São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Em ritmo de treino

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Os meninos da Vila golearam o Cruzeiro em ritmo de coletivo no Mineirão.
Três coisas acentuaram a atmosfera de treino: o vazio das arquibancadas, a apatia do Cruzeiro e a tranquilidade dos santistas (muitos deles jogando pela primeira vez no Mineirão).
O Santos mandou na partida desde o começo. Terminou o primeiro tempo com dois gols de vantagem e poderia ter feito mais, pois Robinho perdeu, praticamente na pequena área, o gol mais feito da tarde.
Wanderley Luxemburgo não demorou para tomar uma atitude, colocando em campo dois jogadores rápidos e habilidosos -Alessandro e Joãozinho-, mas o time não reagiu.
No segundo tempo, esperava-se que o Cruzeiro partisse para cima do Santos desde o início. O que se viu, entretanto, foi um jogo em câmera lenta.
Poucas vezes Alex e seus companheiros se mostraram tão abatidos e sem imaginação como na tarde de ontem.
Diante da nulidade que foi o Cruzeiro, os garotos santistas mostraram calma e maturidade, administrando o jogo e partindo na hora certa para os contragolpes. Tiveram mais oportunidades de gol (aproveitaram duas) do que o Cruzeiro, que só fez o seu graças a um belíssimo chute de longa distância de Joãozinho.
Se o time de Luxemburgo não acordar logo, vou queimar minha língua: quando o Cruzeiro começou a reagir no torneio, escrevi que ele ficaria entre os oito classificados. Ainda dá, mas será preciso muito trabalho e, principalmente, uma mudança de espírito.
O Santos de Leão, por sua vez, mostrou que está pronto para disputar o título brasileiro. Ainda tem fragilidades e vacilos, mas é, com certeza, o melhor time formado na Vila desde a equipe vice-campeã nacional de 1995, da qual o último remanescente, salvo engano, é o meia Robert.

 

Foi, em geral, uma rodada boa para os "grandes" paulistas. Três deles tiveram ótimas vitórias fora de casa: o Santos sobre o Cruzeiro, o Corinthians sobre o Gama (de virada) e o São Paulo sobre o Figueirense. A única exceção foi o Palmeiras, que empatou em casa com o Juventude e voltou à lanterna do campeonato.
A dor dos palmeirenses deve ser ainda maior quando olham para a classificação e vêem São Caetano, Santos, Corinthians e São Paulo nas primeiras colocações.
Como se não bastasse a má colocação, o time ainda arrumou confusão com a polícia e viu um de seus melhores jogadores, Pedrinho, envolvido com suspeita de doping.

 

Juro que tento ficar algumas colunas sem falar de Kaká, mas não tem sido possível.
O garoto faz a diferença em todas as partidas. Movimenta-se pelo campo todo, acredita em todas as divididas, joga de cabeça erguida, senhor do tempo e do espaço dentro das quatro linhas.
Seu gol na partida de sábado contra o Figueirense foi exemplar de seu futebol límpido e objetivo: iniciou a jogada, passou para Luís Fabiano e continuou correndo em direção ao gol; quando a bola sobrou no meio da área ele estava lá. Teve calma para driblar o goleiro e marcar.
Talvez seja exagero dizer que Kaká é "meio time" do São Paulo. Mas acho que se pode dizer que ele representa uns 30%.

Pedrinho, o triste

O calvário de Pedrinho parece não ter fim. Como se não bastassem as sucessivas contusões, que prejudicaram uma carreira brilhante e um provável lugar nas seleções olímpica e principal, agora quem o acossa é o fantasma do doping. Se foi mesmo um antidepressivo que causou o resultado positivo do teste, não é de se admirar. Afinal, motivos para a depressão é que não lhe faltam.

Desequilíbrio

Dos oito clubes que estão na zona de classificação, nada menos que seis são paulistas. Claro que muita coisa ainda pode mudar nas rodadas que restam da primeira fase, mas dificilmente menos de três equipes de São Paulo passarão às quartas-de-final. O carioca melhor colocado é o Botafogo (15º). Para além dos bairrismos rasteiros, este me parece um fenômeno digno de estudo e de reflexão.

E-mail jgcouto@uol.com.br

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