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"Se não mudasse, teria parado", diz Filó
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ericléia Bodziak, a Filó, 32 anos,
sabe como poucos que sucesso repentino e falta de orientação podem ameaçar a carreira de atleta.
Campeã mundial juvenil em 1989,
a jogadora não soube lidar com o
prestígio e quase deixou o vôlei.
"Ela tinha um grande potencial,
era a mais alta do país na época.
Fez um grande campeonato, era
titular, tinha um ataque muito
forte", disse Antônio Rizzola, assistente-técnico do time de 1989.
Após a conquista do Mundial,
aos 18 anos e com 1,92 m, a jogadora recebeu proposta da Lufkin,
um dos principais times do país.
Sob os holofotes, não soube lidar com a nova situação e se envolveu com álcool e cocaína.
A carreira balançou.
Mesmo com Filó enfrentando
esses problemas, o então técnico
da seleção, Bernardinho, decidiu
dar um voto de confiança: convocou-a para os Jogos de Atlanta-96.
"Todo mundo que passa por
um problema merece ajuda. Ela
nunca contagiou o grupo com
energia negativa, pelo contrário,
sempre foi muito positiva. A Filó
era reserva, mas sempre que entrava, resolvia", disse o treinador.
Filó "resolveu" em dois momentos importantes para o Brasil
nos Jogos. Na semifinal, contra
Cuba, impediu que Regla Torres
batesse em Ana Paula na confusão após a derrota brasileira.
No jogo seguinte, marcou o
ponto decisivo contra a Rússia e
garantiu a medalha de bronze.
Mas a glória pós-Olimpíada
perdeu o sentido três meses depois da volta ao Brasil. Com a
morte de seu pai, veio a depressão
e novamente a dependência.
Filó começou a dar a volta por
cima em 1998. Um acidente de
carro e um convite de Isabel -no
ano seguinte- para jogar no Flamengo a fizeram pensar em retornar ao vôlei e deixar o vício.
Em 2001, a jogadora voltou à
quadra defendendo o Rexona
-tem contrato até abril de 2002.
"Se não mudasse, teria parado
há dois anos. As pessoas deixam
de ter confiança e respeito por
uma atleta que não é atleta", disse.
A decisão de apostar novamente em Filó foi tomada pela comissão técnica do Rexona.
"Sempre acreditei nela. Ela passou altos e baixos, mas pode ter
um fim de carreira brilhante. Pode estourar novamente", disse
Bernardinho, agora coordenador
de projetos sociais do clube.
"Fico feliz por ela ter voltado.
Foi um pecado a Filó ter sofrido
com problemas pessoais. Acho
que foi só por isso que não continuou na seleção", disse Rizzola,
que tentou levá-la para o São Caetano no ano passado.
Filó não gosta de falar sobre os
problemas que enfrentou. No lugar das más lembranças, prefere
comemorar a nova fase "limpa".
Uma de suas principais preocupações agora é cuidar da filha
Yasmim, de 6 anos: "Quero ser
uma mãe melhor para ela".
Depois dos problemas que enfrentou, Filó se orgulha de ter
mantido só um vício: quindim.
"Troquei um vício ruim por um
bom", disse a ponta, que em seu
aniversário de 32 anos -em 26
de setembro- pediu quindim
para as companheiras do Rexona.
Resignada, aceitou comemorar
com um bolo de morango.
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