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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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ATLETISMO

Pela 1ª vez após Adhemar Ferreira, Nelson Prudêncio e João do Pulo, país aposta chances em prova feminina

Maurren herda status de astros do salto

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

País com poucos astros no atletismo, o Brasil sempre sobreviveu graças a talentos isolados, como Adhemar Ferreira da Silva, Nelson Prudêncio, João do Pulo, Joaquim Cruz e Róbson Caetano, todos medalhistas olímpicos.
Atualmente, a aposta do atletismo nacional para obter uma medalha nos Jogos de Atenas-2004 voltou a ser uma prova de saltos, retomando a tradição de Adhemar, Prudêncio e João do Pulo. Mas, pela primeira vez, as fichas estão depositadas em uma mulher: Maurren Higa Maggi, 26.
"Acho que a mulher foi ganhando naturalmente mais espaço no esporte", afirma Maurren, que salta hoje, na pista do Ibirapuera, em São Paulo, pelo Troféu Brasil.
"Minha família e meus amigos de São Carlos lotaram dois ônibus para vir me ver competir no domingo [hoje]", conta, orgulhosa.
Atenta aos seus antecessores, Maurren aponta o triplista Prudêncio -prata nos Jogos da Cidade do México-1968 e bronze em Munique-1972- como um dos exemplos que procurou seguir.
"Ele é de São Carlos, como eu. Quando comecei a competir, viajava com o Márcio, que é filho dele", conta, confundindo a cidade natal de Prudêncio, que nasceu em Lins, mas mora atualmente em São Carlos, onde dá aula na universidade federal da cidade.
"Nem imaginava que ela pensava isso. Acho que foi mais pela proximidade", devolve Prudêncio, que disputou a mais emocionante final do salto triplo, nos Jogos-1968, quando o recorde mundial foi quebrado nove vezes.
Maurren não encontra explicação para o Brasil ter tantos saltadores de destaque. "É como diz a música de Sandy e Júnior: "Vamos pular". Acho que é uma coisa da criança, que gosta de saltar", afirma, esboçando uma teoria.
A história de bons saltadores do país foi inaugurada por Adhemar, até hoje único bicampeão olímpico do Brasil (nos Jogos de Helsinque-1952 e de Melbourne-1956).
Prudêncio, que também foi bronze nos Jogos de Munique-72, sucedeu Adhemar e, quando esse deixou de competir, cedeu espaço a outro fenômeno, João do Pulo, bronze nas Olimpíadas de Montréal-1976 e de Moscou-1980.
Desde que João deixou de competir, porém, houve um hiato, com o Brasil não conseguindo obter marcas expressivas no salto em nível internacional. Foi a época do meio-fundista Joaquim Cruz, ouro nos 800 m em Los Angeles-1984 e prata em Seul-1988.
Nos Jogos sul-coreanos, outro brasileiro, Róbson Caetano, bronze nos 200 m, ganhou medalha. Desde então, o país nunca mais subiu ao pódio em uma prova individual olímpica no atletismo.
"A Maurren é a nossa maior aposta para os Jogos de Atenas", admite Roberto Gesta de Melo, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
Dona de cinco das seis melhores marcas do salto em distância em 2003, Maurren centra sua preparação para o Pan de Santo Domingo e o Mundial de Paris, ambos em agosto. Alguns acreditam que ela atinge o auge muito cedo. Das 29 melhores marcas de Maurren, que apareceu pela primeira vez no ranking da Iaaf em 1999, 19 foram feitas no primeiro semestre e só dez na metade final do ano.
"Hoje fazemos a preparação do atleta com ciclos mais curtos, mas sem grandes picos ao longo do ano. Antigamente o saltador fazia dois ciclos na temporada, hoje passa por cinco. Com isso, ela estará no auge em agosto", diz Nélio Moura, técnico da brasileira.
Rigorosa, Maurren disse ao treinador que poderia ter obtido resultado melhor do que os 6,70 m que lhe garantiu o bronze no Mundial indoor de Birmingham (Inglaterra), em março -foi a primeira brasileira medalhista neste tipo de competição.
"Estava com problemas pessoais. Poderia ter saltado mais", diz, sem esclarecer quais seriam eles -logo em seguida, viajou para a Malásia para ver o namorado, o piloto de F-1 Antonio Pizzonia.


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