São Paulo, quinta-feira, 15 de novembro de 2007

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Enterro de torcedor une arqui-rivais na Itália

Funeral de Gabriele Sandri atrai multidão e mantém "calcio" de luto; brasileiro da Lazio conta a decisão do time não jogar no domingo

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O enterro do torcedor Gabriele Sandri ontem, na Itália, assim como sua morte no último domingo, uniu, como raras vezes se viu na história, Lazio e Roma, mais ácidos arqui-rivais no violento futebol italiano.
""Fui ao enterro, e uma coisa importante é que o técnico, [Luciano] Spalletti, o capitão, Totti, e dirigentes da Roma estavam presentes. Foi um gesto bonito deles, ainda mais com essa rivalidade. Mostra união dos times da capital numa hora de dor. Tinha camisa da Roma e da Lazio, torcedores misturados, um sinal muito positivo", falou à Folha Emilson Cribari, o zagueiro brasileiro da Lazio.
Sandri, torcedor da Lazio, foi atingido por um tiro disparado por um policial, o que revoltou torcedores de vários times italianos e resultou na paralisação de jogos da rodada no "calcio".
Cribari contou que os atletas da Lazio, que ontem foram todos ao enterro, haviam decidido não atuar contra a Inter, no domingo, mesmo antes de o jogo ser oficialmente adiado.
""Ficamos sabendo às 11h que um torcedor nosso tinha morrido. A gente almoçava. Logo que explicaram a situação, o time decidiu que não ia jogar. A decisão foi dos atletas. De Silvestri, nosso lateral, era amigo do torcedor e começou a chorar muito. Não tinha clima para jogar. Depois, ficamos sabendo que a federação adiou o jogo."
Segundo Cribari, 27, que defendeu o Londrina em 96 e 97 e passou por Empoli e Udinese antes de chegar à Lazio, o time até assumiu o risco de perder pontos por não jogar em Milão.
""Duas palavras do capitão [Zauri], e decidimos não entrar em campo, correndo o risco de perder pontos. A torcida que já estava em Milão voltava a Roma. Seria grave, mas não causaria tanto transtorno. Teve batalha entre torcidas de Lazio e Roma juntas e polícia, fato inédito. Vieram ultras [hooligans] de outras cidades guerrear."
Com passaporte italiano há cerca de dez anos, Cribari deu apoio a Kaká sobre o temor dos atletas que atuam na Itália.
""É algo que quem está aqui pensa. A credibilidade do futebol italiano vai diminuindo. É normal que um atleta importante e valorizado como o Kaká pense em ir para um país mais seguro, onde ele e a família vão ficar mais tranqüilos e ele será ainda mais respeitado. Eu já cheguei a pensar como Kaká."
Sandri, 26, trabalhava como DJ e estava em um carro quando o policial que o atingiu tentava interromper briga entre integrantes de torcidas da Lazio e da Juventus em rodovia.
""Na temporada passada, com a morte de policial em jogo, governo e imprensa pararam o torneio. Acabaram com a moral dos torcedores. E agora ocorre o contrário. Falam que foi homicídio doloso, que não foi erro. Testemunhas falam que o policial mirou no carro. A preocupação é que torcida e polícia se encontrarão sempre nos estádios", disse Cribari.
O atirador declarou na Itália que tinha dado tiro de advertência para o alto. Pelo menos 18 torcedores foram presos na Itália devido a incidentes decorrentes da morte de Sandri. Além de Inter x Lazio, Roma x Cagliari e Atalanta x Milan foram adiados -este último, com o jogo já iniciado e vários torcedores chutando a proteção e ameaçando invadir o campo.
""As torcidas organizadas não têm medo de punição e fazem guerra. Na Inglaterra, a punição é rígida. Na Itália, não. Chegou a hora de federação e governo tomarem providências drásticas, senão o futebol italiano acabará mal", diz Cribari.


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