São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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TOSTÃO

Encantar e iludir


Com a globalização, o futebol brasileiro caminha para a sua descaracterização, a perda de fantasia, encanto e mistério

UMA DEFICIÊNCIA da seleção brasileira é a falta de grandes talentos no meio-de-campo. Há bons jogadores. Falta um organizador que joga com a cabeça em pé, sem olhar para a bola, que possui ótimo passe e que raramente perde a bola.
Mesmo com Kaká, continua essa deficiência. Ele é um meia-atacante, mais atacante que armador. Diego é mais armador, mas atua também perto dos dois atacantes.
Melhor que Diego é Alex. Ele não se firmou na seleção porque não teve a chance de jogar muitas partidas seguidas e durante todo o jogo, já que atua nas posições de Kaká e Ronaldinho. O mesmo aconteceu com Ademir da Guia e Dirceu Lopes, na época de Gérson e Rivellino, e com o então jovem Dodô, quando jogava no mesmo período de Ronaldo e Romário.
Na tentativa de preencher essa falta, seria bem-vinda a escalação de Anderson. Ele é uma esperança. Com ele e Diego, não seriam dois meias ofensivos, como Kaká e Ronaldinho. Anderson jogaria de volante, como faz no Manchester, marcando no próprio campo para depois avançar. Ele tem velocidade e habilidade para isso.
Melhor ainda é ter uma equipe com três volantes, mas com dois que marcam e que chegam bem ao ataque. Hernanes é outra esperança. Ele, Anderson, Lucas, Ramires e Charles podem evoluir bastante até a Copa de 2010.
As pessoas mais pragmáticas e utilitárias dirão que o Brasil não tem tantos craques e que só vai ganhar do Paraguai, em Assunção, da Argentina, como fez nos dois últimos jogos, e das melhores seleções da Europa, se marcar mais atrás e com mais jogadores para depois contra-atacar, como tem ocorrido na Eurocopa.
Mesmo se essa fosse a maneira mais eficiente de vencer a maioria das partidas, haveria uma descaracterização do futebol brasileiro, na perda da identidade, da fantasia, do encanto e da capacidade de iludir, de deixar após um jogo a sensação de mistério, de algo que não se explica.
O futebol está cada dia mais previsível e parecido em todo o mundo e cada vez mais pessoas se contentam com qualquer jogo mediano ou medíocre.

Passes e dribles
O estilo predominante na Eurocopa, como foi no Mundial de 2006, é privilegiar o passe tecnicamente correto, linear, sem riscos, com a parte interna do pé (de chapa), na tentativa de manter a posse de bola.
Raramente se vê o passe de curva, de rosca, de trivela, com a bola contornando o corpo do adversário para chegar ao companheiro logo atrás. É um recurso técnico, bonito e eficiente; ou o passe, surpreendente, vertical, com a bola passando em pequeníssimos espaços entre os defensores, para chegar ao colega na cara do gol.
O drible lúdico e desconcertante é também cada dia mais raro. Não falo do drible tradicional, quando um jogador toca na bola para pegá-la na frente.
Refiro-me ao drible de corpo, às vezes sem tocar na bola (finta), em pequenos espaços e com a bola colada nos pés, como faz Robinho. O marcador pensa que a bola é dele, e não é. Esse é um dos maiores encantos do futebol.


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