São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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MOTOR

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JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Barrichello pode ganhar no tapetão sua segunda vitória na F-1. Como noticiado pela imprensa alemã, a FIA estaria pronta para considerar como resultado final do GP da Áustria a ordem de classificação da penúltima volta, quando o brasileiro estava à frente de Michael Schumacher e o mundo esperava uma atitude romântica da Ferrari.
Para muitos, a informação é chute, boato ou até mesmo balão de ensaio para testar a opinião pública. Única razão, aliás, para o assunto ter sido incluído na pauta da reunião do Conselho Mundial, que já estava marcada para 26 de junho -quase um mês e meio depois da corrida, prazo suficiente para sentir os humores e avaliar o impacto de qualquer decisão.
E deve haver algum impacto, já que Max Mosley armou o circo, uma entrevista coletiva, para logo depois do encontro. O presidente da FIA normalmente faz isso quando tem algo a dizer ou, melhor, quer aparecer. A hipótese de uma atitude moralista da federação parece bem provável.
Moralista, atrasada e inócua. Uma sanção a Schumacher ou a Ferrari nesta altura do campeonato não terá efeito prático. Nem na tabela de pontos nem no moral ferrarista, que simplesmente não se abalou com a palhaçada de Zeltweg. A FIA esperou demais para decidir qualquer coisa. E qualquer que seja sua decisão, esta será externa ao regulamento, que nada prevê. Nem deveria.
O jogo de equipe é inerente ao automobilismo, pode ser discutido, criticado, condenado até, nunca proibido ou mesmo intimidado. Se o atual estado de coisas na F-1 o transformou em ferramenta de manipulação, como defendem alguns, quem deve ser abolido não é o jogo, mas o próprio conceito de equipe.
Schumacher tem um companheiro de time apenas porque o regulamento exige e, se não exigisse, seria uma estupidez não inscrever dois carros enquanto o resto do grid corre em dobro.
Barrichello, na lógica ferrarista, é apenas mais um recurso para empurrar Schumacher ao título. A Bridgestone, por exemplo, fornece pneus. E o brasileiro, uma razoável pilotagem, o trabalho de escudeiro e a tarefa de roubar pontos de rivais. A afirmação pode soar fria, cínica, mas é verdadeira. Zeltweg escancarou isso, gerou indignação. Mas nada disso é, diz o regulamento e a própria história da F-1, ilegal.
Não há como defender o que a Ferrari fez na Áustria. O julgamento público da escuderia e principalmente de Schumacher já foi realizado, todos sabemos o resultado. A FIA parece querer tirar proveito disso, outro fato lamentável. Qualquer atitude, punitiva ou não, deveria ter sido tomada logo depois da corrida. Mesmo um simples anúncio de repúdio teria efeito mais devastador do que ficar brincando de juiz, de senhor da verdade, apenas agora.
Punir exemplarmente o alemão também não adiantaria. Ainda mais neste momento, quando sua distância para os concorrentes é enorme. Seria uma inútil tentativa de puxar o tapete, mais ridícula que aquelas de 1994. Pior, poderia conferir ao provável pentacampeonato do alemão o brilho que até aqui não possui.
O erro da Ferrari é o erro da F-1, levar o esporte para um ponto onde ele não pode ser esporte. Julgar a escuderia é julgar a categoria, reconhecer que está tudo errado. A FIA não vai fazer isso.

Montreal
A reputação ferrarista vai de mal a pior. Fatos que antes eram traduzidos como simples bobagens de Barrichello já são entendidos como manipulação da escuderia. A não entrada do brasileiro para o pit no momento em que o safety car foi acionado, no Canadá, no último domingo, é um deles. Montoya parou e, pelas contas da Williams, ganharia se não quebrasse. Fizesse o mesmo, talvez Barrichello ganhasse, ou "ganhasse" em segundo, como aconteceu em Zeltweg. Gritaria ou não de torcedores brasileiros, o fato é que raramente a Ferrari erra nas contas. Só que errou dessa vez.

Le Mans
A Audi tenta hoje a terceira vitória consecutiva nas 24 Horas de Le Mans, a mais tradicional prova de longa duração do mundo. Desde que introduziu seu modelo R8 nas pistas, a fábrica alemã só experimenta triunfos. A classificação já mostra que a edição de 2002 não deve ser diferente: os três times oficiais encabeçam o grid.

E-mail mariante@uol.com.br



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