São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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Ba-Vi expõe ocaso de Salvador

Na terceira divisão, dupla mais famosa da cidade se junta ao cenário de terra arrasada dos clubes pequenos, que deixa a capital baiana nanica

Eduardo Martins - 10.set.05 - Agência A Tarde
Torcedor do Vitória segura imagem de Padre Cícero na partida que decretou a queda do clube


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é só por sua dupla mais famosa que o futebol de Salvador vive um clima de fim de feira.
A desgraça de Bahia e Vitória, rebaixados no sábado para a terceira divisão nacional, junta-se ao cenário de terra arrasada dos demais clubes da cidade.
Um dos maiores municípios do país tem hoje, entre as capitais, mais clubes profissionais na ativa só do que a pequena Vitória (ES).
Além da dupla Ba-Vi, nenhum outro time soteropolitano disputou uma competição adulta em 2005. Isso numa cidade que monopolizou as inscrições no Campeonato Baiano, que já é centenário, por quase 50 temporadas.
Equipes modestas que paparam mais de 20 títulos estaduais estão totalmente desativadas ou jogando apenas nas categorias de base.
A lista registra Botafogo, Galícia, Ypiranga e Leônico como nomes principais. E os dirigentes dessas agremiações apontam o dedo para os times grandes, hoje também agonizantes, como culpados pela situação de falência da bola de Salvador.
"Eles são os responsáveis pelo que estão vivendo. Fizeram de tudo para acabar com os pequenos, fazendo tabelas fajutas e contando com a ajuda das arbitragens. Com o Estadual debilitado, passaram a montar times só para o Nacional, e isso os enfraqueceu", diz Wilson Ferreira, presidente do Botafogo, que tinha status de grande em Salvador na primeira metade do século passado.
"Com o fim dos pequenos, o futebol da Bahia entrou ladeira abaixo", afirma Bernardo Improta, presidente do Ypiranga, que completa em 2006 seu centenário bem longe do profissionalismo. O clube tem e teve torcedores ilustres -o mais famoso deles era o escritor Jorge Amado.
"A situação do Galícia é resultado da atitude predatória de Bahia e Vitória", reclama Olegário González, vice-presidente de marketing do clube da colônia espanhola em Salvador.
Ferreira, no Botafogo desde 1945 (tem hoje 84 anos), ironiza quem chamava a dupla Ba-Vi de locomotiva da capital baiana.
"Diziam que Bahia e Vitória eram as locomotivas que puxavam os vagões [os times pequenos]. Só que, sem vagões, uma locomotiva não vale para nada", diz o cartola, que vê chances remotas de Salvador aumentar sua lista de clubes profissionais na ativa. "Só estou aqui para preservar a história. Não temos condição alguma de voltar ao profissionalismo do jeito que está o futebol atual."
O Ypiranga até gostaria de jogar o Estadual no seu centenário, mas espera um convite para isso. "Não dá para disputar segunda divisão. É um torneio muito mixuruca", afirma Improta.
Já o Galícia tem planos mais ambiciosos, turbinados ainda pela situação precária dos grandes. "Agora que está todo mundo na lama, é hora de colocar a cabeça para fora", diz González.
As queixas dos cartolas dos clubes pequenos são defendidas por Ednaldo Rodrigues, o presidente da Federação Baiana. "Bahia e Vitória começaram um movimento para acabar com o Campeonato Baiano. Escalaram times mistos no torneio e chegaram a jogar um Ba-Vi com equipe de juniores. Eu alertei que o insucesso no Brasileiro poderia acontecer", disse o cartola para a imprensa local.
A derrocada do Estado que ganhou fama como campeão de bilheteria virou assunto até para políticos importantes.
"Toda crise pode ser o grande início para uma verdadeira solução. É hora de ter humildade para reconhecer a fase difícil e encarar os desafios de frente", discursa João Henrique (PDT), o prefeito de Salvador.
Já o governador Paulo Souto (PFL) se diz muito triste com o rebaixamento de Bahia e Vitória e afirma lamentar a situação.


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