São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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Jovens ainda resistem à disputa de pontos corridos

Datafolha mostra que paulistano segue dividido sobre a melhor fórmula para o Brasileiro

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

Dois anos após a implantação do sistema de pontos corridos no Brasileiro, os jovens ainda se mostram refratários à fórmula que premia o time com melhor campanha ao fim de dois turnos.
É o que revela pesquisa Datafolha realizada na cidade de São Paulo. Foram entrevistadas 1.727 pessoas nos dias 7 e 8 deste mês. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.
Os jovens vêem o campeonato em turno em returno com reservas. Utilizada em 2 das 34 edições do Nacional disputadas a partir de 1971, a fórmula em vigor é reprovada por 45% dos paulistanos entre 16 e 25 anos.
A preferência pelo mata-mata encontra sua pior avaliação entre os mais velhos (entrevistados acima de 40 anos). Só 25% dos que viram torneios com Pelé e cia., apontados como responsáveis pela adoção das finais, querem a volta do sistema antigo -o argumento, à época, era de que os pontos corridos ajudaram a consolidar a hegemonia do Santos
Promessa da campanha eleitoral de Ricardo Teixeira em 1989, a fórmula de pontos corridos no Brasileiro só foi implantada após a instauração de duas CPIs no Congresso para investigar o futebol e à mudança de estratégia do presidente da CBF. "Quero mudar até para ver se não dá certo", afirmou o cartola em 2002.
Com poder revigorado após quase dois anos de enfraquecimento político, Teixeira impôs a fórmula aos clubes. A aprovação pelo Conselho Técnico, formado pelas equipes que disputam a Série A, foi mera formalidade. O próprio cartola espalhava que vetaria a proposta do mata-mata e que forçaria a disputa por pontos corridos por meio de uma RDI, espécie de decreto esportivo.
Ontem, o presidente da CBF não respondeu aos recados da Folha. Mas tem dito que não tem intenção de mexer na fórmula para os próximos anos, apesar da queda do número de torcedores nos estádios -o torneio deste ano está muito próximo de ser o de menor público da história.
Esse é justamente o argumento dos cartolas que defendem a ressurreição do mata-mata, que têm como porta-voz o presidente do Vasco, Eurico Miranda.
Anteontem, sem que a Folha tivesse feito pergunta a respeito, o cartola indagou: "Como anda o campeonato de pontos corridos de vocês? Porque, por aqui, ninguém agüenta mais. Esse sistema é feito sob medida para times pequenos, como o Atlético-PR."
O presidente do líder do campeonato, Mario Celso Petraglia, é um dos defensores do atual regulamento. "Voltar atrás nunca mais. Fui campeão no mata-mata. Nenhuma fórmula é mais justa. Dá para se programar. Voltar seria de fato um retrocesso", disse.
O vascaíno, que declarou que lutará no fim do ano para alterar a fórmula para o Nacional-2005, conta com a ajuda da Globo Esportes, maior investidora do futebol nacional. Marcelo de Campos Pinto prefere os mata-matas, mas diz que não se meterá na decisão. "A Globo não discute sistema."
Mas a tendência, mais uma vez, deve ser a prevalência da vontade da CBF -Teixeira tem hoje muita influência sobre a maioria dos grandes clubes, por questões financeiras (a entidade empresta dinheiro aos times) e políticas.
Os paulistanos, que vêem todos os grandes clubes do Estado entre os dez primeiros do Nacional, se dividem em relação à fórmula. Defendem a volta do mata-mata 32%, queda de cinco pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, feita há um ano.
Os adeptos dos pontos corridos somam 35% -deles, 7% querem um torneio mais enxuto, com menos clubes e datas. A oscilação em relação ao levantamento de 2003 foi de um ponto percentual, dentro da margem de erro. A preferência pelas duas fórmulas segue em empate técnico.
Os torcedores que gostam de futebol somam a fatia que mais defende o atual sistema. Entre os que dizem ter "muito interesse" pela modalidade, 53% querem os pontos corridos, contra 40% a favor do mata-mata. Entre os que "não têm nenhum interesse" pelo futebol, 22% querem a volta do mata-mata, contra 16% a favor dos pontos corridos.


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