São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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ORGANIZAÇÃO

Dublagem vira alvo de polêmica na China

Fotos da menina rejeitada estão em corrente de e-mails

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

As bochechas pronunciadas e os dentes encavalados tiraram Yang Peiyi, 7, da cerimônia de abertura da Olimpíada. Sua voz foi dublada por outra menina, Lin Miaoke, 9, considerada mais fotogênica pela organização. De vestidinho vermelho, a imagem de Lin dublando a Ode à Pátria deu a volta ao mundo.
A exclusão da graciosa Yang por razões estéticas levantou polêmica sobre a paranóia perfeccionista que tomou conta da organização dos Jogos. "Como tiveram a coragem de fazer isso com uma criança?" foi uma das frases mais presentes ontem em fóruns na internet chinesa.
O diretor musical do espetáculo, Chen Qigang, admitiu em entrevista a uma rádio que um membro do poderoso Politburo, do Partido Comunista, implicou com os dentes da menina-cantora e pediu que ela fosse trocada. "Todo mundo deve entender que é o interesse nacional. Tivemos que fazer uma escolha", disse Chen.
Na verdade, os boatos de que a voz não pertencia a Lin já corriam na blogosfera chinesa, mas os posts eram sempre apagados pela polícia censora. Até o pai de Lin achou que a voz da filha "estava diferente".
A organização decidiu que Lin era a mais bela, mas sua voz não era tão boa, e que Yang tinha a melhor voz, mas não era bonita. "Provavelmente Lin achou que fosse sua voz gravada", admitiu Chen Qigang, diretor musical do evento.
Lin já é figura fácil de comerciais na China, onde até contracenou com o atleta Liu Xiang, e apareceu em programas de TV. Mas as fotos da menina rejeitada, mostrando uma brincalhona e sorridente Yang, circularam em correntes de e-mails.
Na revista de maior prestígio da China, "Caijing", o colunista Yang Binbin ironiza, dizendo que a "performance dublada prejudica os interesses nacionais e se opõe ao espírito olímpico". "Se as apresentações fajutas se somarem às bebidas fajutas, aos remédios fajutos, aos jogos de futebol fajutos e às empresas fajutas, todos justificados e glorificados por interesses nacionais, isso é muito triste para a economia chinesa."
A notícia da dublagem foi a mais lida ontem nos sites dos jornais "The New York Times", "Daily Telegraph" e "El País".
Não foi a única farsa da festa. As imagens dos fogos que atravessavam Pequim da praça da Paz Celestial até o Ninho de Pássaro foram pré-gravadas nos últimos 12 meses, mas exibidas como se fossem ao vivo.
Fora isso, boatos na internet dizem que as crianças com trajes típicos das minorias étnicas são todas da etnia han, a majoritária na China, e não tibetanas, muçulmanas e das etnias representadas. E que a maioria dos figurantes são soldados do Exército de Libertação do Povo. A cerimônia ainda foi acusada de machista, com todas as performances de homens.


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