|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
A volta da seleção
CARLOS RENNÓ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Brasil e Paraguai farão na
próxima quarta-feira um jogo que tem uma importância
muito especial. Pela primeira, e
provavelmente pela última vez,
veremos de novo reunidos os mesmos jogadores que se tornaram, e
nos tornaram, pentacampeões
mundiais. Raramente isso acontece após uma Copa.
Esses atletas causaram o maior
sentimento de felicidade coletiva
(e quanto de felicidade individual
está implícita aqui) experimentado no país desde 70, quando da
conquista do tricampeonato.
Com a gratidão que se deve aos
homens que engrandecem uma
nação, a mesma devida aos grandes artistas, deve-se saudar a exibição dessa seleção agora.
Essa felicidade só foi sentida
porque o povo reconheceu no time o futebol tradicionalmente
identificado como brasileiro, alegre, solto, criativo, ofensivo: e nele
se reconheceu. Em 94, a alegria,
embora imensa, fora menos intensa; para superar então o trauma de não ganhar fora preciso a
seleção ganhar como se ganhou,
com muito cuidado e contenção,
praticando um jogo amarrado.
Na ocasião, contávamos apenas
com um superjogador, Romário,
o maior centroavante da história
do nosso futebol e o maior responsável em campo pela vitória. Em
2002, ao contrário, tivemos três
craques fora-de-série: Rivaldo,
Ronaldo e Ronaldinho. E por isso
ganhamos como ganhamos.
A mera perspectiva de rever esses jogadores em ação juntos já
justifica assistir ao jogo de quarta.
Rivaldo foi, como já tinha sido
em 98, o melhor, ao conciliar regularidade e singularidade, individualismo e espírito coletivo.
Seu belo e inesperado gol contra
a Bélgica mudou a história de
uma partida que foi, na verdade,
a mais dura para o Brasil, impondo uma superioridade quando o
adversário é que parecia mais
próximo de marcar.
A atuação de Ronaldo fez dele
definitivamente um mito. Que
história incrível! Protagonista do
caso estranhíssimo a que ficou associada a derrota na final do
Mundial da França, o atacante
passa quase quatro anos contundido, volta a jogar três meses antes da Copa da Coréia do Sul e do
Japão e vira, para muitos, o comandante do penta, além de artilheiro da competição. Aos 25 anos
apenas, Ronaldo já assegurou por
várias décadas um lugar no imaginário nacional.
Ronaldinho se tornou o artífice
do lance mais inspirado da campanha. Contra a Inglaterra, sua
jogada que terminou no passe para o gol de Rivaldo se constituiu
numa pintura, mas não se comparou ao seu próprio gol no mesmo jogo. Naquele momento,
reinstaurou-se a poesia no futebol. E, arrepiados, vislumbramos
a beleza maior por vir, certos de
que podíamos apostar na alegria.
O chute de falta, de longe, encobrindo o goleiro inglês adiantado,
foi de quem estava em estado diabólico de graça, obra de gênio,
lance de "Rei". Equipara-se a três,
antológicos, lançados por Pelé em
Mundiais: o chapéu no zagueiro
sueco, seguido de gol na final de
58; e o tiro do meio-campo contra
o arqueiro tcheco e o corta-luz pra
ele mesmo diante do perplexo goleiro uruguaio, em 70.
Brasil e Paraguai valerá pela
oportunidade do reencontro e pelo rito de passagem que representará. Com o jogo, acabará uma
história e começará outra. O começo dessa outra se dá com a escolha de um novo técnico. Mas esta já é outra história.
O ataque de João
Tido por louco -por samba
e futebol, ele realmente é-,
João Gilberto é, sim, o mais
genial de nossos artistas músicos. Pois bem: o Pelé da
MPB também não perdoa
Luiz Felipe Scolari. Há 12
dias, durante seu show no
Tom Brasil, em São Paulo, o
cantor retomou o tema da
não-convocação ("uma injustiça") de Romário ("um
herói") para a Copa, afirmando que "para cinco bilhões [!"
de Felipões há um Romário".
"Agora andou falando mal de
Ronaldo, que lhe deu a Copa", afirmou João Gilberto
sobre Felipão. Sobre Ronaldinho, o cantor afirmou que,
nas quartas-de-final contra a
seleção inglesa, ele "fez aquele gol lindo", mas, "ingênuo,
inocente", cometeu a falta
feia que acabou lhe causando
sua expulsão só para agradar
ao técnico da seleção brasileira, um cultor do futebol bruto, sem classe, para o inventor da bossa nova.
E-mail esporte@uol.com.br
Hoje, excepcionalmente, Soninha não
escreve nesta coluna
Texto Anterior: Basquete: WNBA inicia fase final com três brasileiras Próximo Texto: Panorâmica - Basquete: Jay Williams vai ao Mundial, e Jordan fica fora Índice
|