São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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FUTEBOL

Seleção mala

FLAVIO PRADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não quero ser saudosista, mas tenho saudades dos tempos em que o país parava ao ouvir a convocação da seleção brasileira para qualquer jogo, mesmo que amistoso.
Hoje ela está banalizada, e quem puder se livrar dá um jeito de cair fora. Nem estou falando dos jogadores, que ainda falam com carinho do time nacional. Os clubes, no entanto, querem distância desses jogos, especialmente os não oficiais.
A seleção brasileira deixou de ser uma atração especial para nós, primeiro pelo número enorme de partidas contra adversários de baixo nível e depois por convocar jogadores de condição no mínimo discutível, bastando para isso um bom lobby e alguns momentos de brilho em seus times de origem.
No passado, para alguém ser chamado era preciso anos de bom futebol, categoria indiscutível e certeza de que acrescentaria algo com a camisa nacional. Atualmente chamam jogadores para fazer testes e logicamente para entrar no mercado dos empresários internacionais.
Seleção virou sinônimo de negócio e joga-se na China, na Tailândia, contra El Salvador ou Andorra. Perdeu-se o glamour e somente em alguns raros momentos o time brasileiro comove o país como antes. Às vezes vem o pior, torneios malas como a Copa América, do meio do ano, que vai tirar titulares dos principais times brasileiros, no meio do Campeonato Brasileiro, por 35 dias.
Ou seja, ceder craque para a seleção não será uma honra, mas uma desgraça. É como entregar o torneio aos principais adversários. Como o São Paulo vai se virar sem o Luis Fabiano, ou o Santos sem Robinho e Diego, ou ainda o Flamengo sem Felipe?
Será possível que ninguém percebeu que era tempo demais num momento tão importante da nossa principal competição? A seleção deveria ir no máximo com um time de garotos ou não ir. O que adianta jogar a Copa América? Ganhar ou perder vai acrescentar o que para o Brasil?
Já não basta mais a CBF usar os craques para ganhar milhões de dólares, sem repassar nada para os clubes, agora virá um momento de desfalcar os times por períodos longos, que fatalmente implicarão em prejuízos futuros na parte técnica e na ausência de público dos estádios. Nunca poderia imaginar que a seleção viraria uma mala sem alça como agora.
Os clubes europeus sentem até arrepios com as convocações e os times brasileiros tentam manter a pose, mas sabem que só têm a perder com a saída de suas maiores atrações. E os torcedores percebendo isso ficam indiferentes com a seleção e às vezes nem sabem que ela vai jogar os tais amistosos ou competições menores. Que saudades da seleção que empolgava. Hoje isso só existe em eliminatórias e Copas do Mundo. No mais ou dá tédio ou atrapalha as nossas melhores competições.

Decadência
O futebol uruguaio continua dando pena. Não bastou perder para a Venezuela por 3 a 0 em pleno estádio Centenário. Agora também o campeão nacional foi eliminado da Libertadores por um time venezuelano.

Destino
Vágner Love diz que aceita jogar na Rússia ou na Ucrânia. É falta de orientação. Um jogador com o nível dele tem que sonhar mais alto e não se esconder em troca de alguns dólares, que nem sempre são recebidos.

Transferência
O Ricardinho deve estar arrependido até a alma de ter trocado o Corinthians pelo São Paulo. Além de todas as frustrações vividas no Morumbi, agora ele não pode jogar no Brasil até o final do ano. Pior é que o São Paulo também não tem motivos para comemorar nada.


Flavio Prado, 50, é apresentador do "Mesa Redonda" da TV Gazeta e comentarista da rádio Jovem Pan

Tostão está em férias


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