São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2011

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ANÁLISE

O Argentino, um dos piores do mundo

A fórmula com 2 campeões por temporada resulta em intolerância e baixíssimo nível técnico

JUAN PABLO VARSKY
COLUNISTA DA FOLHA

O primeiro torneio curto de futebol argentino foi disputado no segundo semestre de 1991, há exatamente 20 anos. O vencedor foi o River Plate, comandado por Daniel Passarella. Hoje, o campeão daquele torneio caiu à segunda divisão, um trauma para seus torcedores e para todo o ambiente futebolístico do país.
Depois do título conquistado uma vez mais pelo River, na temporada 89/90 (os campeonatos argentinos têm o calendário invertido, ao modo europeu, desde 1985), Carlos Heller, dirigente do Boca Juniors, teve a ideia de realizar dois campeonatos por ano.
O motivo? Seu time já acumulava nove anos de frustração e não conseguia dar alegria aos torcedores. Com dois títulos disputados a cada ano, as chances da equipe dobrariam. Com apoio dos times pequenos, que também apostaram na ilusão dos títulos em dobro, a AFA aceitou a proposta. Com isso, o Boca pôde voltar a celebrar um título no Apertura de 1992, saindo da fila após 11 anos.
Esse formato de campeonato facilitou as vitórias de Lanús (2007), Banfield (2009), Argentinos Juniors (2010). Permitiu ao Racing pôr fim a 35 anos de espera, em 2001. Mas também registrou momentos de hegemonia pelos grandes. Entre julho de 1996 e dezembro de 2000, River (cinco) e Boca (três) conquistaram oito dos nove títulos disputados.
Em 20 anos, o futebol argentino teve 11 campeões. Essa democratização de vencedores tem pontos criticáveis.
Hoje, basta jogar bem por quatro meses para ser campeão. A curta duração conspira contra os projetos, promove a histeria e a intolerância. O sistema de média de pontos para definir o rebaixamento é injusto. Não castiga o time por uma má campanha e obriga os times que subiram a conquistar ao menos 50 pontos por temporada se desejam evitar problemas.
O torcedor fanático, que só quer saber de resultados e não da qualidade do futebol; as torcidas organizadas, cujas conexões políticas as tornam imbatíveis; a falta de formação de jogadores, treinadores, dirigentes e jornalistas; e esse sistema decadente de competição fazem do futebol argentino um dos piores campeonatos do mundo. Competitivo e parelho, sim, mas de baixíssimo nível técnico.
O rebaixamento do River, o time com maior número de títulos argentinos, tanto no geral quanto nesse formato, serve para encerrar o ciclo.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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