São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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fúria

EM PROTESTO CONTRA O QUE CHAMOU DE 'POLITICAGEM', LUTADOR EXPLODE APÓS DERROTA, AFRONTA ÁRBITROS E PROTAGONIZA CENA NUNCA VISTA EM UM PÓDIO OLÍMPICO AO JOGAR FORA SEU BRONZE

Oleg Popov/Reuters
Ara Abrahamian discute com árbitro na luta semifinal contra o italiano Andrea Minguzzi

EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Pequim-2008 não se esquecerá de Ara Abrahamian.
No maior acesso de fúria em um pódio olímpico, na edição mais vista dos Jogos, o lutador de origem armênia deu um duro golpe no Movimento Olímpico e na censura chinesa.
Transtornado com o resultado da categoria até 84 kg da luta greco-romana, o atleta, que defende a Suécia, ignorou o cerimonial de premiação.
Logo após receber a medalha no pescoço, o lutador desceu do pódio -sem esperar que os demais pegassem a comenda-, pegou o bronze pela mão e o lançou na área de competição.
Em seguida, ainda com cara amarrada, deu as costas e saiu.
Foi a forma que Abrahamian, 33, encontrou para protestar contra o que chamou de "politicagem" na luta greco-romana -nos Jogos desde 1896- e na Olimpíada, segundo informou o técnico Leo Myllari.
Ameaçado de punição pelo Comitê Olímpico Internacional, que planeja convocar audiência para que ele se explique e não descarta destituir-lhe o bronze, o lutador disparou: "Não me importo com o que vão fazer com o bronze. O que eu queria mesmo é o ouro".
Ouro que já havia buscado em Atenas-04, quando foi prata. E que nunca virá, já que, segundo ele, independentemente da decisão do COI, não pisará mais no octágono, área de competição do esporte. Disse que o duelo pelo bronze, quando bateu Melonin Noumonvi (FRA), foi seu último.
A ira de Abrahamian, que ostenta dois títulos mundiais, foi deflagrada pelo resultado da semifinal, quando perdeu por 3 a 1 para Andrea Minguzzi (ITA).
Assim que a derrota para o italiano foi revelada, Abrahamian explodiu e foi tirar satisfações com a arbitragem, formada pelo suíço Jean-Marc Petoud, pelo canadense Lee Ronald Mackay e pelo cubano Guillermo Orestes Molina. Segundo o técnico, seu pupilo crê que o resultado foi manipulado.
Abrahamian até empurrou o braço de um dos jurados, que tentou pará-lo. E só foi contido pelos colegas, enquanto a torcida vaiava a decisão da luta.
Disse ainda que só foi por conta desses colegas que resolveu ir à luta pelo bronze.
Após o acesso, Abrahamian foi recriminado pelo algoz, que viu seus maiores momentos serem ofuscados pelo rival. ""Todos têm o direito de questionar a arbitragem, mas é bom mostrar espírito esportivo. Esse comportamento dele estragou [a premiação]", disse Minguzzi.
Agora sem destino, o bronze foi recolhido por uma chinesa da organização, mas sua imagem e a de Abrahamian em protesto ficaram para sempre, pois medalhas olímpicas são desfeitas, mas nunca antes no local em que foram conquistadas.


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