São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

Guerra por Neymar


É nosso novo complexo de vira-lata julgar que só há carreira para atletas que atuam na Europa


UMA INFORMAÇÃO que a família de Neymar precisa ter, antes de responder à proposta do Chelsea, é quanto dinheiro o clube gastou em contratações do passado. Pelo inglês Wright-Phillips, € 36 milhões (cerca de R$ 81,4 milhões), pelo zagueiro português Ricardo Carvalho, US$ 38 milhões (R$ 67,3 milhões). São atletas inferiores a Neymar e que custaram mais do que sua multa rescisória de € 35 milhões (cerca de R$ 79,1 milhões). Se o Chelsea quer mesmo Neymar, basta não pechinchar.
O Santos não pergunta qual o preço justo para vender seu craque. Diz apenas que ele renovou contrato e não está à venda. Foi assim com Robinho, em 2005. E o que fez Robinho, quando o Santos avisou ao Real Madrid que não o venderia? Fez greve.
O conselheiro de Robinho era o mesmo Wagner Ribeiro que hoje aconselha a família Neymar.
Como em 2005, o Santos diz que não vende, e o jogador provavelmente avisará que quer ir. O Santos responderá que a única alternativa para sair é pagar a multa de rescisão. Se o próximo passo de Neymar será a greve, não se sabe. Mas há muita gente interessada nessa guerra.
Os agentes julgam que é possível depositar em juízo os € 21 milhões (R$ 47,5 milhões) equivalentes aos 60% do Santos e embarcar Neymar para Londres. O clube responde que a lei garante que receba o valor da multa integralmente e só depois repasse os 40% a que o grupo DIS tem direito. O Santos tem aval jurídico, mas conversa com um agente interessado no negócio mostra como o clube é frágil.
Na última quinta-feira, o noticiário dizia que o Chelsea pagaria € 25 milhões (R$ 56,5 milhões) por Neymar, sendo 4 milhões (R$ 9 milhões) ao grupo DIS. "O DIS não vai ficar com € 4 milhões, mas com 40% desses € 25 milhões", disse o agente. Retruquei: "O Santos não o liberará sem receber pelo menos 21 milhões, 60% do valor da multa. O que acontecerá nesse caso?".
"O DIS ficará na posição de espectador", ele assegurou. Quer dizer: os agentes torcem pelo litígio, para Neymar forçar a transferência e embolsarem 40% do negócio.
Vale lembrar que o Santos elabora desde janeiro projeto econômico para aproximar os ganhos de seus atletas ao padrão europeu e exibirá o plano a Neymar. O clube não freia a carreira do menino, mostra uma alternativa. Quase ninguém acredita.
É nosso novo complexo de vira-lata julgar que só existe carreira para que atua na Europa. Se ganhar a guerra, o Santos prestará serviço a todo o país.

pvc@uol.com.br


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