São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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Ullevi deixa futebol em último plano

Estádio que abrigou mais confrontos do Brasil na Copa de 1958 esquece a bola e hoje é arena para todo tipo de evento

Palco das estréias de Pelé e Garrincha no Mundial da Suécia e local do primeiro gol do Rei em Copas tem um outro perfil após 50 anos


RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A GOTEMBURGO

Cinquentão, o estádio Ullevi respira hoje muito menos futebol do que na Copa de 1958, quando foi o palco mais usado pela seleção brasileira (três das seis partidas da épica campanha). Motocross, carros gigantes, patinação, hóquei, atletismo, boxe, futebol americano, shows... As portas estão abertas para tudo, e o futebol em Gotemburgo define agora os últimos detalhes de sua mudança.
O local que viu a estréia de Pelé e Garrincha em Copas, contra a União Soviética (2 a 0), e que testemunhou também o primeiro gol do Rei em Mundiais, ante o País de Gales (1 a 0), mantém sua cara original, meio ondulada (formato das arquibancadas), tem relógio de ponteiro, mas está adaptado como moderna arena multiuso.
A reportagem da Folha teve acesso às tribunas do estádio por meio de uma festa privada, um jantar para funcionários de empresa de carros. Diferentemente da visita ao estádio Rimnersvallen, em Udevalla, não foi possível chegar ao gramado, cercado por pista para motos.
Os acessos de um setor a outro estavam quase todos bloqueados, muitas portas fechadas e só era possível visitar o estádio naquele dia ""participando" do evento comercial.
""Somos a melhor arena da Escandinávia. Recebemos shows de Rolling Stones, Bruce Springsteen, grandes eventos", gaba-se o responsável pelo estádio, Anders Albertsson, 41.
No escritório dele, bem esquecida, fica a placa oferecida por João Havelange (ex-presidente da CBD) ao estádio em homenagem ao primeiro título mundial conquistado pelo Brasil. Após discursar para os convidados do dia sobre a história e, em especial, a fase moderna do Nya Ullevi, Albertsson mostrou a placa, que tem ""irmãs" em outros palcos da Copa-58.
""Não tenho certeza em qual dos gols Pelé marcou o primeiro em Copas. Por imagens que vi, acho que foi naquele", aponta Albertsson para o lado direito do campo (para quem está na festa no Ullevi Lounge, um espaço logo acima das tribunas onde há restaurante, pista de dança e ocorrem conferências com vista para o campo).
Futebol parece de fato não ser mais a preocupação maior ali, tanto que um novo estádio está sendo construído a poucos metros do Ullevi. A arena, exclusiva para futebol e com nome provisório de Nya Gamla Ullevi, receberá jogos dos três ""grandes" clubes de Gotemburgo: GAIS, IFK e Orgryte.
Também será a casa da seleção sueca de futebol feminino a partir do segundo semestre de 2009, quando deve ser aberto.
O Ullevi de 1958 receberá cada vez mais eventos como o que anunciava em seu placar eletrônico externo: Monster Jam (espetáculo com aquelas picapes com rodas gigantes).
O Ullevi, primeiro palco na Europa de um jogo na NFL, a liga de futebol americano dos EUA, em 1988, já sofreu uma reforma considerável. Isso depois de show do Bruce Springsteen em 1985 em que, dizem, quase o estádio foi abaixo. Hoje, o estádio que não viu o Brasil levar gols comporta cerca de 43 mil pessoas. Em shows, o público supera 60 mil pessoas.
Não há luxo nas cadeiras e na estrutura, que já recebeu decisões da Copa da Uefa e da extinta Recopa, além de partidas da Eurocopa de 1992, disputada na Suécia. O último grande evento esportivo que o Ullevi abrigou foi o campeonato europeu de atletismo, há dois anos.
Não há previsão de visita de Pelé e outros campeões de 58 ao Ullevi, mas Bruce Springsteen tocará de novo no estádio nos dia 4 e 5 de julho. O cantor americano não chorou nas redes após um balãozinho e um gol pioneiro e decisivo em uma Copa, mas parece ser mesmo o verdadeiro Rei do Ullevi.


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