São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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au revoir

O tênis já sente a minha falta, diz Guga, no adeus

Sem arrependimento, maior tenista do país afirma que parte física impôs limites e planeja seu tour de despedida

Para catarinense, que deve parar em Roland Garros, falta "pimenta" ao esporte e mais três anos fariam dele uma "lenda das quadras"


FERNANDO ITOKAZU
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o ano passado a idéia lampejava na cabeça de Gustavo Kurten. O catarinense planejou passo a passo, fez as pazes com os anos de dores, tratamentos e recuperações capengas e traçou um emotivo roteiro de despedida das quadras.
E, ontem, o melhor tenista brasileiro da história anunciou: deixará o esporte em 2008. Sem arrependimentos, diz.
No entanto, carrega um pensamento que ainda aponta para um outro desfecho da carreira.
"O tênis sente a minha ausência, ficou uma lacuna. Na minha cabeça, esses últimos anos teriam sido meus melhores", afirmou o tenista, 31.
Nesse período, crê, teria tido a chance de se aproximar de lendas como Andre Agassi, Pete Sampras, Bjorn Borg e Roger Federer. Guga tem o talento, faltaram títulos, tempo e físico.
"Tive momentos de genialidade. Meus grandes diferenciais sempre foram a mente, a estratégia e ter muitas cartas na manga. São características importantes que se vê pouco hoje em dia. Mas precisaria de mais alguns anos para ter certeza, em termos de resultado, que atingi o nível deles", disse ele.
"Se eu tivesse jogado no alto nível nos últimos anos, talvez o momento de parar também fosse esse. Mas, se estivesse 100%, ainda gostaria de jogar mais. O físico me impôs o limite de competir de igual para igual com os melhores", completou.
Para Kuerten, Federer, número um do mundo, será o melhor da história se passar o recorde de 14 títulos de Sampras em Grand Slams (tem 12). Mas só levando em conta os resultados. Sampras foi seu mais duro rival. E Agassi aliava técnica e carisma, ausentes atualmente.
"É bonito ver Federer, como era ver Sampras, mas não é como o Agassi. O tênis está precisando de uma apimentada."
A disputa para integrar o seleto grupo foi perdida para uma lesão no quadril. Em 2002, então segundo do ranking, recuperou-se bem da primeira cirurgia. Após a intervenção de 2004, porém, iniciou a queda.
Seu último jogo de simples foi em fevereiro passado. Guga tem 20 troféus, entre eles o tri em Roland Garros e o Masters de Lisboa, em 2000, quando liderou o ranking. Mesmo com as dores e a dificuldade de voltar à elite, não crê que deveria ter feito outro tratamento.
"Isso não fica na minha cabeça. Tudo que decidi sempre foi bem pensado, isso me deixa confortável. Se pudesse mudar, um monte de coisa seria diferente, mas na hora era a melhor decisão", afirmou o tenista.
Ele traçou a despedida e pediu convite para seus torneios preferidos. O adeus será em Roland Garros. Isso se não ganhar convite para a Olimpíada, em agosto. Ele quer jogar na Costa do Sauípe (fevereiro), no Masters Series de Miami (março), no Challenger de Florianópolis e no Masters Series de Monte Carlo (abril), nos Masters Series de Roma ou Hamburgo e no Grand Slam francês (maio).
"Será um presente, com muitas lembranças boas. O tênis é a coisa que sempre quis fazer na vida, será natural [o adeus], mas será mais emocionante que as conquistas", disse.
Quando deixar a raquete, o tenista, que ganhou mais de US$ 14,75 milhões em prêmios, cuidará da vida de empresário. Quer investir no Instituto Guga Kuerten e tocar projeto para desenvolver o tênis. Não descarta ser capitão da Copa Davis.
"Quero descobrir novos jogadores, ajudar na ida do juvenil ao profissional. Ainda dependemos da iniciativa de um técnico, como o Larri [Passos, treinador de Guga], de um tenista talentoso, de ações individuais. Não seremos como a Argentina, em que o tênis é quase como o futebol, mas, se tivermos um "top 50", já será grande feito", disse o atual 679º do mundo.
O adeus, para Guga, deve ser mesmo definitivo. Não planeja fazer como Agassi, que arrefeceu o ritmo e, depois, voltou a ser o número um. "Pensar, sempre penso, mas não convivo com isso. Talvez quando estou dormindo. Mas a realidade é outra, e tudo está planejado."
Mas ainda há espaço para sonhar com a despedida perfeita. "Seria com o título em Roland Garros. Vai ser muito difícil, mas seria um sonho."


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