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au revoir
O tênis já sente a minha falta, diz Guga, no adeus
Sem arrependimento, maior tenista do país afirma que parte física impôs limites e planeja seu tour de despedida
Para catarinense, que deve parar em Roland Garros, falta "pimenta" ao esporte e mais três anos fariam dele uma "lenda das quadras"
FERNANDO ITOKAZU
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde o ano passado a idéia
lampejava na cabeça de Gustavo Kurten. O catarinense planejou passo a passo, fez as pazes com os anos de dores, tratamentos e recuperações capengas e traçou um emotivo roteiro de despedida das quadras.
E, ontem, o melhor tenista
brasileiro da história anunciou:
deixará o esporte em 2008.
Sem arrependimentos, diz.
No entanto, carrega um pensamento que ainda aponta para
um outro desfecho da carreira.
"O tênis sente a minha ausência, ficou uma lacuna. Na
minha cabeça, esses últimos
anos teriam sido meus melhores", afirmou o tenista, 31.
Nesse período, crê, teria tido
a chance de se aproximar de
lendas como Andre Agassi, Pete Sampras, Bjorn Borg e Roger
Federer. Guga tem o talento,
faltaram títulos, tempo e físico.
"Tive momentos de genialidade. Meus grandes diferenciais sempre foram a mente, a
estratégia e ter muitas cartas na
manga. São características importantes que se vê pouco hoje
em dia. Mas precisaria de mais
alguns anos para ter certeza,
em termos de resultado, que
atingi o nível deles", disse ele.
"Se eu tivesse jogado no alto
nível nos últimos anos, talvez o
momento de parar também
fosse esse. Mas, se estivesse
100%, ainda gostaria de jogar
mais. O físico me impôs o limite
de competir de igual para igual
com os melhores", completou.
Para Kuerten, Federer, número um do mundo, será o melhor da história se passar o recorde de 14 títulos de Sampras
em Grand Slams (tem 12). Mas
só levando em conta os resultados. Sampras foi seu mais duro
rival. E Agassi aliava técnica e
carisma, ausentes atualmente.
"É bonito ver Federer, como
era ver Sampras, mas não é como o Agassi. O tênis está precisando de uma apimentada."
A disputa para integrar o seleto grupo foi perdida para uma
lesão no quadril. Em 2002, então segundo do ranking, recuperou-se bem da primeira cirurgia. Após a intervenção de
2004, porém, iniciou a queda.
Seu último jogo de simples
foi em fevereiro passado. Guga
tem 20 troféus, entre eles o tri
em Roland Garros e o Masters
de Lisboa, em 2000, quando liderou o ranking. Mesmo com
as dores e a dificuldade de voltar à elite, não crê que deveria
ter feito outro tratamento.
"Isso não fica na minha cabeça. Tudo que decidi sempre foi
bem pensado, isso me deixa
confortável. Se pudesse mudar,
um monte de coisa seria diferente, mas na hora era a melhor
decisão", afirmou o tenista.
Ele traçou a despedida e pediu convite para seus torneios
preferidos. O adeus será em Roland Garros. Isso se não ganhar
convite para a Olimpíada, em
agosto. Ele quer jogar na Costa
do Sauípe (fevereiro), no Masters Series de Miami (março),
no Challenger de Florianópolis
e no Masters Series de Monte
Carlo (abril), nos Masters Series de Roma ou Hamburgo e
no Grand Slam francês (maio).
"Será um presente, com muitas lembranças boas. O tênis é a
coisa que sempre quis fazer na
vida, será natural [o adeus],
mas será mais emocionante
que as conquistas", disse.
Quando deixar a raquete, o
tenista, que ganhou mais de
US$ 14,75 milhões em prêmios,
cuidará da vida de empresário.
Quer investir no Instituto Guga
Kuerten e tocar projeto para
desenvolver o tênis. Não descarta ser capitão da Copa Davis.
"Quero descobrir novos jogadores, ajudar na ida do juvenil
ao profissional. Ainda dependemos da iniciativa de um técnico, como o Larri [Passos, treinador de Guga], de um tenista
talentoso, de ações individuais.
Não seremos como a Argentina, em que o tênis é quase como
o futebol, mas, se tivermos um
"top 50", já será grande feito",
disse o atual 679º do mundo.
O adeus, para Guga, deve ser
mesmo definitivo. Não planeja
fazer como Agassi, que arrefeceu o ritmo e, depois, voltou a
ser o número um. "Pensar,
sempre penso, mas não convivo
com isso. Talvez quando estou
dormindo. Mas a realidade é
outra, e tudo está planejado."
Mas ainda há espaço para sonhar com a despedida perfeita.
"Seria com o título em Roland
Garros. Vai ser muito difícil,
mas seria um sonho."
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