São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2011

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XICO SÁ

Meu time é fraco


Meu time é como aquele cara tímido que fica de escanteio no baile, ali colado na pilastra


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, meu time jamais jogará com duas linhas de quatro, mas isso é uma outra história, chiste de um cronista de boteco, vamos ao que interessa, o Tostão, mestre, que segure a brocha.
Em matéria de esquema, meu time é fraco, pusilânime, cardisplicente como o Antônio Maria ("ninguém me ama / ninguém me quer"), peito aberto, lirismo com 12 no ataque, romântico no último, sufocando a formosa dama com promessa de amor eterno, casa, comida, roupa lavada e Bilhete Único se der vontade de ir embora.
É, Maria dizia o seguinte: depois de 30 dias de felicidade, toda mulher sente vontade de ir embora.
Meu time, como diz aqui o palmeirense Moa, é como aquele cara tímido que fica de escanteio no baile, ali colado na pilastra, só carece de uma chance para mostrar seu futebol, seu fox trote, seu forrobodó, seu saracoteio.
Meu time é o do Pato, que sacanamente prometeu voto de castidade por um mês a Barbara Berlusconi, a filha do homem da comilança - lembre-se da fita italiana clássica-, conforme apurou o bravo "Corriere della Sera". Naquele ambiente familiar que cheira a máfia e sacanagem, o cara jura o mais difícil dos jejuns. Gênio apostólico romano.
Meu time é o do técnico Falcão, com ganas de jogar bonito, dublê do Barça, nosso grande fetiche. Se vai conseguir, são outros 500 réis, mas já vale pelo discurso, mesmo sabendo, como me ensinou o cancioneiro, da grande distância entre intenção e gesto.
A essa altura, se coçando, salta o Peninha, pedagogicamente conhecido como Eduardo Bueno: "Futebol-arte é coisa de veado". O melhor começo de livro sobre futebol de todas as eras. Assim o monstro inicia o título do Grêmio do selo editorial "Camisa 13". Meu time é o Horizonte, do Ceará, que vai tirar Flamengo e Ronaldinho de cena. Meu time é quase sempre alvinegro e trágico, como o glorioso Botafogo. Quase foi o Corinthians, mas um tio teve a ideia de me levar para um embate com o Santos.
Sim, sou Treze, sou Operário, cuja camiseta, amigo André, me presenteaste. É com uma indumentária em branco e preto que encubro, envergonhado pelas ruas, a dor que enjaulo na gaiola torácica. A vida, querido, não passa de uma tarde triste e bonita no Pedro Pedrossian ou na Baixada Melancólica, o nome mais digno de um estádio do universo, Santa Maria (RS), na Gurilândia da existência. Continua o jogo.

xico.folha@uol.com.br

@xicosa


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