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Enterro de torcedor une arqui-rivais na Itália
Funeral de Gabriele Sandri atrai multidão e mantém "calcio" de luto; brasileiro da Lazio conta a decisão do time não jogar no domingo
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
O enterro do torcedor Gabriele Sandri ontem, na Itália,
assim como sua morte no último domingo, uniu, como raras
vezes se viu na história, Lazio e
Roma, mais ácidos arqui-rivais
no violento futebol italiano.
""Fui ao enterro, e uma coisa
importante é que o técnico,
[Luciano] Spalletti, o capitão,
Totti, e dirigentes da Roma estavam presentes. Foi um gesto
bonito deles, ainda mais com
essa rivalidade. Mostra união
dos times da capital numa hora
de dor. Tinha camisa da Roma e
da Lazio, torcedores misturados, um sinal muito positivo",
falou à Folha Emilson Cribari,
o zagueiro brasileiro da Lazio.
Sandri, torcedor da Lazio, foi
atingido por um tiro disparado
por um policial, o que revoltou
torcedores de vários times italianos e resultou na paralisação
de jogos da rodada no "calcio".
Cribari contou que os atletas
da Lazio, que ontem foram todos ao enterro, haviam decidido não atuar contra a Inter, no
domingo, mesmo antes de o jogo ser oficialmente adiado.
""Ficamos sabendo às 11h que
um torcedor nosso tinha morrido. A gente almoçava. Logo
que explicaram a situação, o time decidiu que não ia jogar. A
decisão foi dos atletas. De Silvestri, nosso lateral, era amigo
do torcedor e começou a chorar muito. Não tinha clima para
jogar. Depois, ficamos sabendo
que a federação adiou o jogo."
Segundo Cribari, 27, que defendeu o Londrina em 96 e 97 e
passou por Empoli e Udinese
antes de chegar à Lazio, o time
até assumiu o risco de perder
pontos por não jogar em Milão.
""Duas palavras do capitão
[Zauri], e decidimos não entrar
em campo, correndo o risco de
perder pontos. A torcida que já
estava em Milão voltava a Roma. Seria grave, mas não causaria tanto transtorno. Teve batalha entre torcidas de Lazio e
Roma juntas e polícia, fato inédito. Vieram ultras [hooligans]
de outras cidades guerrear."
Com passaporte italiano há
cerca de dez anos, Cribari deu
apoio a Kaká sobre o temor dos
atletas que atuam na Itália.
""É algo que quem está aqui
pensa. A credibilidade do futebol italiano vai diminuindo. É
normal que um atleta importante e valorizado como o Kaká
pense em ir para um país mais
seguro, onde ele e a família vão
ficar mais tranqüilos e ele será
ainda mais respeitado. Eu já
cheguei a pensar como Kaká."
Sandri, 26, trabalhava como
DJ e estava em um carro quando o policial que o atingiu tentava interromper briga entre
integrantes de torcidas da Lazio e da Juventus em rodovia.
""Na temporada passada, com
a morte de policial em jogo, governo e imprensa pararam o
torneio. Acabaram com a moral dos torcedores. E agora
ocorre o contrário. Falam que
foi homicídio doloso, que não
foi erro. Testemunhas falam
que o policial mirou no carro. A
preocupação é que torcida e
polícia se encontrarão sempre
nos estádios", disse Cribari.
O atirador declarou na Itália
que tinha dado tiro de advertência para o alto. Pelo menos
18 torcedores foram presos na
Itália devido a incidentes decorrentes da morte de Sandri.
Além de Inter x Lazio, Roma x
Cagliari e Atalanta x Milan foram adiados -este último, com
o jogo já iniciado e vários torcedores chutando a proteção e
ameaçando invadir o campo.
""As torcidas organizadas não
têm medo de punição e fazem
guerra. Na Inglaterra, a punição é rígida. Na Itália, não. Chegou a hora de federação e governo tomarem providências
drásticas, senão o futebol italiano acabará mal", diz Cribari.
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