São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2001

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"Se não mudasse, teria parado", diz Filó

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ericléia Bodziak, a Filó, 32 anos, sabe como poucos que sucesso repentino e falta de orientação podem ameaçar a carreira de atleta. Campeã mundial juvenil em 1989, a jogadora não soube lidar com o prestígio e quase deixou o vôlei.
"Ela tinha um grande potencial, era a mais alta do país na época. Fez um grande campeonato, era titular, tinha um ataque muito forte", disse Antônio Rizzola, assistente-técnico do time de 1989.
Após a conquista do Mundial, aos 18 anos e com 1,92 m, a jogadora recebeu proposta da Lufkin, um dos principais times do país.
Sob os holofotes, não soube lidar com a nova situação e se envolveu com álcool e cocaína.
A carreira balançou.
Mesmo com Filó enfrentando esses problemas, o então técnico da seleção, Bernardinho, decidiu dar um voto de confiança: convocou-a para os Jogos de Atlanta-96.
"Todo mundo que passa por um problema merece ajuda. Ela nunca contagiou o grupo com energia negativa, pelo contrário, sempre foi muito positiva. A Filó era reserva, mas sempre que entrava, resolvia", disse o treinador.
Filó "resolveu" em dois momentos importantes para o Brasil nos Jogos. Na semifinal, contra Cuba, impediu que Regla Torres batesse em Ana Paula na confusão após a derrota brasileira.
No jogo seguinte, marcou o ponto decisivo contra a Rússia e garantiu a medalha de bronze.
Mas a glória pós-Olimpíada perdeu o sentido três meses depois da volta ao Brasil. Com a morte de seu pai, veio a depressão e novamente a dependência.
Filó começou a dar a volta por cima em 1998. Um acidente de carro e um convite de Isabel -no ano seguinte- para jogar no Flamengo a fizeram pensar em retornar ao vôlei e deixar o vício.
Em 2001, a jogadora voltou à quadra defendendo o Rexona -tem contrato até abril de 2002.
"Se não mudasse, teria parado há dois anos. As pessoas deixam de ter confiança e respeito por uma atleta que não é atleta", disse.
A decisão de apostar novamente em Filó foi tomada pela comissão técnica do Rexona.
"Sempre acreditei nela. Ela passou altos e baixos, mas pode ter um fim de carreira brilhante. Pode estourar novamente", disse Bernardinho, agora coordenador de projetos sociais do clube.
"Fico feliz por ela ter voltado. Foi um pecado a Filó ter sofrido com problemas pessoais. Acho que foi só por isso que não continuou na seleção", disse Rizzola, que tentou levá-la para o São Caetano no ano passado.
Filó não gosta de falar sobre os problemas que enfrentou. No lugar das más lembranças, prefere comemorar a nova fase "limpa".
Uma de suas principais preocupações agora é cuidar da filha Yasmim, de 6 anos: "Quero ser uma mãe melhor para ela".
Depois dos problemas que enfrentou, Filó se orgulha de ter mantido só um vício: quindim.
"Troquei um vício ruim por um bom", disse a ponta, que em seu aniversário de 32 anos -em 26 de setembro- pediu quindim para as companheiras do Rexona. Resignada, aceitou comemorar com um bolo de morango.



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