São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2000


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FUTEBOL
Rudi Voeller, novo técnico da seleção alemã, aposenta figura histórica do futebol do país; função pode ser extinta
Crise da Alemanha detona crise do líbero

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O líbero está entrando em processo de extinção no futebol.
A partir de amanhã, a Alemanha, seleção que consolidou a figura do líbero moderno, aposenta a função tática que, nos anos 70, foi imortalizada por Franz Beckenbauer e, nos anos 90, foi herdada por Lothar Matthäus.
A decisão de Rudi Voeller, ex-atacante que assumiu a comissão técnica da seleção alemã após a Eurocopa-2000, é explicada pela ausência de bons nomes para a posição na Alemanha. Mas a crise de grandes líberos atinge outros países também, como a Itália.
A estréia de Voeller no comando da Alemanha será amanhã, em amistoso contra a Espanha.
""Eu deixo claro que muitas coisas vão mudar", disse Voeller.
Desde a Copa de 1966, quando Beckenbauer assumiu posto de destaque na seleção alemã, o futebol do país priorizou um jogador em seu esquema, um líbero com capacidade de ajudar a defesa e organizar a saída para o ataque.
A final do Mundial de 66 opôs, curiosamente, Beckenbauer e Bobby Moore, jogadores que desempenhavam tal papel.
O líbero foi criado pelos italianos, que tradicionalmente adotam a marcação homem-a-homem e destacam um jogador para atuar na ""sobra" (atrás dos zagueiros). Os líberos italianos, diferentemente dos dos outros países, pouco arriscam no ataque -o maior exemplo foi Baresi, astro do Milan nas décadas de 80 e 90.
Na Eurocopa-96, a Alemanha conseguiu seu último título com Sammer atuando como líbero. O talentoso jogador, porém, sofreu uma séria contusão no joelho e teve que abandonar o futebol.
Matthäus, que no título mundial de 90 jogava como armador, foi recuado então para a posição de líbero, seguindo o exemplo de Beckenbauer (o ""Kaiser" chegou até a jogar como centroavante).
Com pouca condição física, Matthäus conseguiu se fixar na função mesmo com 39 anos devido à sua grande técnica.
O jogador, porém, deixou a seleção alemã após a eliminação da Eurocopa (fez o seu 150º e último jogo pela Alemanha na derrota de 3 a 0 para a seleção de Portugal).
Voeller chamou para o amistoso com a Espanha 13 dos 18 jogadores alemães que atuaram na Eurocopa-2000, mas pretende mudar o esquema tático do time.
O jogador não definiu se pretende atuar com três ou com quatro jogadores na defesa. Apenas optou pela aposentadoria do líbero.
A princípio, a Alemanha atuará amanhã com três atletas na defesa: Rehmer, Nowotny e Heinrich.
Na Euro-2000, a Alemanha foi a única seleção que baseou seu esquema no líbero. A Itália, que costuma cultuar a função, adotou ferrenha marcação homem-a-homem, lembrando o futebol que praticava na metade do século.
Após a aposentadoria de Baresi, a seleção italiana experimentou alguns jogadores na função de líbero, especialmente o lateral-esquerdo Maldini, mas nenhum convenceu na posição.
A França, campeã mundial e européia, triunfou com dois zagueiros que já atuaram como líberos, Blanc e Desailly, mas que jogam hoje apenas como zagueiros.
A Holanda, que já teve Koeman e até Gullit na função de líbero, vem optando também por uma dupla de zaga convencional: Frank de Boer e Stam.
A Inglaterra continua presa ao seu tradicionalismo e mantém quatro jogadores fixos na defesa, repelindo líberos, seja do estilo alemão, seja do estilo italiano.
A Argentina, seleção sul-americana que mais aproveita esquemas europeus, também não usa líberos hoje. O time do técnico Marcelo Bielsa joga com três zagueiros: Ayala, Sensini e Samuel.


Com agências internacionais

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