mantém o poder na Federação Mineira de Futebol, enfrentando denúncias de corrupção, usando a entidade para fins eleitorais, empregando parentes e amigos e se reelegendo por meio de procurações das ligas do interior.
A dinastia começou no regime militar, quando o coronel José Guilherme Ferreira, então chefe do gabinete militar do governador Magalhães Pinto, chegou à presidência da entidade.
Hoje a federação é presidida pelo filho do coronel reformado, Elmer Guilherme Ferreira, no cargo desde janeiro de 1987.
Só entre 80 e 86 os Ferreira deixaram a presidência, mas não a entidade. Nesse período, ela foi presidida por Alcy Alvares Nogueira, então membro do Tribunal de Justiça Desportiva, que no segundo mandato teve Elmer como vice.
Em 1980, o coronel enfrentava denúncias de corrupção -foi condenado em 86 (leia texto nessa página)- e, por isso, não se envolveu diretamente na disputa.
Como o seu pai, Elmer se mantém no cargo com os votos das ligas de futebol do interior, que passam procurações a aliados dos Ferreira, que votam por elas. Isso tem se repetido há anos.

Contrários
Os opositores dos Ferreira desistiram de concorrer. Alegam que a família controla as ligas e vários clubes, e que não adiantaria disputar. O último embate foi em 80.
"É inacreditável. Estava disposto a disputar em 96, mas não quero me envolver mais nisso", diz o advogado Otacílio Ferreira da Costa, adversário desde os anos 60.
"O José Guilherme é um produto típico do movimento militar. Somente uma intervenção nas federações pelo governo federal pode acabar com isso."
O ex-presidente da FMF e antecessor do coronel José Guilherme, Benedicto Adami de Carvalho, diz que "havia muita pressão" sobre os opositores quando perdeu por três votos a reeleição, em 66.
"Ele (o coronel) usou o cargo que ocupava (chefe do gabinete militar) para ser candidato. No interior, usou militares e delegados de polícia para pressionar as ligas. Estava claro que eu não ganharia."
Houve outro caso em que a PM teve ação direta: em setembro de 72, contra um ex-presidente dos anos 50, Francisco Côrtes.
A PM ocupou os elevadores do prédio da entidade. Só entraram os aliados do coronel. Houve tumultos, brigas e algumas pessoas da oposição foram presas.
"Eu ganharia a eleição por nove votos, mas ele cassou várias procurações que eu tinha."
Diz que o coronel tinha procurações assinadas em branco pelos presidentes das ligas e as usou para anular as levadas pela oposição.



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