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FUTEBOL
Treino de dois toques
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
No jogo-treino contra a
China, até o Parreira, que
adora um jogo de paciência e de
troca de passes, ficou irritado e
pedia mais velocidade. Ou quem
gritava era o Zagallo? Coordenador precisa ter alguma função. A
do Antônio Lopes era a de beijar
a medalhinha, com bastante fé.
Quem mais se frustrou com o
treino da seleção foram os chineses, que pagaram caro, sonharam
com um belíssimo espetáculo,
com um golaço do Brasil, mas assistiram, principalmente no primeiro tempo, a um treino de dois
toques de véspera de jogo, como
disse o Galvão Bueno.
Parreira trocou o terceiro zagueiro do Felipão por um jogador
de meio-campo, o Zé Roberto. Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo atuaram livres, próximos do Ronaldo,
como no Mundial do ano passado. São três atacantes.
Na metade do segundo tempo, o
técnico escalou o time como gosta, no esquema de 94, com dois
volantes (Gilberto Silva e Emerson), um meia pela direita (Juninho), outro pela esquerda (Denílson) e dois atacantes (Amoroso e
Rivaldo). Pela sua característica,
Denílson é mais um ponta, mas
também volta para marcar e ser o
quarto armador, como no Betis.
A maioria das principais equipes e seleções da Europa joga assim. São quatro marcando no
meio-campo. Há uma dupla de
cada lado formada pelo lateral e
pelo armador. As jogadas ficam
menos concentradas pelo meio.
Há uma tendência na Europa de
se colocar pontas, defendendo e
atacando, no lugar de armadores.
Não dá para o Ronaldinho
Gaúcho e o Rivaldo fazerem essa
função pelos lados, atacando e recuando para marcar no campo
do Brasil. Os dois são excepcionais quando atuam próximos da
área, como no Mundial. Raí jogou mal na Copa de 94 porque jogava recuado, ajudando o lateral
na marcação.
Esta será a dúvida do Parreira
nos próximos jogos: repetir o esquema de 94 ou escalar os três erres adiantados, como Felipão.
Bota no caminho certo
Neste momento, confesso que
estou torcendo para o Botafogo
fazer uma boa campanha no Estadual, se organizar dentro e fora
de campo e depois voltar à primeira divisão do Campeonato
Brasileiro, conquistando a vaga
com suor, lágrimas e gols.
Não conheço o Bebeto de Freitas, mas vejo nele, por causa de
sua postura ética e história no esporte, um símbolo de uma nova
geração de dirigentes que começa
a surgir no futebol brasileiro. Pena que vão associar a sua imagem e eficiência com resultados
imediatos da modesta equipe do
Botafogo. Um clube é muito mais
do que um time de futebol.
A equipe do Flamengo é individualmente muito melhor do que
a do Botafogo. Mas o Fogão poderá vencer, como fez o Flu , se aproveitar os enormes buracos na defesa do Flamengo e marcar de
perto o Felipe, não porque ele seja
excepcional e sim porque todas as
bolas passam por ele.
O problema é que o Botafogo
não tem atacantes velozes, como
Fábio Bala. Parece até um clone
do Magno Alves. Um leitor discordou da minha opinião e disse
que o Flu com Carlos Alberto tem
grandes chances de ficar melhor
do que no ano passado. Talvez tenha razão. Carlos Alberto tem
pinta de craque. Ainda não é.
Como as pessoas, no futebol e
na vida, tendem a repetir as mesmas condutas e erros, provavelmente o Flamengo deve mostrar
hoje as mesmas virtudes (qualidade individual do Athirson e outros jogadores) e defeitos que teve
no clássico anterior.
Todo bom lateral precisa avançar com talento, desde que seja na
hora certa. Ele tem de ir ao encontro da bola e se transformar num
atacante -e não se adiantar antes do passe para esperar a bola.
O jovem e promissor zagueiro
André Bahia, titular da seleção
brasileira sub-20, está sempre
deslocado para a esquerda. É o
"secretário" do Athirson.
Enquanto isso, no meio da área,
o lento Fernando fica sozinho,
correndo para os dois lados. Como Alessandro só pensa em atacar e não faz a cobertura do zagueiro, o Mengo fica muitas vezes
com uma linha de apenas dois defensores. O Flu deitou e rolou.
Zagueiro tem de jogar de frente,
com um olho na bola, outro no
passe e um "terceiro" no jogador
que vai receber a bola. O grande
zagueiro enxerga mais do que os
outros. Ele antevê o passe e se antecipa ao atacante. Parece que a
bola o procura.
Zagueiro que corre demais
atrás de atacante e da bola está
perdido, já ensinava o craque-mestre Gerson aos defensores brasileiros na Copa de 70.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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