São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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FUTEBOL

Velhinhos sensatos

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

De vez em quando, os velhinhos (como são chamados) do International Board se reúnem para decidir mudanças nas regras do futebol.
Ainda bem que são sensatos.
Nos últimos anos, houve ótimas mudanças nas regras, como a proibição de recuar intencionalmente a bola para o goleiro -não deveriam também ser permitidos com a cabeça e o peito-, a obrigação do goleiro de repor a bola mais rápido e, principalmente, a vitória valer três pontos.
Isso transformou o futebol. Os técnicos adoravam um empate.
Outra mudança correta, que começará em julho, é o cartão vermelho para todos os tipos de carrinho, mesmo sabendo que haverá muitos erros de interpretação pelos árbitros.
Alguns excelentes e leais defensores costumam deslizar no gramado para tocar na bola. Nem sempre é fácil diferenciar esse eficiente desarme do hediondo carrinho.
Outras mudanças deveriam ser feitas, como a de punir o jogador e o time que ultrapassassem um limite de faltas durante a partida.
Não sei qual seria a mais correta punição. Não pode ser com um tiro livre na entrada da área e sem barreira, como já foi feito em um Torneio Rio-São Paulo.
Isso muda radicalmente o resultado do jogo.
A federação de futebol do País de Gales, com o aplauso de um grande número de pessoas, queria promover modificação na lei de impedimento.
Pela proposta, só estaria impedido o jogador que estivesse livre dentro da área.
Felizmente, foi vetada pelos velhinhos. Seria um desastre.
Anos atrás, comentei para a TV Bandeirantes partidas do Campeonato Paulista de aspirantes, em que foi testada esta mudança.
Para evitar que o adversário recebesse a bola livre na intermediária, os dois times recuavam para a entrada da área sempre que perdiam a bola. Isso provocava um enorme vazio no meio-campo. O jogo se tornou horrível e defensivo, ao contrário do que muitos imaginavam.
Espero que os velhinhos trabalhem sem nunca perder a sensatez.

Incoerência
Contra o Botafogo, o Fluminense não teve o centroavante goleador Tuta, que estava jogando bem, e o ataque teve ótima atuação. No Botafogo, Bonamigo foi muito criticado por barrar o centroavante Guilherme, que jogava mal havia muito tempo e tinha sido bem substituído no jogo anterior. Muitos disseram que a ausência do Guilherme foi determinante na derrota. Outros, que achavam o Botafogo o melhor dos times cariocas antes da derrota, dizem agora que é o pior.
Os quatro grandes do Rio se equivalem.
As duas formações, com ou sem o típico centroavante, podem ser eficientes. Em tese, sem pensar no Bota e no Flu, gosto mais de dois atacantes que se movimentem perto da área e que façam gols, como ocorre no Santos, com Robinho e Deivid, e no São Paulo, com Tardelli e Grafite.
Além dos erros do Botafogo, a principal razão da goleada foi a boa atuação do Fluminense. O time jogou com o entusiasmo e a velocidade que o Botafogo e o Flamengo mostraram no clássico da semana anterior.

Violência
Antes do jogo contra o Botafogo, Abel Braga lamentou a ausência do Felipe. O técnico disse que o jogador segura a bola no ataque e dá tempo para o time se agrupar.
Concordo.
Porém posso dizer também que o Felipe segura a bola e pára todas as jogadas rápidas de contra-ataque. Nunca vi o Felipe atuar com um toque. Por isso, recebe mais faltas do que os outros, às vezes violentas.
O excesso de faltas e a violência precisam ser combatidos e punidos com mais rigor.
O jogador que comete uma falta violenta na disputa do lance tem de ser expulso, mas não pode receber a mesma suspensão do atleta que planeja e dá um soco, sem bola, no adversário, como fez o Felipe.
O futebol não é apenas um grande negócio, um entretenimento. Se fosse só isso, as estrelas do espetáculo não deveriam ser punidas nem os grandes times seriam rebaixados. Tudo seria permitido para o show continuar.
Não é assim.
O futebol é também uma disputa esportiva, em que as regras, o respeito e os valores éticos precisam ser preservados.


E-mail: tostao.folha@uol.com.br

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