São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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JUCA KFOURI

Memórias, drogas, violência


Os anos passam e algumas coisas, em vez de melhorar, conseguem até piorar em nosso pobre rico futebol


LULA COMEÇAVA a governar.
Iria assinar a primeira lei sancionada em seu governo, o Estatuto do Torcedor. Única lei aprovada por unanimidade na gestão anterior, de FHC, tamanha a sua obviedade. Temo até já ter contado o episódio aqui, mas a ocasião permite repetir, se for o caso.
Recebo uma ligação do chefe de gabinete da presidência da República, Gilberto Carvalho. Que me pergunta: "Você vem para a solenidade de assinatura do Estatuto?".
"Não, não vou, não gosto dessas coisas", respondi.
"Pois o presidente gostaria que você viesse", Carvalho replicou.
Fui.
Fui para ouvir o presidente dizer na abertura de seu discurso: "Nunca mais vamos ouvir o jornalista Juca Kfouri dizer que no Brasil torcedor é tratado feito gado".
Claro que não era apenas eu que dizia, mas ele havia me escolhido para simbolizar os jornalistas que mexem nas feridas, pois terminou o discurso afirmando que minha presença no ato tinha a intenção de representar todos os que tinham sido processados, discriminados etc pela cartolagem nacional.
Desnecessário dizer que o torcedor brasileiro continua a ser tratados feito gado no Pacaembu, no Morumbi, no Maracanã e no Couto Pereira...
Tratado como animal e agindo como tal, como bem mostraram as imagens da torcida do Flamengo ao chegar ao Maracanã na última rodada do Brasileirão e as dos vândalos que pagaram apenas R$ 5 para ver o rebaixamento do Coritiba.
Lula errou em sua previsão e, pior, anda de braço dado com a cartolagem que, então, denunciou.
Nada se fez de concreto em sete anos de gestão para mudar tal estado de coisas e também os governadores, como Aécio Neves, José Serra e Sérgio Cabral, que até gostam de futebol, nada fizeram em seus Estados para melhorar o quadro.
Resta, portanto, já que não se previne, a punição. A punição exemplar que o Coritiba merece, por coincidência exatos 20 anos depois de ter sido administrativamente rebaixado pela CBF, mas por um W.O. em partida que deixou de jogar contra o Santos.
É pela impunidade de tantos outros que também deveriam ter sido e não foram que acontece a barbárie que aconteceu em Curitiba.
Do mesmo modo, o doping.
Temos uma legislação tão hipócrita que a cocaína e a maconha são punidas como dopantes e, no entanto, mesmo quando de fato o atleta é pego por uso de substância estimulante, o clube beneficiado pela concorrência desleal não é punido com a perda de pontos para o adversário prejudicado.
E antes que digam que cocaína é doping, leiam o que afirmou o especialista Eduardo de Rose, quase 15 anos atrás: "Hoje, modernamente, a cocaína não é mais um doping. Mas continua na lista pela conotação de droga social. Houve uma tentativa, na última reunião do Comitê Olímpico Internacional, de tirar a cocaína da lista, pois ela realmente não tem mais função em lista de doping esportivo. O problema é que ainda não se encontrou uma fórmula para retirá-la da lista sem que se passe a ideia ao público de que o uso de cocaína estaria permitido pelo COI".

blogdojuca@uol.com.br


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