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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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BASQUETE

Manu de piedra

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Sebastian, cinco anos mais velho, e Leandro, sete, brilhavam na equipe do Bahiense del Norte. Ao caçula, restava lhe carregar as mochilas nos 200 metros que separavam a casa do clube.
Aos 17 anos, com os irmãos já estabelecidos na Liga Argentina, ele ainda amargava 1,65 m.
Praticamente desenganado para a prática do esporte de coração, insistiu. Aos conselhos do técnico ("fique longe do garrafão"), reagiu com treinos solitários de drible, infiltração e bandeja.
Em menos de dois anos, ganhou 25 cm e o convite inesperado do Reggio Calabria. Olheiros da modesta equipe italiana atinaram para o moleque que, ainda desengonçado, dominava a bola como poucos. E com a valiosa canhota.
De 1998 a 2002, Emanuel Ginóbili colecionou proezas. Melhor jogador da Itália, duas vezes melhor jogador da Euroliga, campeão europeu de enterradas e quatro taças no Kinder Bologna.
Em 1999, assim como os calabreses no ano anterior, os dirigentes do San Antonio Spurs resolveram apostar no argentino.
Foi a 57ª, a penúltima seleção do "draft" da NBA daquele ano. Investimento de risco, na definição do técnico Gregg Popovich. "Ele tinha pinta de vencedor."
Em 2002, veio a consagração. Liderou a Argentina na vitória histórica sobre os EUA e só parou no vice-campeonato mundial por causa de erros da arbitragem.
Contrato finalmente assinado com o San Antonio, teve um começo titubeante, atrapalhado por uma contusão no tornozelo.
Mas, de fevereiro para cá, Ginóbili superou a desconfiança dos colegas e revolucionou o jogo ultraconservador da equipe texana.
"A criatividade dele é maravilhosa. Às vezes me assusto, pois não sei qual jogada vai sair", confidencia Popovich. "A contragosto, admito, aprendi a soltá-lo."
Com médias de 10,6 pontos, 3,1 rebotes, 3,3 assistências e 2,4 desarmes saindo do banco de reservas, Ginóbili acaba de receber o prêmio de melhor calouro da Conferência Oeste em março.
Para ter chances de vencer, um time precisa atuar em harmonia. Os atletas devem conhecer o sistema de jogo e executá-lo organicamente, a fim de ocultar as fragilidades e exaltar as qualidades.
Mas, para alcançar o patamar de excelência, o feijão-com-arroz não basta. Os campeões temperam essa mistura com uma tremenda dose de imprevisibilidade.
Às vezes, o próprio craque assume o papel de elemento surpresa. Como, por exemplo, o Dallas do superalemão Dirk Nowitzki.
Em alguns casos, o imponderável cabe a um jogador geralmente deslocado do fluxo vital da bola. No Sacramento, Vlade Divac. No New Jersey, Richard Jefferson.
Outros, por fim, alternam medalhões e coadjuvantes. Caso do Los Angeles Lakers, não à toa o atual tricampeão, que goza do veneno do estrelado Kobe Bryant e do subestimado Robert Horry.
Tim Duncan, magnífico, garante estrutura de quadra ao San Antonio. Mas o pivô nunca foi capaz de fazer a equipe arder.
Um passe perfeito aqui, um desarme acolá, "Manu" é a pimenta que os texanos tanto perseguem desde o título meia-boca de 1999.

Chili 1
Justamente quando deu a Ginóbili mais tempo de quadra e trocou os tiros de três pontos pelas infiltrações, o San Antonio tomou embalo e praticamente selou a melhor campanha da primeira fase (59v e 21d até ontem), que acaba amanhã. Os mata-matas começam no sábado.

Chili 2
O sucesso do argentino coincidiu com a temporada de estréia da NBA no canal Telemundo, destinado à população latina dos EUA.

Chili 3
O armador de 25 anos, 1,98 m e 95 kg tem um site trilingue (espanhol, inglês e italiano): www.manuginobili.com. O brasileiro Nenê Hilário, do Denver, também já inaugurou o seu: www.nene31.com.

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