São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUCA KFOURI

Crônica de uma crise anunciada


A ninguém, ninguém, repita-se, é dado o direito de ficar surpreso com o que acontece no Corinthians


O RESULTADO do jogo entre Corinthians e São Paulo é o que menos importa, agora, ao alvinegro. Porque o Parque São Jorge vive a maior crise de sua história quase centenária e gloriosa.
Com seu presidente e vice-presidente acusados não só por lavagem de dinheiro - acusações semelhantes já sofreram alguns dos principais cartolas brasileiros, por evasão de divisas, sonegação de impostos etc...- mas também por formação de quadrilha.
Não é pouca coisa. E todos sabiam.
Do corintiano presidente da República (sim, ele também, que até recebeu Kia Joorabchian em palácio) ao mais humilde dos torcedores, que festejaram a parceria com a máfia russa.
Passando pelo apoio da CBF e do Clube dos 13. Foram poucos, pouquíssimos na verdade, os conselheiros corintianos que se opuseram à aventura. Menção honrosa a eles.
De resto, o resto chafurdou na lama do dinheiro sujo. A parte podre da imprensa esportiva, inclusive.
Mas, também registre-se, a imprensa séria contou tudo bem antes da parceria ser selada.
Cada um dos personagens foi devidamente apresentado à opinião pública, com todas as suas mazelas e os respectivos prontuários. Mesmo assim, a parceria foi assinada, e o resultado está aí.
Quase dois anos depois que o Ministério Público de São Paulo, num trabalho ágil e brilhante do Gaeco e sem necessidade de grampear os telefones dos suspeitos, concluiu que havia lavagem de dinheiro, é a vez de a Justiça Federal acrescentar o crime de formação de quadrilha, baseada nas gravações que fez.
Agora, por sinal, dada a possibilidade de ter havido também manipulação de resultados de partidas do Corinthians, o Gaeco já pediu que essa parte das investigações volte às suas mãos.
É de se lamentar, apenas, que o inquérito federal só tenha terminado depois que a MSI tirou todos os seus jogadores do Corinthians e num momento em que, na Inglaterra, a "empresa", de atuação muito mais recente no futebol inglês, já esteja em palpos de aranha.
Mas a vergonha cobre o segundo clube mais popular do país e o primeiro do maior mercado do Brasil, com potencial, portanto, para ser o mais rico clube brasileiro.
Alberto Dualib processa este colunista por tê-lo chamado de coveiro do Corinthians. O colunista foi generoso com o insepulto presidente corintiano e já pediu desculpas.
Aos coveiros, é claro.

Arte ou força?
Argentina ou Brasil?
A derrota brasileira na Copa de 1982 e a vitória brasileira na Copa de 1994 significaram golpes vigorosos no chamado futebol arte.
Ganhou o futebol de resultados.
Desta vez, uma nova vitória nacional terá piores efeitos para quem, antes de mais nada, gosta de futebol bem jogado, como espetáculo, e não gosta apenas de vitórias.
Desafortunadamente, o coração, na Copa América, neste domingo, está do lado da força. A cabeça, ao lado da arte. Coração ou cabeça?

blogdojuca@uol.com.br


Texto Anterior: IRL: Corrida é adiada por causa de chuva
Próximo Texto: Oposição ameaça pedir o bloqueio de bens de Dualib
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.