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Meu querido ditador
Técnico quer vitória sobre o Brasil hoje para alegrar o "grande líder" Kim Jong-il e "mostrar a força
mental" do povo
DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO
Mais longa ditadura do
planeta, a Coreia do Norte
entra em campo hoje diante
do Brasil "para alegrar o querido líder Kim Jong-il".
De volta ao Mundial após
44 anos, o país mais isolado
do mundo trata o futebol como questão de Estado. Cercou seu time de mistérios durante a preparação e usa internamente a disputa da Copa para demostrar ao seu povo "a força da nação".
"Nosso talento vai ser revelado se ganharmos amanhã [hoje] e vai alegrar muito
nosso grande líder, Kim
Jong-il, além de mostrar a
força mental do nosso povo",
disse o técnico Kim Jong-
-hun. Na curta entrevista coletiva de ontem, citou três vezes o nome do ditador.
A Coreia do Norte é comandada há 65 anos pela família de Kim Jong-il. O atual
líder governa o país stalinista
desde 1994, quando herdou o
cargo do pai, o "presidente
eterno" Kim Il-sung, que esteve no poder por 49 anos.
Embora a Fifa tenha tentado evitar o clima político na
entrevista, o treinador deu
uma de porta-voz do regime
de Pyongyang, com direito a
todos os clichês. Além de elogiar várias vezes o seu líder e
o "poder do seu povo", Kim
Jong-hun fez questão de hostilizar os sul-coreanos.
"Exijo que você chame o
meu país de República Democrática Popular da Coreia
do Norte. Não quero ouvir nenhuma outra denominação",
afirmou ele aos sul-coreanos
quando questionado sobre o
futuro de sua seleção.
GUERRA FRIA COREANA
Os dois países estão tecnicamente em guerra desde os
anos 50. Depois da Guerra da
Coreia (1953), nunca foi assinado um tratado de paz, somente um "cessar-fogo".
Sem usar o pin com a imagem do ditador na camisa,
uma obrigação para os cidadãos norte-coreanos em
Pyongyang, o treinador manteve o discurso nacionalista
até o final da entrevista.
Ele contou que decidiu trabalhar com o futebol após assistir à campanha surpreendente da Coreia do Norte em
1966. Os norte-coreanos foram os primeiros asiáticos a
ultrapassar a primeira fase
do torneio. Na ocasião, eles
eliminaram a Itália e por pouco não venceram Portugal.
"Tinha apenas dez anos
naquela época. Aquilo me
inspirou a trabalhar no futebol pelo meu povo", disse
Kim Jong-hun. "O nosso primeiro objetivo é passar às oitavas de final. Depois, ir o
mais longe possível."
(EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ,
PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)
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