São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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FUTEBOL

A bola não enxerga

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Tevez foi preconceituoso ao dizer que as mulheres não podem apitar clássicos. Há homens e mulheres competentes e incompetentes em todas as profissões. Isso é um fato. Outro são os constantes erros da árbitra Silvia Regina. Já as assistentes Ana Paula e Maria Eliza têm tido boas atuações.
Os erros e as grosserias de alguns árbitros e a violência de muitos zagueiros são lamentáveis e precisam ser punidas. Infelizmente, são práticas comuns no futebol brasileiro contra todos os atacantes, não somente contra o Tevez.
Tevez recebe mais faltas duras do que outros excelentes atacantes porque procura o contato físico, joga de costas para o zagueiro e segura demais a bola, não por ser argentino. Essas características são deficiências do atacante, não virtudes.
Os grandes atacantes são os que se afastam dos zagueiros e, antes de a bola chegar, os enganam com os movimentos do corpo e com o olhar. Quando um defensor tenta desarmá-lo ou derrubá-lo, já era. O atacante está longe ou toca para o companheiro e vai receber a bola na frente ou domina e finaliza rápido.
Por isso, Romário estava sempre livre para finalizar.
Não é a bola que procura o artilheiro. A bola não enxerga. É o artilheiro que antevê o passe e sabe antes dos zagueiros aonde a bola vai chegar. Como ele sabe? Sabendo. Existe um saber que antecede ao raciocínio lógico.
Tevez tem muitas virtudes, é um excelente atacante, como outros que atuam no Brasil do meio para frente (Petkovic, Felipe, Roger, Fernandão, Amoroso, Ricardinho, Giovanni e Alex Dias). Mas, no meu conceito, craques são Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Robinho, Adriano, Kaká, Henry, Shevchenko, Zidane, Totti e poucos outros.

Básico e essencial
Após a saída do Fred, não há mais no Cruzeiro um jogador especial, como têm as outras equipes que disputam o título.
Como houve negociações durante meses do Cruzeiro com vários clubes da Europa, era esperado que o Cruzeiro agisse rápido para substituir o Fred.
Foi o que fez o São Paulo quando contratou Amoroso para o lugar do Grafite. Isso foi fundamental na conquista da Taça Libertadores da América. Mas os Perrellas só pensam nos juros do dinheiro.
O promissor técnico Paulo César Gusmão tem também pisado na bola nas substituições durante as partidas. Ele tenta sempre fazer algo diferente, que impressione. Quer mostrar um conhecimento e uma experiência que ainda não tem.
O fato me lembra alguns alunos que tive na faculdade de medicina, que sabiam todos os mínimos detalhes de coisas raras e/ou sem importância e desconheciam as coisas básicas, essenciais e freqüentes.
Em qualquer atividade, os craques são os que dominam profundamente o que é comum e que utilizam, no momento certo, o que é raro.

Perfeição
Será que os seis primeiros do Brasileirão vão formar um bloco separado na disputa pelo título? Ainda é cedo para dizer.
Muitos belíssimos gols têm acontecido no campeonato, e a média continua altíssima (3,1 gols por partida).
Os técnicos descobriram o óbvio, que uma vitória vale mais do que três empates, já que o número de vitórias é o primeiro critério de desempate.
Por outro lado, as defesas continuam desprotegidas. O ideal é fazer muitos e sofrer poucos gols. Não é fácil. Mas é preciso buscar essa eficiência. O líder Fluminense é o time com melhor saldo de gols (17). Marcou 47 e sofreu 30.
Tempos atrás, assistia a um show do João Gilberto e o espetáculo foi interrompido por causa das reclamações do cantor do som do teatro. Uma pessoa da platéia perguntou: "João, você acredita na perfeição?". Ele respondeu: "Não, mas a imperfeição me incomoda muito".

Não acabou
É ruim para o futebol brasileiro e muito triste, principalmente para a Bahia, ver os seus dois principais times na terceira divisão. As razões dessa queda são certamente múltiplas, decorrentes de más administrações e de incompetência das comissões técnicas na formação dos elencos. Mas o futebol não acabou na Bahia. É preciso reagir. Já!


E-mail: tostao.folha@uol.com.br

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