São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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GINÁSTICA

Gaúcha tenta ser primeira "estrangeira" a vencer a prova, disputada desde 1952

Começa hoje o desafio de Daiane contra a "cortina de ferro" no solo

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

Os duplos twists inquietaram a física, a cor da pele esmagou barreiras da modalidade, a dor no joelho testou sua superação. A partir de hoje, o novo desafio de Daiane dos Santos é a geografia.
Repare no mapa estampado nesta página. É da área que se estende de Praga (República Tcheca) a Chimkent (Casaquistão) que surgiram todas as campeãs olímpicas da história do solo.
Jamais alguém do continente americano, da Europa Ocidental, do Oriente, da África ou da Oceania triunfou nesta prova, que é disputada nos Jogos desde 1952.
Tal concentração é peculiar até na já microcósmica ginástica. Houve campeãs americanas no individual geral, na trave e na prova por equipes. Chinesas já levaram as paralelas. Alemãs (orientais, à época) ganharam o salto.
É algo incomum também para outras modalidades. A prova mais nobre da Olimpíada, os 100 m rasos do atletismo, já teve campeões dos EUA, da União Soviética, da Grã-Bretanha, de Trinidad e Tobago, do Canadá e da Alemanha, isso só no período pós-1952.
A separar a Porto Alegre de Daiane do círculo que ela tentará romper a partir de hoje estão 10.990 km -a distância entre a capital gaúcha e Praga.
O domínio do Leste Europeu na ginástica artística é evidente. No feminino, os três países que mais ganharam medalhas são a União Soviética (ainda líder, 88 pódios), a Romênia (51) e a Hungria (23).
A supremacia se consolidou a partir de Helsinque-52, quando a URSS passou a disputar os Jogos. "Treinadíssimos desde crianças, seus atletas logo se transformaram em modelos para os concorrentes", relata o professor Nestor Soares Publico no livro "Evolução Histórica da Ginástica Olímpica".
Mas, com o colapso comunista, a figura vai mudando aos poucos.
Daiane, 21, bate à porta do Leste Europeu com uma mãozinha de gente que veio de lá. São três ucranianos: o técnico da seleção, Oleg Ostapenko, sua mulher, Nadia, e a assistente Iryna Ilyashenko.
Única jurada brasileira na ginástica feminina destes Jogos, Yumi Sawasato considera a importação fundamental para a ascensão do time nacional. "Há muitos anos temos feito intercâmbios. Os técnicos [do Leste Europeu] estão pelo mundo todo. O regime fez com que eles migrassem e levassem o conhecimento", diz.
Com gente de renome no banco e resultados para mostrar, arma-se uma bola de neve a favor de Daiane. Os jurados passaram a ver com outros olhos suas apresentações. "Isso chama atenção. A estrutura do Brasil conta", afirma Georgette Vidor, ex-técnica da seleção de ginástica.
Não há grandes dúvidas de que Daiane, atual campeã mundial, é a favorita. Ou melhor, ela diz ter lá as suas. "Pensam que é fácil, mas vai ser complicado", declara.
O joelho direito, operado há 57 dias, ainda incomoda. É provável que Daiane, por precaução física, não exiba hoje seu melhor movimento, o duplo twist esticado (um mortal com meia-volta e dois giros no ar, com as pernas retas).
A Confederação Brasileira de Ginástica avalia que ela não precisa dele para ficar entre as oito primeiras e avançar à final do solo, programada para o dia 23.
A eliminatória de hoje vale para várias coisas. Define quem disputará as medalhas nos quatro aparelhos (solo, trave, barras assimétricas e salto sobre o cavalo), no individual geral e também por equipes.
Pela primeira vez, o Brasil envia um time completo para uma Olimpíada. O objetivo é ficar entre os oito finalistas.
A equipe integra o quarto grupo a se apresentar, a partir das 15h (de Brasília). Encontrará as seleções da França e da Espanha e atletas do México, do Uzbequistão, da Bélgica e da Hungria.
A primeira apresentação olímpica de Daiane no solo está prevista para ocorrer entre 15h20 e 15h43, com flashes da TV.


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