São Paulo, sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Especialista em doping da CBF fala em anabolizante

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

O médico Bernardino Santi, coordenador da CBF do controle de dopagem em SP, diz que a nova lesão de Ronaldo pode ser reflexo do programa alimentar que seguiu quando deixou o Cruzeiro para defender o holandês PSV, em 1994.
Ele afirma ter ouvido relatos de médicos holandeses dando conta do uso de anabolizantes e compara o crescimento físico do jogador a uma reforma em que as paredes e portas são renovadas, mas a fiação e a parte hidráulica continuam antigas.
"Conversei com colegas da Holanda que conhecem o pessoal do PSV. Não cheguei a conversar com os médicos do PSV. Eles tinham suplementado o Ronaldo, que era muito franzino. Dentro dessa suplementação incluíam algumas substâncias anabolizantes, que poderiam eventualmente fazer ele crescer um pouco mais, porque, afinal, os campeonatos europeus são muito duros."
Além de insistir que era uma estratégia do clube holandês, Santi afirma acreditar que Ronaldo não deve mais ter as substâncias em seu organismo.
"Não é que o anabolizante está no corpo dele até hoje. Não é isso. Mas é a conseqüência do risco de ter crescido demais, além do que a musculatura está preparada para crescer."
Segundo ele, a informação de que o PSV dava anabolizantes ao jogador não é inédita.
"Não são detalhes novos. É sobejamente conhecida a suplementação que eles faziam com o Ronaldo. E os indícios de suplementação com anabolizantes são muito grandes. Principalmente dez anos atrás, quando não havia ainda tanto controle de dopagem nos campeonatos europeus."
Para o médico, o fato de Ronaldo ter passado por tal tratamento quando ainda era adolescente agrava sua situação.
"Nele, as coisas são muito mais exacerbadas, primeiro pelo perfil histórico [ele já vem com lesões], segundo pela estruturação muscular que ele teve de uma forma muito rápida, quando ainda não havia acabado a maturidade dele. Um homem acaba de crescer por volta de 20 anos de idade. Ele, com 16 para 17, já estava na Holanda jogando e fazendo o tratamento. Há o crescimento do invólucro e o que está lá dentro não está acompanhando. É como você fazer uma reforma, pintar a casa, trocar a porta, bota fechadura legal, maçaneta de ouro e não trocar os canos hidráulicos, a fiação, nada lá dentro."
Ele minimiza o longo período entre a alegada ingestão de anabolizantes e a lesão. "A conta a ser paga pelo uso de esteróide anabolizante é a longo prazo, 10, 15, 20 anos depois. O esteróide leva a lesões estruturais dos órgãos, da musculatura. Num primeiro momento, há um ganho de qualidade, força e potência. Mas depois vai ter uma deterioração disso."
A reportagem tentou falar com o PSV, sem sucesso.


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