São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUCA KFOURI

Duas vitórias da democracia


No dia dos 40 anos do AI-5, alviverdes e colorados deram uma prova de que o futuro pode ser bem melhor


POR IRONIA , no sábado que lembrou os 40 anos do começo de uma longa noite obscurantista no país, a das trevas do quinto ato institucional da ditadura brasileira, dois clubes deram exemplos de democracia. E com resultados opostos. No Palmeiras, a situação perdeu. No Inter, venceu.
E a situação perdeu no Palestra Itália pela mesma razão que a levou a ganhar no Beira-Rio: busca de oxigênio, de mudança, de maior participação da maioria. Diga-se desde já que os dois clubes vivem situações políticas incomparáveis, com os gaúchos muito adiante dos paulistas (de todos os clubes paulistas, registre-se), porque o sócio-torcedor colorado é uma realidade eloqüente. Basta dizer que eram 25 mil os sócios com direito de voto na capital gaúcha e em mais oito núcleos eleitorais no interior do Rio Grande. E quase 7.500 sócios votaram, conferindo mais de 91% de apoio aos atuais dirigentes e elegendo 150 conselheiros proporcionalmente ao número de sufrágios obtidos pelas três chapas concorrentes.
Nas próximas eleições serão nada menos que 80 mil (!) os associados com direito de participar. Como uma coisa leva a outra, o Grêmio vive situação parecida. No Palmeiras a situação também foi majoritária, mas não alcançou os 2/3 de 1.436 votos para mudar o estatuto e prorrogar por mais um ano o mandato do atual presidente que, em bom português, ou em italiano, tentou trair primeiramente no Conselho Deliberativo e, depois, entre os sócios, os ideais do movimento "Muda, Palmeiras".
Melhor para a Sociedade Esportiva Palmeiras, que não se curvou ao seu arremedo de Silvio Berlusconi. Se é indiscutível que a atual direção é muito melhor que a anterior que busca voltar ao poder, a lição dada nas urnas duas vezes é muito clara: ninguém é dono de um clube tão grande e importante, maior campeão brasileiro de futebol no século passado e que não pode interromper seu lento e tumultuado processo de modernização porque um cidadão se julga o salvador da pátria. A alternância de poder é essencial para garantir a democracia, este péssimo sistema que ainda não encontrou nada melhor para substitui-lo e nada indica que encontrará. Resta a quem torce pelas luzes desejar agora que os palmeirenses empenhados em iluminar o clube tratem de não se dividir a ponto de permitir a volta da escuridão, porque está claro que esta é a vontade da maior parte do conselho e sócios.

Promiscuidade
A coluna recebeu uma mensagem magoada do delegado Mauro Marcelo, em cuja jurisdição estão os inquéritos do "caso do gás" e o da confusão no aeroporto de Congonhas. Ele considerou sem sentido a ilação de que pelo fato de ser um notório militante situacionista no Palmeiras não poderia ter a menor relação com as investigações. Nem por isso deixou de aceitar ser, também, nomeado para o tribunal de justiça da FPF de Nero que, para jogar seu vice Carneiro na fogueira, como ficou claro em seu depoimento ao STJD, não titubeou em manchar a última rodada do Brasileirão. Durma-se.

blogdojuca@uol.com.br


Texto Anterior: Prancheta do PVC
Próximo Texto: Sob pressão, CBB avaliza liga
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.