São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2001

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FUTEBOL

Banco norte-americano, ex-parceiro do Vasco, não aceita fim de acordo

Empresa pede indenização de R$ 50 milhões por danos

DA SUCURSAL DO RIO

A VGL (Vasco da Gama Licenciamentos S/A) entrou ontem com uma contranotificação no Tribunal de Justiça do Rio pedindo a manutenção do contrato com o clube carioca.
No documento, os advogados Marcelo Ferro e Luiz Gomide alegam que a VGL também quer receber uma indenização por perdas e danos. De acordo com Ferro, a indenização deverá chegar a cerca de R$ 50 milhões.
""Foi uma decisão unilateral. Nós queremos continuar exercendo os nossos direitos até o final do contrato", disse Ferro.
""Uma pessoa não pode receber cerca de R$ 200 milhões em três anos e dizer que não quer mais trabalhar com a gente. Agora, vamos na Justiça garantir o nosso direito", acrescentou o advogado.
De acordo com Ferro, a VGL não é inadimplente com o clube carioca, acusação feita pelos dirigentes vascaínos. Segundo o advogado, o Vasco recebeu desde 1998, ano em que o contrato foi assinado, R$ 193.603.084,78.
""Como o Vasco estava gastando dinheiro demais, qualquer um quebrava", disse o advogado.
O Vasco está com salários atrasados no time de futebol e também nas modalidades de seu projeto olímpico.
Ferro contou que, inicialmente, o contrato dava à Vasco da Gama Licenciamentos S/A apenas poderes para negociar a marca do clube durante dez anos. Na época do acordo, a empresa pagou ao clube R$ 34 milhões.
Em seguida, um contrato de publicidade estática em todas as dependências do clube foi assinado com a VGL, que pagou R$ 17,5 milhões. Desde então, vários aditamentos foram feitos nos contratos, o que ampliou a parceria até 2024. Em 1999, a empresa pagou cerca de R$ 15 milhões ao Vasco para garantir a transferência do atacante Edmundo.
Com dinheiro em caixa, os dirigentes vascaínos gastavam muito, o que deu início a crise de relacionamento entre o clube e a empresa. Somente em 1999, o Vasco gastou cerca de R$ 18 milhões nos esportes olímpicos.
Para frear os gastos do clube, a diretoria da VGL chegou a mudar o sistema de repasse dos recursos ao Vasco. Inicialmente, o clube recebia diretamente. Depois, a VGL estipulou um orçamento.
Com a verba controlada, os dirigentes do Vasco decidiram desrespeitar o contrato e pegar dinheiro direto dos credores.
Agora, segundo Fernando Gonçalves, principal executivo da VGL, a disputa será na Justiça.
"Toda a expressão pública de opinião ficará a cargo de nossos advogados", disse Gonçalves, que sempre afirmou ser ex-atleta do clube e vascaíno.
A empresa quer que Eurico Miranda, presidente do clube e deputado federal pelo PPB-RJ, preste contas do que foi com o dinheiro injetado pela VGL.
Os negócios do deputado são alvo da CPI do Futebol, instalada no Senado. A comissão investiga duas empresas e uma casa, em um condomínio de luxo, que seriam de Eurico Miranda.
A suspeita dos senadores é de evasão de divisas e crime fiscal. Na Câmara, Eurico Miranda integra a CPI da CBF/Nike, mas pode ser cassado com base em um requerimento do deputado federal Pedro Celso (PT-DF).
Conforme revelou a Folha anteontem, o Vasco tem uma dívida de US$ 19 milhões (cerca de R$ 37 milhões) com a Globo Esportes, braço da Rede Globo que negocia direitos de transmissão de partidas na televisão.
Por conta da dívida, a Globo não está pagando ao clube pelo Estadual do Rio, ainda em andamento. O Vasco também não recebeu da emissora pelo torneio Rio-São Paulo.
Em nota divulgada ontem, o Vasco informou que vai interpelar judicialmente o diretor da Globo Esportes, Marcelo de Campos Pinto. Segundo o clube, o executivo deu declarações "caluniosas", que foram publicadas nos jornais de ontem, sobre a situação financeira do clube.
A Folha não conseguiu falar ontem com a Globo Esportes.


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