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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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FUTEBOL

Treino de dois toques

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

No jogo-treino contra a China, até o Parreira, que adora um jogo de paciência e de troca de passes, ficou irritado e pedia mais velocidade. Ou quem gritava era o Zagallo? Coordenador precisa ter alguma função. A do Antônio Lopes era a de beijar a medalhinha, com bastante fé.
Quem mais se frustrou com o treino da seleção foram os chineses, que pagaram caro, sonharam com um belíssimo espetáculo, com um golaço do Brasil, mas assistiram, principalmente no primeiro tempo, a um treino de dois toques de véspera de jogo, como disse o Galvão Bueno.
Parreira trocou o terceiro zagueiro do Felipão por um jogador de meio-campo, o Zé Roberto. Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo atuaram livres, próximos do Ronaldo, como no Mundial do ano passado. São três atacantes.
Na metade do segundo tempo, o técnico escalou o time como gosta, no esquema de 94, com dois volantes (Gilberto Silva e Emerson), um meia pela direita (Juninho), outro pela esquerda (Denílson) e dois atacantes (Amoroso e Rivaldo). Pela sua característica, Denílson é mais um ponta, mas também volta para marcar e ser o quarto armador, como no Betis.
A maioria das principais equipes e seleções da Europa joga assim. São quatro marcando no meio-campo. Há uma dupla de cada lado formada pelo lateral e pelo armador. As jogadas ficam menos concentradas pelo meio. Há uma tendência na Europa de se colocar pontas, defendendo e atacando, no lugar de armadores.
Não dá para o Ronaldinho Gaúcho e o Rivaldo fazerem essa função pelos lados, atacando e recuando para marcar no campo do Brasil. Os dois são excepcionais quando atuam próximos da área, como no Mundial. Raí jogou mal na Copa de 94 porque jogava recuado, ajudando o lateral na marcação.
Esta será a dúvida do Parreira nos próximos jogos: repetir o esquema de 94 ou escalar os três erres adiantados, como Felipão.

Bota no caminho certo
Neste momento, confesso que estou torcendo para o Botafogo fazer uma boa campanha no Estadual, se organizar dentro e fora de campo e depois voltar à primeira divisão do Campeonato Brasileiro, conquistando a vaga com suor, lágrimas e gols.
Não conheço o Bebeto de Freitas, mas vejo nele, por causa de sua postura ética e história no esporte, um símbolo de uma nova geração de dirigentes que começa a surgir no futebol brasileiro. Pena que vão associar a sua imagem e eficiência com resultados imediatos da modesta equipe do Botafogo. Um clube é muito mais do que um time de futebol.
A equipe do Flamengo é individualmente muito melhor do que a do Botafogo. Mas o Fogão poderá vencer, como fez o Flu , se aproveitar os enormes buracos na defesa do Flamengo e marcar de perto o Felipe, não porque ele seja excepcional e sim porque todas as bolas passam por ele.
O problema é que o Botafogo não tem atacantes velozes, como Fábio Bala. Parece até um clone do Magno Alves. Um leitor discordou da minha opinião e disse que o Flu com Carlos Alberto tem grandes chances de ficar melhor do que no ano passado. Talvez tenha razão. Carlos Alberto tem pinta de craque. Ainda não é.
Como as pessoas, no futebol e na vida, tendem a repetir as mesmas condutas e erros, provavelmente o Flamengo deve mostrar hoje as mesmas virtudes (qualidade individual do Athirson e outros jogadores) e defeitos que teve no clássico anterior.
Todo bom lateral precisa avançar com talento, desde que seja na hora certa. Ele tem de ir ao encontro da bola e se transformar num atacante -e não se adiantar antes do passe para esperar a bola.
O jovem e promissor zagueiro André Bahia, titular da seleção brasileira sub-20, está sempre deslocado para a esquerda. É o "secretário" do Athirson.
Enquanto isso, no meio da área, o lento Fernando fica sozinho, correndo para os dois lados. Como Alessandro só pensa em atacar e não faz a cobertura do zagueiro, o Mengo fica muitas vezes com uma linha de apenas dois defensores. O Flu deitou e rolou.
Zagueiro tem de jogar de frente, com um olho na bola, outro no passe e um "terceiro" no jogador que vai receber a bola. O grande zagueiro enxerga mais do que os outros. Ele antevê o passe e se antecipa ao atacante. Parece que a bola o procura.
Zagueiro que corre demais atrás de atacante e da bola está perdido, já ensinava o craque-mestre Gerson aos defensores brasileiros na Copa de 70.

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