São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2000

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JOSÉ GERALDO COUTO
Futuro do pretérito

Quando você estiver folheando este jornal, à mesa do café da manhã ou na sala de espera do dentista, provavelmente já estará sabendo o resultado de Brasil x Eslováquia, a estréia da seleção de Luxemburgo na Olimpíada.
Talvez tenha visto o jogo e possa comprovar se algumas previsões do treinador brasileiro se confirmaram. Vamos a elas (conjugo o verbo no futuro porque escrevo na quarta à noite):
1. A Eslováquia vai jogar fechada na defesa, com o lateral-esquerdo servindo como um terceiro zagueiro de área quando necessário. O Brasil terá que ter paciência para encontrar o caminho e o momento certos de chegar ao gol, para não se expor ao contra-ataque.
2. O Brasil vai marcar por pressão e explorar as laterais, principalmente a esquerda, pois o lado direito deles parece ser o mais vulnerável, graças às subidas do ala.
3. Ronaldinho e Geovanni devem jogar bem abertos, cada um numa ponta, mas quando o Brasil começar uma ofensiva, um dos dois atacantes deve fechar em diagonal em direção ao gol, para termos uma opção de penetração, em vez de deixar um "buraco" no meio do ataque.
4. Se a estratégia acima não estiver funcionando, Lucas poderá entrar para dar ao time uma maior presença na área eslovaca.
5. Os eslovacos não vão explorar sistematicamente o jogo aéreo. Ainda bem, acrescento eu, escaldado pelas falhas de colocação da zaga nos amistosos.
Se tudo correr/correu bem, o Brasil ganhará/ganhou com tranquilidade. Confere?
Antes de dobrar o jornal ou colocá-lo para forrar a casinha do cachorro, reserve um pensamento piedoso para os jornalistas que cobrem a Olimpíada.
Não me entenda mal: a comida aqui é ótima, os hotéis são confortáveis, o país é maravilhoso. O problema é o tal do fuso. Vivemos numa espécie de limbo do tempo. Vou tentar explicar.
Que horas são aí agora? Dez da manhã? Então aqui são 11 da noite (de quinta). Mas estou escrevendo na noite de quarta, enquanto você está, talvez, saindo de manhã para o trabalho ou para a escola. Pensar nisso dá uma certa vertigem. Um radialista que está em Sydney começa assim suas transmissões para o Brasil: "Alô, ouvintes, estamos falando diretamente do futuro".
Para nós, da imprensa escrita, a coisa é mais complicada. Estamos condenados a viver e escrever no futuro do pretérito.

Sobrou um centímetro para louvar a seleção feminina, que atropelou (passado simples) as poderosas suecas.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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