DO ENVIADO A PEQUIM

A guerra entre Rússia e Geórgia no Cáucaso atingiu a Olimpíada. Gerou tensão em entrevistas, uma censura de organizadores e respingou no Brasil.
Na manhã de ontem, o clima esquentou após a dupla Cris (Saka) e Andrezza (Rtvelo)- brasileiras que competem em Pequim pela Geórgia- eliminarem as russas Uryadova e Shiryaeva, conforme relato do jornal britânico "Guardian".
"Elas não são georgianas. Provavelmente nem sabem o nome do presidente da Geórgia", disparou Shiryaeva.
"Mikhael Saakashvili", rebateu Cris, que emendou falando ter conhecido a primeira-dama de seu novo país na Vila Olímpica. "Ela é adorável."
Uryadova atacou desta vez: "É muita estupidez da Geórgia começar uma guerra com a Rússia, porque nós somos muito grandes, e eles, muito pequenos. Mas sempre foi desse jeito na história com a Geórgia".
O presidente da federação georgiana de vôlei intercedeu. "Más perdedoras. As russas deveriam ir para casa", falou Levan Akhvlediani.
O sistema de informação oficial da Olimpíada ignorou o episódio. Trouxe só declaração de Andrezza agradecendo à oportunidade por disputar os Jogos pela Geórgia. E destacou abraço de Cris nas russas.
O mesmo sistema reproduziu uma declaração do judoca georgiano Irakli Tsirekidze, que na trajetória rumo ao título dos 90 kg bateu o russo Ivan Pershin na semifinal. "Nos conhecemos há um tempão e somos amigos."
Nada foi dito sobre o fato de Tsirekidze ter apontado para o nome de seu país nas costas do quimono após bater o russo. E nem pôde ser indagado a respeito. A primeira questão da entrevista do campeão foi sobre o episódio. A condutora da entrevista disse que não aceitaria a indagação por ser política. Jornalistas protestaram porque o questionaram sobre a comemoração e a pergunta foi permitida. Constrangido, Tsirekidze se calou.
"Significa muito para um país em conflito. Estou muito contente de levar alegria ao povo da Geórgia neste momento. Sei que as duas medalhas de ouro são importantes [a outra foi na luta olímpica]. Dedico este ouro para meus treinadores, meu povo e meu país", declarou ele, depois. (LF)


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