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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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FUTEBOL

Boas e más retrancas

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Após a partida contra a Colômbia, escrevi que o Brasil tem grandes chances de formar uma seleção inesquecível. Ainda não é, nem sei se será. Já é ótima, porque é quase o time do penta. Afirmei ainda que esse otimismo não era baseado no que o time jogou, e sim no que poderá jogar.
Os saudosistas e os que entendem do jeito que querem, e não o que está escrito, deturparam o que eu disse. Afirmei o óbvio. Como é difícil enxergar o óbvio. Uma seleção que tem vários dos mais experientes e melhores jogadores do mundo, mais confiantes após o penta, e uma nova e brilhante geração, tem grandes chances de evoluir e de se tornar eterna. Sem comparar, há lugar para outros jogadores e outras equipes na história.
A minha visão não mudou após a partida contra o Equador. Os craques não estavam inspirados e foram anulados pela retranca adversária. Há boas e más retrancas. A do Equador funcionou, com dez jogadores no seu campo e duas linhas de quatro.
Enfrentar uma equipe bem retrancada é difícil para todo time, em qualquer época. Na partida final pelas eliminatórias da Copa de 70, no Maracanã, o grande time do Brasil, com Pelé, sofreu para fazer um gol na retranca do Paraguai.
Contra o Equador, faltou, principalmente, uma melhor e mais constante marcação por pressão. Assim saiu o gol. Tomar a bola no outro campo é a melhor maneira de furar uma retranca. Não basta querer fazer isso. É preciso treinar. Pela primeira vez, vi um time dirigido pelo Parreira ter essa postura. Ótimo!
Nesse jogo, não funcionou o esquema com dois meias ofensivos e um centroavante, que deu tão certo na Copa. Ronaldinho e Rivaldo recuavam, mas os dois e o Zé Roberto não conseguiam driblar, tocar a bola e se aproximar do Ronaldo.
Se o Kleberson é o titular, como disse o Parreira, deveria jogar no seu lugar um volante com características parecidas, como Renato, principalmente contra times bastante defensivos. Emerson tem de ser o reserva do Gilberto Silva.
Kaká atuou bem nos dois jogos, o que não significa que já deve ser o titular. Atletas com muita mobilidade e velocidade sempre serão ótimas opções no segundo tempo. Os dois times estarão cansados e, se o adversário estiver perdendo, terá de avançar e deixar muitos espaços na defesa.
A seleção tem cinco excepcionais meias ofensivos, no mesmo nível, e, no momento, só vão atuar dois. Se Parreira escalar o que estiver melhor na semana, vai mudar a cada convocação.
A grande dificuldade do Parreira será utilizar as ótimas opções, no momento certo. Ao contrário do que se diz, é muito mais difícil ser técnico de um time de tantos craques para poucas posições.

Volantes são essenciais
Assim como existem laterais, zagueiros, meias e atacantes, volantes são também essenciais. Não são essenciais os volantes brucutus, que não têm a mínima habilidade e um razoável passe para iniciar um contra-ataque.
O técnico Marcelo Bielsa da Argentina fez nos dois jogos o que muitos queriam que o Parreira fizesse. Além dos três zagueiros e dois alas, ele escalou dois atacantes, dois meias e apenas um volante (Verón), que tem características de armador ofensivo.
Ficou um buraco no meio-campo. O Chile fez dois gols em tabelas pelo meio e poderia ter feito outros. Até a Venezuela criou várias chances por esse setor.
Se o técnico não mudar, a Argentina poderá repetir a má campanha do Brasil na última eliminatória. Os supersticiosos vão dizer que isso trará sorte na Copa.

O tempo passa
Há 33 anos, a seleção de 70 jogava com três no meio-campo (Clodoaldo, Gérson e Rivellino), dois atacantes que recuavam para receber a bola (Pelé e Jairzinho) e um fixo na frente (Tostão). A atual tem o mesmo esquema: três no meio, dois meias ofensivos e um centroavante.
Naquela época, como agora (com Kleberson ou Renato), havia um volante mais recuado (Clodoaldo) e dois armadores (Gérson e Rivellino), com funções defensivas e ofensivas. A filosofia era a mesma: recuar quando perdesse a bola, fechar os espaços e valorizar a posse de bola. Em 70, Parreira era preparador físico, e Zagallo, técnico.
Como se vê, o tempo passa e as coisas pouco mudam. Vão e voltam. Pouco se cria, muito se copia.


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