São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2000

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INFRA-ESTRUTURA
Passando a maçã e água, 5.000 condutores ameaçam parar Jogos


Sistema de transporte programado desde 93 por organizadores poderá entrar em colapso com ameaça de greve de cerca de 5.000 motoristas


MARCELO DIEGO
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

Uma greve de ônibus, marcada para começar amanhã, pode jogar por terra todo o planejamento de sete anos feito por Sydney para receber a Olimpíada.
Para evitar um caos no trânsito, como ocorreu em Atlanta-96, os organizadores da Olimpíada australiana montaram um sistema de transporte baseado no uso do serviço público: ônibus e trens.
Os ônibus serão responsáveis por levar cerca de 81 mil pessoas diariamente ao Parque Olímpico, na baía de Homebush, sede dos principais eventos esportivos. Carros particulares não serão aceitos na região. O sistema utiliza 3.500 ônibus, conduzidos por cerca de 5.000 motoristas.
Os condutores já haviam conseguido um bônus salarial de R$ 312 para trabalhar na Olimpíada. Mas agora exigem melhores condições de trabalho. Segundo a TWU (Transport Workers Union), o sindicato da categoria, as condições não têm sido adequadas.
Com os ônibus circulando por 24 horas, os motoristas estão trabalhando em dois turnos de 12 horas por dia. No intervalo, são acomodados em quartos para oito pessoas. A comida servida tem sido apenas uma maçã e uma garrafa de água. Na única vez em que foi distribuída uma marmita com comida quente, sobrou desorganização: as refeições foram encaminhadas para 750 pessoas, mas faltaram 250 marmitas.
"Os motoristas sofrem uma enorme pressão pública e ainda não podem ter oito horas de sono e uma refeição decente por dia", disse Tony Sheldon, da TWU.
"Estamos fazendo de tudo para tentar manter em alta o moral desses homens e mulheres, mas está difícil. Será um desafio a Sydney-2000", escreveu Michael Keegan, representante dos motoristas, em carta enviada ao Socog (comitê organizador dos Jogos).
"Os motoristas são muito importantes, e estamos preocupados com eles", disse Paul Welloughby, porta-voz da Orta (sigla em inglês para a empresa de transporte da cidade).
Entre os motoristas selecionados para trabalhar nos Jogos, 2.000 são oriundos de outras cidades australianas. Eles dizem que vão deixar Sydney a partir de amanhã, se a situação não for resolvida. Os outros trabalhadores vão cruzar os braços. A Orta diz que vai negociar uma solução para o caso com o Socog.
O comitê tem poucas alternativas para resolver o problema senão atender as exigências.
O programa de voluntariado foi esvaziado por duas razões: os voluntários não aceitaram mais trabalhar de graça enquanto motoristas profissionais estivessem ganhando bônus salarial, e o treinamento foi considerado rápido demais (dois dias) e inadequado.
Sem ônibus, o trânsito da cidade pára. Com ruas fechadas por motivos de segurança, poucas vias de acesso e muito mais carros circulando (o contigente de carros particulares cresceu mais de 30%), ficará quase impossível andar de carro. Os trens (275 composições) não têm capacidade para absorver os passageiros que iriam utilizar ônibus.
A própria imagem da Olimpíada, que começa oficialmente amanhã, está em jogo.
Em Atlanta-96, a cidade apresentou inúmeros problemas de trânsito. O sistema de metrô entrou em colapso, a principal estação de ônibus da cidade ficou isolada a maior parte do tempo e, por motivos de segurança, a polícia bloqueou a maior parte das ruas de Atlanta. Além disso, a distância entre os locais de competição era muito grande. A fila de espera por um ônibus, nos EUA, chegava a 35 minutos.
Ao se candidatar aos Jogos de 2000, Sydney prometeu solucionar tais problemas.
Desde 1993, 12 técnicos trabalharam na montagem do esquema de transporte de público e participantes dos Jogos.


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