São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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TIRO

Atiradora usa triunfo para tentar achar o pai

Campeã, Guo Wenjun não vê seu genitor desde 1999

DO ENVIADO A PEQUIM

Guo Wenjun tem 24 anos, mira certeira, uma medalha de ouro no peito. Uma história que comove os Jogos Olímpicos. E que já se transformou em obsessão para os chineses.
Ao vencer os 10 m na pistola de ar no domingo, bateu o recorde olímpico e revelou seu drama: quer encontrar o pai, desaparecido desde abril de 1999. A partir daí, Wenjun virou a nova queridinha do país.
Os pais dela se separaram quando tinha 14 anos. Ela foi morar com Guo Jing Sheng, o pai. Por pouco tempo.
Meses depois, ele sumiu de casa, deixando 2.500 yuan (cerca de R$ 700) e um bilhete ao técnico da menina: "Vou para muito longe. Quero que você cuide dela como sua própria filha e que faça o melhor por ela".
Abalada, Wenjun passou por tratamento psicológico. Certa vez, ao ver um homem parecido com o pai no bairro em que vivia, passou uma semana na porta de casa, esperando por ele.
Todo esse enredo surgiu na esteira das declarações de seu técnico após a conquista. Num país que tenta agora pôr em prática um planejamento de anos para liderar o quadro de medalhas, ele afirmou que a vitória não era fim, mas meio.
"Wenjun só competiu na esperança de que o pai a visse e que, orgulhoso, fizesse contato", disse Huang Yanhua ao jornal "Chongqing Daily".
"Ela tentou desistir, mas eu disse que isso seria uma vergonha para seu pai. Ela percebeu que tinha nas mãos uma chance única e decidiu que tentaria tudo pelo ouro", completou.
O caso foi um choque para a sociedade chinesa, que segue os preceitos confucionistas da veneração aos ancestrais e da piedade filial. Detonou uma onda de apoio dos meios de comunicação e um mutirão na internet que congrega internautas de França, Japão, Paraguai, República Tcheca e Brasil.
As manifestações vão de tentativas de localizar Jing Sheng até ataques pessoais.
"Eu vou começar a pesquisar fotos dele e então vou mobilizar o máximo possível de pessoas para me ajudar", escreveu um internauta no portal Sina, um dos maiores da China.
"Quando eu era criança, morava na mesma Província dele. Espero conseguir alguma informação", disse outro. "Ele é um pai horroroso, um irresponsável. Por que ela deveria ir procurá-lo?", perguntou um participante de um fórum.
No portal Tian Ya, o maior da China, há a manifestação de uma brasileira identificada apenas como "gabrieli": "Há muitos chineses vivendo no Brasil. Quero ajudar Wenjun".
Após participar de vários programas de TV, a atiradora voltou para sua cidade, Xi'an, na Província de Shaanxi. Esperando, de certo, que o telefone toque, que um certo alguém apareça. Que o ouro olímpico, da maneira como o concebe, enfim venha. (FÁBIO SEIXAS)


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