São Paulo, quinta, 15 de abril de 1999

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FUTEBOL
Contrato do Estadual do Rio proíbe que times do segundo escalão exponham patrocínios em seus uniformes
"Pequenos' se rebelam contra TV no Rio

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Os times "pequenos" que disputam o Campeonato Estadual do Rio estão impedidos de assinar contratos para expor marcas publicitárias nos seus uniformes.
O veto está implícito no contrato de comercialização do Estadual assinado entre a Rede Globo e os quatro "grandes" (Fluminense, Vasco, Botafogo e Flamengo).
A revolta dos dirigentes dos "pequenos" (Bangu, Americano, Itaperuna, Olaria, Madureira e Friburguense) pode acabar nos tribunais. O presidente do Bangu, Jorge Varela, pretende processar a Globo após o campeonato.
No valor de R$ 21,5 milhões anuais, o contrato, válido por cinco anos, foi assinado em março, três dias antes do início do Estadual, entre a Globo e os "grandes".
Na semana seguinte, os seis "pequenos" (assim conhecidos por causa do pouco número de torcedores e por dispor de menores recursos) foram chamados para assinar termos de adesão ao contrato.
Nos termos de adesão, os clubes menores souberam que teriam que ceder o espaço nos uniformes dos atletas à emissora. Foi aberta exceção apenas a quem já tinha contrato firmado (caso do Olaria).
Já os grandes têm direito a aproveitar publicidades nos uniformes. O Flamengo, por exemplo, manteve a marca Lubrax. O Fluminense fechou contrato com a Unimed.
O vice-presidente do Vasco, Eurico Miranda, representante do clube na assinatura do contrato, confirmou e defendeu os termos do documento. "Ao assinar o contrato, os pequenos cederam o direito da publicidade nas camisas. O contrato impede que eles firmem novos contratos. Em troca, eles recebem uma remuneração."
A Folha tentou ouvir a Globo sobre a questão. A Central Globo de Comunicação -setor responsável por informações a órgãos de imprensa- chegou a anunciar, às 15h, que o departamento jurídico estava preparando texto explicando a posição da emissora.
Uma hora depois, houve uma mudança de planos. A Central Globo de Comunicação informou que a emissora decidira não mais se pronunciar sobre o caso.
O contrato prevê o pagamento aos clubes de R$ 6,5 milhões pela transmissão dos jogos e R$ 15 milhões pela comercialização de tudo o que for relacionado à competição, até mesmo as bilheterias.
Os "grandes" dividirão 84% do dinheiro. Os "pequenos", o restante. Ao Bangu, pelo termo de adesão, caberão 3,5% do valor total, cerca de R$ 750 mil, divididos em quatro parcelas.
Logo após assinar o termo de adesão, o Bangu conseguiu o patrocínio de uma empresa de Santa Catarina, o que lhe renderia R$ 150 mil até o fim do Estadual.
O dinheiro garantiria o pagamento de dois meses e meio de salários. Por causa do veto contratual, a empresa acabou desistindo.
O presidente do Bangu disse que só assinou o termo de adesão por não ter outras fontes de recurso.
"Foi um contrato altamente prejudicial para nós. Ele nos engessa para o futuro. Se eu quiser, não vou poder me associar a um banco, por exemplo. Mas, se não assinasse, não teria como gerar recursos de outras fontes."
Jorge Varela afirmou que, após o Estadual, planeja discutir a questão com os dirigentes dos outros "pequenos" e procurar a emissora na tentativa de rever os valores e cláusulas do contrato.
"Vamos ver se a Globo apresenta uma outra proposta. Quando o contrato foi assinado, o Estadual estava desacreditado. Hoje é um sucesso. Os valores têm que ser revistos. Caso contrário, acredito que não só o Bangu, mas todos os prejudicados entrarão na Justiça."



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