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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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FUTEBOL

A vida não é só química

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Quando os jogadores de uma equipe estão bastante entrosados, como os do Cruzeiro e os do Santos, muitos treinadores dizem que houve um encaixe das peças. Adoram falar em reposição de peças. Parece oficina mecânica. Outros técnicos dizem que o time jogou por música. É mais poético, mas se tornou um clichê.
Só acredito na empatia, no amor em todas as suas formas e no entrosamento no futebol, quando ocorre à primeira vista, no primeiro olhar ou no primeiro jogo. Independentemente de tempo e de treinos. As características físicas e técnicas de uns atletas se combinam com as de outros.
A convivência e os treinamentos são muito importantes para melhorar e prolongar o entrosamento. Mas, se não houver afinidade no primeiro encontro, os jogadores podem treinar 500 anos que não vão se entender.
Alguns cientistas falam que o entrosamento só acontece, nas situações pessoais e de trabalho, quando a química de um combina com a do outro. A vida não é só isso. Há também afinidade de desejos, de sonhos e de ideologias.
Chega de filosofias de botequim. Discordo do conceito de que os técnicos têm sempre de escalar os melhores. Dois excelentes jogadores, com as mesmas características e jogando em posições e funções idênticas, não dão certo. Um atrapalha o outro. Alex não brilhou no Flamengo, principalmente, porque o time era muito desorganizado e ele e Petkovic ocupavam o mesmo lugar.
Kléber, Ricardinho e Gil se completam, no ataque e na defesa. Ricardinho e Gil ajudam na marcação, e os três aparecem juntos na frente. Tudo sincronizado. Na partida contra a Nigéria, houve também um bom entrosamento do lado direito, com Belletti, Kleberson e Ronaldinho, que já se conheciam.
Aconteceu também uma importante mudança tática na seleção. Em vez do Ronaldinho ser o quarto jogador de meio-campo pela direita, atacar e, depois, marcar no campo do Brasil, como nos dois amistosos anteriores, ele jogou mais avançado, na ligação entre o meio e o ataque, mais pela direita. Aí é o seu lugar.
Gil e Ricardinho voltavam para marcar até o meio-campo. Mais atrás havia uma linha de três armadores (Kleberson, Emerson e Ricardinho) protegendo os quatro defensores. Os nigerianos tiveram pouco espaço na defesa do Brasil. Quando o time recuperava a bola, todos avançavam, com exceção dos dois zagueiros e do Emerson. A equipe se entrosou no primeiro encontro. Sem treino.
Como o Parreira vai escalar o Alex? O jogador do Cruzeiro é um meia de ligação, como Ronaldinho, o craque da atual seleção. A posição do Alex é bem diferente da do Ricardinho. Para o Ronaldinho e o Alex jogarem juntos, teria de sair o Gil. Não sei se haverá encaixe ou se a química dos jogadores vai combinar.
O time perderia também o melhor trio pela esquerda do mundo, segundo o Parreira. Começo a desconfiar que o técnico não exagerou.
Não se pode também analisar os jogadores e a equipe por apenas um amistoso, contra um time que andou em campo, não marcou e que joga como nos anos 50. A Nigéria foi uma revelação na Copa de 94, ganhou a Olimpíada de 96 e parou no tempo.
Se os novos jogadores e a seleção brilharem nos próximos jogos, muitos vão ganhar um lugar no grupo que disputará as eliminatórias. Com o tempo, substituirão alguns craques do penta. Ninguém sabe quando isso vai acontecer. Ainda é cedo.

Altíssimos salários
A diretoria do São Paulo efetivou o Rojas e disse que só falará em técnico após 31 de dezembro. É perigoso dizer isso. De interino, Rojas passaria a ser o treinador com mais segurança no futebol brasileiro.
Se sempre critiquei a excessiva importância que se dá aos treinadores, na vitória e na derrota, tenho de aplaudir a decisão do São Paulo de se negar a pagar altíssimos salários por alguns treinadores, além da exigência de contratação de outros profissionais.
Os técnicos são importantes, mas o futebol brasileiro vive outra realidade. Além disso, atuam em clubes brasileiros somente dois técnicos diferenciados, Luxemburgo e Leão. Outros, como Rojas, estão mais ou menos no mesmo nível.
Isso é um fato. Outro foi a lentidão do São Paulo em contratar um treinador e a maneira deselegante como fritou e dispensou o Oswaldo de Oliveira.

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