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A Copa da África
Mundial-10 é "montanha-russa"
Cabeça da organização, Danny Jordaan diz que "hoje tudo está bem", porém não descarta obstáculos
Dirigente diz que problema de energia foi superado pelo governo e desafia "qualquer brasileiro" a dizer que já se sentiu inseguro no país
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL
Diretor-executivo do comitê
organizador da Copa de 2010,
na África do Sul, Danny Jordaan, 57, teve de acrescentar a
crise financeira internacional à
lista de dores de cabeça que enfrenta para entregar o torneio
no prazo exigido pela Fifa.
A recessão, que também afeta a economia sul-africana, secou o financiamento externo
para grandes obras e deve ter
impacto no número de turistas
que viajam para ver o torneio.
Ele chegou ao posto com a
ajuda de sólidas conexões políticas. Ex-deputado pelo partido
governista, o Congresso Nacional Africano, o mestiço Jordaan é um caso raro de um não
negro na elite política do país.
Nesta entrevista concedida
em Johannesburgo, ele diz que
o pior já passou e que as dúvidas sobre se a África do Sul teria
condições de organizar o Mundial, que chegaram a ser levantadas pela própria Fifa, estão
superadas. Admite, porém, que
ainda tem uma certa apreensão. "Organizar esse evento é
uma montanha-russa".
FOLHA - A crise econômica vai atrapalhar a organização da Copa?
DANNY JORDAAN - Vai impactar
em tudo: estádios, transporte,
energia. Em todos os itens teremos que lidar com a realidade
de que o ambiente econômico
mudou. Temos de monitorar.
Mas já estamos com 90% dos
preparativos, então o impacto
será nos 10% finais.
FOLHA - E quanto ao número de visitantes previstos, ou receita gerada
com publicidade?
JORDAAN - Se você olhar o número de ingressos vendidos até
agora, eles vêm de 205 países.
Parece que os torcedores ainda
estão comprando.
FOLHA - O número com que o senhor trabalha, de 450 mil visitantes
para a Copa, pode mudar?
JORDAAN - Não por enquanto.
Não é apenas a crise que conta,
mas os times que se classificarão. Depende muito de termos
equipes de tradição, como Inglaterra, Holanda, Brasil. E não
podemos nos esquecer das
equipes africanas. Acho que
mais torcedores africanos virão de Costa do Marfim, Gana,
Nigéria e Camarões.
FOLHA - Mas então qual será o impacto da recessão?
JORDAAN - Vou me reunir com
os responsáveis pelas cidades-
-sede da Copa e ouvir deles o
que vai acontecer: qual a posição financeira, por exemplo.
FOLHA - É a primeira Copa do Mundo num país em desenvolvimento
em 24 anos. É difícil organizar um
evento assim no Terceiro Mundo?
JORDAAN - A primeira coisa é
que há uma grande lacuna entre o que existe no seu país e o
que é necessário, e, portanto,
você precisa de mais receita para preenchê-la. Em nosso caso,
é algo como 30 bilhões de rands
[US$ 3,5 bilhões]. E você tem
de integrar o investimento em
infraestrutura numa estratégia
maior de desenvolvimento para cada cidade e o país.
FOLHA - Mas a Fifa também está
exigindo menos de vocês e exigirá
menos do Brasil? Os requisitos serão
proporcionais à renda do país?
JORDAAN - Na verdade, para o
Brasil serão maiores, porque os
avanços em tecnologia, transporte, aviação etc. serão maiores em 2014 do que em 2010.
FOLHA - Crime é a principal preocupação hoje na África do Sul. O estádio de Ellis Park fica a poucos minutos de distância de Hillbrow, o bairro
mais perigoso de Johannesburgo.
Como isso será resolvido?
JORDAAN - Nós temos uma história de proporcionar eventos
seguros. Foram 146 desde o fim
do apartheid, em 1994. O Brasil
jogou aqui duas vezes e nada
aconteceu. E não acho que exista algum brasileiro que pode falar que não se sentiu seguro.
FOLHA - Falta um ano apenas. É
possível tornar o país mais seguro?
JORDAAN - Essa não é nossa
função.
FOLHA - Não?
JORDAAN - Nosso dever é oferecer um ambiente seguro para o
evento. No que se refere a segurança, se você apresentar 100%
de informação sobre seus movimentos no país e tiver um
plano de segurança, nós podemos assegurar que você estará
seguro. Porque eu sei onde você
está, eu sei onde você vai dormir, sei onde você vai comer,
sei quando você vai se mover. E
garanto todas essas coisas. Já
fizemos vários testes.
FOLHA - E quanto à energia, ainda
há blecautes na África do Sul...
JORDAAN - Esse problema é do
passado. Foi resolvido. Os países vizinhos vão oferecer maior
geração de energia para nós. A
África do Sul é uma exportadora de energia elétrica.
FOLHA - Muitas pessoas na África
do Sul têm dito que esse evento não
será aproveitado pelos sul-africanos, porque o preço do ingresso é caro. Como o senhor responde?
JORDAAN - Não é um evento dos
sul-africanos, é um evento na
África do Sul. É assim com todo
país-sede, você não pode dar
todos os ingressos para os sul-
-africanos. E os brasileiros, os
ingleses? Tomamos providências para que os sul-africanos
tenham acesso aos ingressos.
Criamos uma categoria especial em que [as entradas] custam apenas US$ 20, para que
eles possam comprar. Fizemos
120 mil ingressos grátis para serem distribuídos aqui e mais 40
mil para os que trabalharam na
construção dos estádios.
FOLHA - Há algo na organização
que o esteja preocupando?
JORDAAN - Organizar esse
evento é uma montanha-russa.
Não é uma linha reta. Hoje, tudo está bem. Amanhã, temos
um problema, os ônibus podem
entrar em greve. Mas, se você
me perguntar hoje, estamos
confiantes. Não posso dizer sobre amanhã ou mês que vem.
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