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FUTEBOL
Boas e más retrancas
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Após a partida contra a Colômbia, escrevi que o Brasil
tem grandes chances de formar
uma seleção inesquecível. Ainda
não é, nem sei se será. Já é ótima,
porque é quase o time do penta.
Afirmei ainda que esse otimismo
não era baseado no que o time jogou, e sim no que poderá jogar.
Os saudosistas e os que entendem do jeito que querem, e não o
que está escrito, deturparam o
que eu disse. Afirmei o óbvio. Como é difícil enxergar o óbvio.
Uma seleção que tem vários dos
mais experientes e melhores jogadores do mundo, mais confiantes
após o penta, e uma nova e brilhante geração, tem grandes
chances de evoluir e de se tornar
eterna. Sem comparar, há lugar
para outros jogadores e outras
equipes na história.
A minha visão não mudou após
a partida contra o Equador. Os
craques não estavam inspirados e
foram anulados pela retranca adversária. Há boas e más retrancas. A do Equador funcionou,
com dez jogadores no seu campo e
duas linhas de quatro.
Enfrentar uma equipe bem retrancada é difícil para todo time,
em qualquer época. Na partida final pelas eliminatórias da Copa
de 70, no Maracanã, o grande time do Brasil, com Pelé, sofreu para fazer um gol na retranca do
Paraguai.
Contra o Equador, faltou, principalmente, uma melhor e mais
constante marcação por pressão.
Assim saiu o gol. Tomar a bola no
outro campo é a melhor maneira
de furar uma retranca. Não basta
querer fazer isso. É preciso treinar. Pela primeira vez, vi um time
dirigido pelo Parreira ter essa
postura. Ótimo!
Nesse jogo, não funcionou o esquema com dois meias ofensivos e
um centroavante, que deu tão
certo na Copa. Ronaldinho e Rivaldo recuavam, mas os dois e o
Zé Roberto não conseguiam driblar, tocar a bola e se aproximar
do Ronaldo.
Se o Kleberson é o titular, como
disse o Parreira, deveria jogar no
seu lugar um volante com características parecidas, como Renato,
principalmente contra times bastante defensivos. Emerson tem de
ser o reserva do Gilberto Silva.
Kaká atuou bem nos dois jogos,
o que não significa que já deve ser
o titular. Atletas com muita mobilidade e velocidade sempre serão ótimas opções no segundo
tempo. Os dois times estarão cansados e, se o adversário estiver
perdendo, terá de avançar e deixar muitos espaços na defesa.
A seleção tem cinco excepcionais meias ofensivos, no mesmo
nível, e, no momento, só vão
atuar dois. Se Parreira escalar o
que estiver melhor na semana,
vai mudar a cada convocação.
A grande dificuldade do Parreira será utilizar as ótimas opções,
no momento certo. Ao contrário
do que se diz, é muito mais difícil
ser técnico de um time de tantos
craques para poucas posições.
Volantes são essenciais
Assim como existem laterais,
zagueiros, meias e atacantes, volantes são também essenciais.
Não são essenciais os volantes
brucutus, que não têm a mínima
habilidade e um razoável passe
para iniciar um contra-ataque.
O técnico Marcelo Bielsa da Argentina fez nos dois jogos o que
muitos queriam que o Parreira fizesse. Além dos três zagueiros e
dois alas, ele escalou dois atacantes, dois meias e apenas um volante (Verón), que tem características de armador ofensivo.
Ficou um buraco no meio-campo. O Chile fez dois gols em tabelas pelo meio e poderia ter feito
outros. Até a Venezuela criou várias chances por esse setor.
Se o técnico não mudar, a Argentina poderá repetir a má campanha do Brasil na última eliminatória. Os supersticiosos vão dizer que isso trará sorte na Copa.
O tempo passa
Há 33 anos, a seleção de 70 jogava com três no meio-campo (Clodoaldo, Gérson e Rivellino), dois
atacantes que recuavam para receber a bola (Pelé e Jairzinho) e
um fixo na frente (Tostão). A
atual tem o mesmo esquema: três
no meio, dois meias ofensivos e
um centroavante.
Naquela época, como agora
(com Kleberson ou Renato), havia um volante mais recuado
(Clodoaldo) e dois armadores
(Gérson e Rivellino), com funções
defensivas e ofensivas. A filosofia
era a mesma: recuar quando perdesse a bola, fechar os espaços e
valorizar a posse de bola. Em 70,
Parreira era preparador físico, e
Zagallo, técnico.
Como se vê, o tempo passa e
as coisas pouco mudam. Vão e
voltam. Pouco se cria, muito se
copia.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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