São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2010 |
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XICO SÁ Abecedário do secador
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, é chegado o momento mais nobre na vida do corvo Edgar: jogo do Brasil, o perfect day, como grasna o bicho no seu inglês do Crato. Chico Bacon fez de tudo para convencê-lo, apesar do Dunga. Não houve acordo. Eufórico com a Coreia do Norte, o agourento ditou ao cronista de estimação o seu abecedário filosófico. A de agouro: recebiam esse nome, na Antiguidade, as previsões do futuro baseadas na observação do voo ou canto de aves. Nada mais adequado. B de bola: malditos sejam os capazes de difamá--la e não protegê-la de maus-tratos. C de corvo: louvado seja o mal-assombro de Edgar A. Poe. D de Dunga: bata na madeira três vezes diante da pronúncia. E de estratégia: engana-se o técnico, por mais galhardo e soberbo, que crê ter o domínio do jogo. F de futebol: inventado pelos astecas, tem patente inglesa. Bem que poderia ser jogado à brasileira. G de gol: há quem diga que é um detalhe, há quem o compare a um orgasmo, como Romário. H de homem-a-homem: tipo de marcação não recomendável para homofóbicos. I de impedimento: se o patriotismo é o último refúgio dos canalhas, a tal regra 11 é o último retiro do machismo. Os homens acham que só eles entendem do assunto. Já era. J de Jabulani: é redonda como a Terra, mas só gira em torno dos craques. L de lambança: que seja sempre cometida fartamente. M de maria-chuteira: alvo de preconceito, é tão importante para o desempenho dos nossos atletas quanto a legítima esposa. N de nunca mais: "never more", nosso mantra divino. O de oitavas: não passarão!, coro oficial dos secadores. P de pátria: prefiro a pátria do meu uísque à pátria em chuteiras. Por isso aqui em casa somos todos paraguaios. Q de quase: a bola quase entra... O que seria do secador sem o quase? R de roubalheira: fenômeno que nunca ocorre a favor do nosso time. S de secador: porque torcer é para amadores. T de tática: truque que consiste em dar um nó no rival. Alguns técnicos costumam se enrolar consigo mesmos ao tentar a proeza. U de Umbabarauma, homem-gol: ponta-de-lança africano. V de vuvuzela: questão de soberania nacional. Os incomodados que caiam nas oitavas e voltem para casa. X de xamãs: secadores ancestrais. Z de zebra: que seja o grande nome desta Copa! xico.folha@uol.com.br Texto Anterior: Enzo Palladini: Falta alguém que invente Próximo Texto: Memória: Segurança falhou em jogo de 9 anos atrás Índice |
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