São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Dívidas de clubes e falta de ídolos e parceiros ditam a modalidade no país

Pré-Olímpico ofusca a crise dos grandes times chilenos

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A CONCEPCIÓN

O Chile mostra no Pré-Olímpico que tem uma talentosa geração, mas o futebol do país escancara em meio ao torneio uma de suas maiores crises extracampo.
Os maiores clubes do país estão quebrados. A maioria dos times se sustenta em um único investidor, uma cerveja. E os poucos ídolos do país, como Zamorano e Salas, estão se aposentando ou vivendo decadência na carreira.
O mais famoso e popular clube chileno, o Colo Colo, está sem casa. Credores exigiram que o estádio Monumental fosse colocado à venda no final de 2003. O clube, quebrado, já está pronto para se desfazer de seu campo e luta para que algum parceiro apareça para construir uma nova arena, pequena, na região de Santiago.
Devido ao não-pagamento de impostos e por uma suposta evasão de dinheiro intencional, o presidente do Colo Colo, Peter Dragicevic, foi preso. Alegando não ser responsável pela quebra do clube, acabou inocentado.
O mesmo ocorre com a Universidad de Chile, outro dos grandes do país. O governo pediu a falência da entidade, cujas dívidas superam em muito o patrimônio real da instituição. "Nunca evadimos nada. Declarávamos todos os impostos. O problema é que não temos dinheiro para pagá-los", diz René Orozco, presidente da "U", como é chamado o time.
A Universidad de Chile, time que conta com o apoio de uma multinacional [LG], coisa rara no país, deve mais de US$ 9 milhões para o governo e mais de US$ 1 milhão para seus atletas. Os jogadores não recebem há dois meses, e funcionários, há quatro.
Oito clubes que jogaram o último campeonato da primeira divisão mostram a Cristal como patrocinador (metade dos que participaram). A crise fez com que o Cobreloa, time da região do cobre, tivesse dois títulos em 2003.
A empresa que fabrica a Cristal, porém, anunciou recentemente substancial redução em seus investimentos no esporte -em 2000, 13 times da elite do futebol chileno lucravam com a firma.
O Cobreloa, o grande vencedor do futebol chileno em 2003, também está em dificuldades, apesar de ser um dos mais ricos do país. Sua dívida com o governo é de cerca de US$ 3,5 milhões. O acanhado estádio do time seria ampliado para a Libertadores, mas não há dinheiro para as obras.
Gerardo Mella, presidente do Cobreloa, rival do São Paulo na Libertadores, pediu formalmente ajuda ao governo chileno para que não aconteça a "quebra de todo o futebol nacional".
A tradicional apresentação do elenco do Colo Colo para 2004 resume o momento. Normalmente, a festa é grandiosa. Mas o clube gastou pouco mais de US$ 5.000 em contratações e não houve nenhuma pompa. "São tempos difíceis", afirma Tomás Cox, que cuidou do evento.


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