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Dunga admite barrar estrelas
Técnico cita Pelé para falar que seleção brasileira pode vencer Copa mesmo sem Kaká e Ronaldinho
Treinador do time nacional diz que Robinho é jogador símbolo de sua era e afirma que não se importa em não ter uma imagem simpática
SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS
Um é o melhor jogador do
mundo eleito pela Fifa. O outro
já ganhou o prêmio duas vezes
(2004 e 2005), mas o técnico
Dunga admitiu à Folha a possibilidade de a seleção brasileira
disputar a Copa da África do
Sul, em 2010, sem a presença
dos meias Ronaldinho e Kaká.
"Vou falar uma coisa: o Pelé
parou de jogar, e o Brasil continuou ganhando. Foi um pouco
mais difícil, um pouco mais
complicado, mas ganhamos. Isto é o ciclo da vida", disse Dunga, 44, em entrevista na Granja
Comary, em Teresópolis.
"Cada um de nós tem simpatia por um determinado jogador. A grande verdade é o campo. O retângulo é que decide
tudo. A teoria ajuda, mas a prática é o caminho. O Brasil já ganhou e perdeu com o Pelé. Ganhar e perder é da vida. Depende do momento", declarou.
O técnico disse que a seleção
que enfrentará o Paraguai estaria pronta para tentar o hexacampeonato se a Copa da África do Sul fosse hoje. "Acredito
neste time até pelos jogadores
que tem e por sua capacidade."
Neste ano, a seleção só disputou quatro amistosos, obtendo
três vitórias e uma derrota.
Na porta do vestiário da concentração do Brasil na noite da
última quinta, Dunga definiu
Robinho como ""jogador-símbolo" da sua era no comando
da seleção e reconheceu que
não tem uma imagem simpática. "Pode me chamar de carrancudo e de chato. Tudo bem.
Quando me conhecem, sabem
que não é nada disto. Gosto é
de ordem, de disciplina."
FOLHA - Robinho é jogador-símbolo da era Dunga na seleção?
DUNGA - O Robinho é a cara do
povo e do futebol brasileiro.
Não interessa a dificuldade, ele
sempre está sorrindo e com
vontade para jogar futebol. Ele
tem aquele pensamento amador. Do cara que dá a bola, paga
a passagem, que quer jogar. O
Robinho é assim. Ele quer jogar
e se divertir. Mesmo assim, faz
tudo com seriedade. Ele tem
prazer de estar aqui.
FOLHA - Está magoado com Kaká?
DUNGA - Não.
FOLHA - Ele voltará à seleção na
próxima convocação?
DUNGA - Depende se ele estiver
jogando no Milan. Desde o meu
início na seleção e pelo que vi
na Copa da Alemanha, todos falam que quem estiver melhor
estará aqui. Tem que ter coerência. O cara tem que ter dedicação, trabalho...
FOLHA - Ele precisa voltar a jogar
pela equipe do Milan?
DUNGA - Condição, capacidade
e qualidade, sabemos que ele
tem. Mas tem de voltar a jogar.
FOLHA - E o Ronaldinho?
DUNGA - Ele está na mesma situação. Tem que voltar a jogar.
Na seleção, é rendimento. Respeito todos eles. Adoro todos,
mas estou numa função que tenho que tomar uma decisão.
Por isso, o cara que estiver jogando bem vai estar aqui.
FOLHA - Se a Copa fosse hoje, a seleção lutaria pelo título?
DUNGA - A seleção sempre luta
pelo título em qualquer competição. Acredito neste time até
pelos jogadores que tem e por
sua capacidade.
FOLHA - Mesmo sem Kaká e Ronaldinho?
DUNGA - Vou falar uma coisa: o
Pelé parou de jogar, e o Brasil
continuou ganhando. Foi uma
pouco mais difícil, um pouco
mais complicado, mas ganhamos. Isso é o ciclo da vida. Em
62, pararam aqueles fantásticos. Em 70, o Carlos Alberto e
outros jogadores fantásticos
pararam. Aí, o Brasil foi ganhar
em 94 com mais dificuldade.
Lógico que, quando você tem os
melhores, fica mais fácil...
FOLHA - A seleção não depende
dos grandes jogadores?
DUNGA - Sempre depende, mas
daqueles que falam a verdade
no retângulo. Mas não os dos
que nós achamos e pensamos.
Cada um de nós tem simpatia
por um jogador. A grande verdade é o campo. O retângulo é
que decide tudo. A teoria ajuda,
mas a prática é o melhor caminho. O Brasil já ganhou e perdeu com o Pelé. Ganhar e perder é da vida. Depende do momento. Futebol é assim.
FOLHA - Ronaldo ainda tem chance
na seleção?
DUNGA - Todos os jogadores
em atividade têm chance. Mas
há questões que não dependem
de mim. Todos sabemos que ele
tem qualidade e potencial.
FOLHA - O que achou da confusão
de Ronaldo com os travestis no Rio?
DUNGA - Gostamos muito de
julgar as pessoas. Temos que
entender que o profissional é
um, e o ser humano é outro. Cara, estamos num mundo globalizado. As coisas mudaram. Você pode não concordar, mas
tem que deixar as pessoas terem as suas escolhas. Certas ou
erradas. Ele vai pagar pelo que
fez. As pessoas têm que ser felizes. Tu faria? [sic] Cada um leva
a sua vida. Somos muito de julgar as pessoas. Nós sempre
queremos julgar. Deixa o cara.
FOLHA - Você está ensaiando uma
formação mais defensiva. A seleção
vai jogar na retranca?
DUNGA - Acho que este time fica mais agressivo, mas não retrancado. Deste jeito, a equipe
marca mais e não deixa o adversário jogar perto da nossa área.
Estamos vendo também o comportamento físico dos jogadores, que tiveram que passar por
uma pausa em virtude das férias. Será um jogo bem corrido.
FOLHA - Você tem fama de disciplinador. Preocupa-se com a imagem
que os torcedores têm de você?
DUNGA - Pode me chamar de
carrancudo e de chato. Tudo
bem. Quando as pessoas me conhecem, sabem que não é nada
disso. Gosto é de ordem, de disciplina. Cada um tem o seu limite. Aprendi na escola. Acho
que tem que existir liberdade,
hierarquia e voz de comando.
FOLHA - É um conservador?
DUNGA - Nem conservador,
nem radical. Sou pelo bem da
maioria. Não gosto de vantagem pessoais. Tem que ter ter
respeito. Sem isto, não se vai a
lugar nenhum.
FOLHA - Arrepende-se de ter aceitado ser técnico do time olímpico?
DUNGA - Não. Sabia das dificuldades que teríamos para montar o time. Às vezes, as dificuldades são maiores.
FOLHA - Já definiu os três acima de
23 anos que levará para os Jogos?
DUNGA - Já estou com a cabeça
fechada, mas temos alternativas. Espere até a convocação.
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