São Paulo, Domingo, 16 de Janeiro de 2000


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FUTEBOL
Começou errado...

RODRIGO BUENO

A história irá registrar, sim, o feito épico do Corinthians, mas todos os não-corintianos tratarão de duvidar sempre da legitimidade do primeiro Mundial de Clubes da Fifa.
O projeto do torneio é antigo, ganhou força a partir de 1993 e bem longe do Brasil, um dos somente nove países que manifestaram o desejo de abrigar a nova idéia da máxima entidade do futebol.
A posterior escolha da Fifa pelo país deveu-se a vários motivos. Desde a fraca concorrência, que incluía até o Tahiti, passando pela tradição brasileira no futebol e chegando ao consolo de não receber a Copa em 2006.
Os participantes, idealmente, seriam apenas seis, um de cada confederação. Mas a Fifa quis reproduzir o que fez com a Copa das Confederações, torneio de seleções que começou pequeno em 1992 e tem hoje oito integrantes.
Como preencher as duas vagas restantes? Dar espaço para um representante do país-sede é uma saída fácil e comum, usada pela Fifa desde 1930, quando o Uruguai organizou e ganhou a Copa.
A indicação de um time brasileiro para disputar o Mundial de Clubes de 2000, portanto, é mais do que justa. Mas como definir a oitava vaga?
A decisão de colocar o campeão do Mundial interclubes foi sim algo incomum e de difícil entendimento, pois o time que venceu em Tóquio já havia vencido seu torneio continental e já deveria estar garantido no torneio da Fifa.
Apelou-se, então, para um campeão do ano anterior. Aí, começou o erro. O Real Madrid, com laços estreitos com a Fifa, abriu o precedente.
O Real foi o primeiro clube confirmado na disputa e também o primeiro clube que não deveria estar na disputa.
Na sequência, a Ásia apostou no Al Nassr. O time saudita, campeão da Supercopa da Ásia de 98, foi o segundo time confirmado no torneio que não deveria jogá-lo.
Esses erros iniciais permitiram à CSF (Confederação Sul-Americana de Futebol) e à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) indicarem de forma equivocada seus representantes.
De forma camuflada, as duas entidades trataram apenas de escolher um time paulista e um carioca para viabilizar o evento.
O Palmeiras é quem ostenta hoje o escudo da Sul-Americana na camisa e teria total direito em representá-la no Mundial. Já o Corinthians ostenta hoje o escudo da CBF por ter vencido o brasileiro de 99, mas jogou o Mundial por ter usado o escudo em 98.
A CBF errou. A Sul-Americana errou. A Confederação Asiática errou. Mas quem errou primeiro foi a Fifa, que terá que administrar seu erro nas futuras edições do Mundial, colocando sempre campeões fora de época.
2001 ou 2002? Oito ou 16 times? Manchester, Ásia ou Austrália? Não importa. O próximo Mundial de Clubes terá novamente times com indicação duvidosa e um invejado campeão da Fifa.
NOTAS

Público
Mal, especialmente em São Paulo. Sobraram ingressos em alguns jogos, e filas astronômicas na final. E o público brasileiro, mais uma vez, mostrou desinteresse em ver jogos entre times estrangeiros.

Horários
Mal. Beneficiaram os times brasileiros. O Corinthians jogou sabendo do resultado do Real. E o Vasco jogou com temperatura mais amena do que o Manchester United.

Nível técnico
Mal. Os quatro grandes renderam pouco. Os quatro figurantes se superaram.

Estádios
Razoável. Morumbi e Maracanã melhoraram com as reformas, mas pouco.

Organização
Razoável. Com 32 equipes na edição de 2010, será muito mais complicado.

E-mail rbueno@folhasp.com.br


Rodrigo Bueno escreve aos domingos

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