São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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Del Nero cria norma para se perpetuar

Sete federações negam tese da FPF de que CBF impôs extensão de mandatos

Cartolas de federações dizem que aprovaram lei só para Ricardo Teixeira ficar até 2014, com brecha para repetirem seu exemplo


RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em nota, a FPF (Federação Paulista de Futebol) disse que aumentou a permanência de seu presidente Marco Polo Del Nero em mais quatro anos, de 2010 a 2014, "conforme normatização da CBF" -assim, ele ficará 11 anos na entidade. Baseia-se nos artigos 102 e 103 do estatuto da confederação para dizer que mandatos "na federação deverão ser prorrogados" até a Copa realizada no Brasil.
Todos os sete dirigentes de outras federações ouvidos pela Folha negaram a existência dessa obrigação no estatuto da CBF. Afirmaram que havia brecha, mas sem imposição. Foram as federações que aprovaram o novo estatuto, em 2006. Pelo artigo 102, o mandato seguinte do presidente da CBF, que realizaria eleição em 2007, valeria até 2014 caso o Brasil fosse escolhido como sede da Copa do Mundo. Em julho passado, Ricardo Teixeira foi reeleito, por sete anos.
Pelo artigo 103, as federações deveriam se adequar ao novo estatuto em 180 dias, a partir de agosto de 2006, mas sem menção ao item anterior. Assim, mesmo se a FPF interpretou essa adaptação como esticar o mandato de seus dirigentes, não poderia ter tomado a decisão anteontem. O prazo para a adequação terminou em janeiro de 2007.
De oito federações ouvidas pela reportagem, só a FPF interpretou que havia obrigação de extensão de seus mandatos até 2014. As outras consultadas foram: Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Ceará, Distrito Federal, Pernambuco, Espírito Santo e Santa Catarina.
A federação do Rio de Janeiro desconhecia a norma. "Isso [federações] nunca surgiu em assembléia. Mas houve uma maioria que fez", afirmou o presidente da federação do Rio Grande do Sul, Francisco Noveletto, que disse não haver orientação da CBF e que não recorrerá à prorrogação.
A federação de Santa Catarina alongou o mandato de Delfim Peixoto até 2014 após assembléia geral, como em São Paulo. Porém a alteração foi feita antes do novo pleito. "Fizemos uma consulta à CBF, que disse que havia a possibilidade de aumentar. Mas não seria uma obrigação", disse o assessor jurídico da federação, Rodrigo Capella.
É a opinião de Marcus Antônio Vicente, presidente da federação do Espírito Santo, que também aumentou seu mandato. "A CBF não pode legislar sobre os estatutos das federações", explicou ele. Interlocutores de Teixeira confirmam que ele não vê base legal para interferir nas federações. E nem deu ordem para aumentar os mandatos. Oficialmente, após questionada, a CBF não quis comentar o caso.
Ontem, a assessoria da FPF disse que Del Nero não se manifestaria e que "a decisão [de inflar o mandato] é a correta".


Colaborou RODRIGO BUENO , da Reportagem Local


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