São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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Dunga admite barrar estrelas

Técnico cita Pelé para falar que seleção brasileira pode vencer Copa mesmo sem Kaká e Ronaldinho

Treinador do time nacional diz que Robinho é jogador símbolo de sua era e afirma que não se importa em não ter uma imagem simpática


SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

Um é o melhor jogador do mundo eleito pela Fifa. O outro já ganhou o prêmio duas vezes (2004 e 2005), mas o técnico Dunga admitiu à Folha a possibilidade de a seleção brasileira disputar a Copa da África do Sul, em 2010, sem a presença dos meias Ronaldinho e Kaká.
"Vou falar uma coisa: o Pelé parou de jogar, e o Brasil continuou ganhando. Foi um pouco mais difícil, um pouco mais complicado, mas ganhamos. Isto é o ciclo da vida", disse Dunga, 44, em entrevista na Granja Comary, em Teresópolis.
"Cada um de nós tem simpatia por um determinado jogador. A grande verdade é o campo. O retângulo é que decide tudo. A teoria ajuda, mas a prática é o caminho. O Brasil já ganhou e perdeu com o Pelé. Ganhar e perder é da vida. Depende do momento", declarou.
O técnico disse que a seleção que enfrentará o Paraguai estaria pronta para tentar o hexacampeonato se a Copa da África do Sul fosse hoje. "Acredito neste time até pelos jogadores que tem e por sua capacidade."
Neste ano, a seleção só disputou quatro amistosos, obtendo três vitórias e uma derrota. Na porta do vestiário da concentração do Brasil na noite da última quinta, Dunga definiu Robinho como ""jogador-símbolo" da sua era no comando da seleção e reconheceu que não tem uma imagem simpática. "Pode me chamar de carrancudo e de chato. Tudo bem.
Quando me conhecem, sabem que não é nada disto. Gosto é de ordem, de disciplina."

 

FOLHA - Robinho é jogador-símbolo da era Dunga na seleção?
DUNGA
- O Robinho é a cara do povo e do futebol brasileiro. Não interessa a dificuldade, ele sempre está sorrindo e com vontade para jogar futebol. Ele tem aquele pensamento amador. Do cara que dá a bola, paga a passagem, que quer jogar. O Robinho é assim. Ele quer jogar e se divertir. Mesmo assim, faz tudo com seriedade. Ele tem prazer de estar aqui.

FOLHA - Está magoado com Kaká?
DUNGA
- Não.

FOLHA - Ele voltará à seleção na próxima convocação?
DUNGA
- Depende se ele estiver jogando no Milan. Desde o meu início na seleção e pelo que vi na Copa da Alemanha, todos falam que quem estiver melhor estará aqui. Tem que ter coerência. O cara tem que ter dedicação, trabalho...

FOLHA - Ele precisa voltar a jogar pela equipe do Milan?
DUNGA
- Condição, capacidade e qualidade, sabemos que ele tem. Mas tem de voltar a jogar.

FOLHA - E o Ronaldinho?
DUNGA
- Ele está na mesma situação. Tem que voltar a jogar. Na seleção, é rendimento. Respeito todos eles. Adoro todos, mas estou numa função que tenho que tomar uma decisão. Por isso, o cara que estiver jogando bem vai estar aqui.

FOLHA - Se a Copa fosse hoje, a seleção lutaria pelo título?
DUNGA
- A seleção sempre luta pelo título em qualquer competição. Acredito neste time até pelos jogadores que tem e por sua capacidade.

FOLHA - Mesmo sem Kaká e Ronaldinho?
DUNGA
- Vou falar uma coisa: o Pelé parou de jogar, e o Brasil continuou ganhando. Foi uma pouco mais difícil, um pouco mais complicado, mas ganhamos. Isso é o ciclo da vida. Em 62, pararam aqueles fantásticos. Em 70, o Carlos Alberto e outros jogadores fantásticos pararam. Aí, o Brasil foi ganhar em 94 com mais dificuldade. Lógico que, quando você tem os melhores, fica mais fácil...

FOLHA - A seleção não depende dos grandes jogadores?
DUNGA
- Sempre depende, mas daqueles que falam a verdade no retângulo. Mas não os dos que nós achamos e pensamos. Cada um de nós tem simpatia por um jogador. A grande verdade é o campo. O retângulo é que decide tudo. A teoria ajuda, mas a prática é o melhor caminho. O Brasil já ganhou e perdeu com o Pelé. Ganhar e perder é da vida. Depende do momento. Futebol é assim.

FOLHA - Ronaldo ainda tem chance na seleção?
DUNGA
- Todos os jogadores em atividade têm chance. Mas há questões que não dependem de mim. Todos sabemos que ele tem qualidade e potencial.

FOLHA - O que achou da confusão de Ronaldo com os travestis no Rio?
DUNGA
- Gostamos muito de julgar as pessoas. Temos que entender que o profissional é um, e o ser humano é outro. Cara, estamos num mundo globalizado. As coisas mudaram. Você pode não concordar, mas tem que deixar as pessoas terem as suas escolhas. Certas ou erradas. Ele vai pagar pelo que fez. As pessoas têm que ser felizes. Tu faria? [sic] Cada um leva a sua vida. Somos muito de julgar as pessoas. Nós sempre queremos julgar. Deixa o cara.

FOLHA - Você está ensaiando uma formação mais defensiva. A seleção vai jogar na retranca?
DUNGA
- Acho que este time fica mais agressivo, mas não retrancado. Deste jeito, a equipe marca mais e não deixa o adversário jogar perto da nossa área. Estamos vendo também o comportamento físico dos jogadores, que tiveram que passar por uma pausa em virtude das férias. Será um jogo bem corrido.

FOLHA - Você tem fama de disciplinador. Preocupa-se com a imagem que os torcedores têm de você?
DUNGA
- Pode me chamar de carrancudo e de chato. Tudo bem. Quando as pessoas me conhecem, sabem que não é nada disso. Gosto é de ordem, de disciplina. Cada um tem o seu limite. Aprendi na escola. Acho que tem que existir liberdade, hierarquia e voz de comando.

FOLHA - É um conservador?
DUNGA
- Nem conservador, nem radical. Sou pelo bem da maioria. Não gosto de vantagem pessoais. Tem que ter ter respeito. Sem isto, não se vai a lugar nenhum.

FOLHA - Arrepende-se de ter aceitado ser técnico do time olímpico?
DUNGA
- Não. Sabia das dificuldades que teríamos para montar o time. Às vezes, as dificuldades são maiores.

FOLHA - Já definiu os três acima de 23 anos que levará para os Jogos?
DUNGA
- Já estou com a cabeça fechada, mas temos alternativas. Espere até a convocação.


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