São Paulo, domingo, 16 de maio de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

Os erros dos outros


Cada um sabe onde o calo aperta. Daí os italianos estarem bravos com Lippi, os argentinos com Maradona...


A REVISTA argentina "El Gráfico" publicará, em sua edição de junho, enquete com jornalistas do mundo inteiro sobre os favoritos para a Copa. A pesquisa ainda não está encerrada, mas Brasil e Espanha dividem a preferência. Em terceiro lugar, bem longe, a Argentina. O colégio eleitoral está espalhado pelo mundo, mas o sentimento argentino é semelhante. "Podemos vencer, mas houve muitas reclamações sobre a convocação de Maradona", relata o jornalista Elias Perugino, coordenador da enquete.
Todas as colunas de opinião fizeram críticas à convocação de Dunga, nesta semana. Na Argentina também. E na Holanda, na Espanha, na Alemanha...
"Na Itália, o esporte preferido é criticar", diz o jornalista da "Mediaset" Enzo Palladini.
Cada técnico tem o seu pecado. Na Itália, Totti deixou claro que estava à disposição de Marcello Lippi e não foi chamado. O técnico campeão do mundo em 2006 é acusado de convocar por gratidão. "Dizem que Lippi só gosta dos velhos", afirma Palladini, em referência aos 11 vencedores de 2006 contemplados na lista da última terça-feira.
Maradona tinha convocado 103 jogadores para 18 partidas de sua gestão até a semana passada, quando chamou cinco novatos para o amistoso contra o Haiti. Ariel Garcé, zagueiro de área, jogou como lateral-direito. Foi bem e entrou na lista final dos 30. "A maior crítica é ter convocado muitos zagueiros de área e nenhum lateral, a não ser Clemente Rodriguez", diz Perugino.
A Espanha incluiu cinco goleiros na lista dos 30, enviada à Fifa, sem se dar conta de uma contradição no regulamento. É preciso relacionar os 23 para a Copa a partir da lista de 30, mas incluir três goleiros necessariamente. Ora, se entre os 30 só houver três arqueiros, como no caso do Brasil, e um deles se machucar, a escolha de um 31º nome é obrigatória.
Para que, então, relacionar cinco goleiros na primeira lista? Os espanhóis não criticam, mas lamentam as lesões de Fàbregas, Iniesta e Fernando Torres, que só terão condição de voltar aos gramados em junho.
Não é verdade, portanto, que só a seleção brasileira tem convocados em má fase técnica ou física.
Cada um sabe onde o calo aperta.
Daí os argentinos estarem bravos com Maradona, os italianos com Marcello Lippi, os franceses com Raymond Domenech, o Brasil com Dunga. O pecado da lista brasileira é incluir Kleberson e Ramires, em vez de Ganso ou Ronaldinho. Preferencialmente Paulo Henrique Ganso, sobre quem Dunga cometeu o pecado mortal de dizer que foi reserva no Mundial sub-20 -ele foi titular do primeiro ao último jogo. Para não convocar, também é preciso saber tudo sobre o atleta.
Mesmo assim, é inegável que o Brasil trabalhou melhor, nos últimos quatro anos, do que vários rivais pelo título. A Argentina convocou 108 jogadores nos 19 jogos de Maradona. Itália, Holanda, Inglaterra e até mesmo a Espanha mudaram de treinador no meio do caminho. O trabalho com começo meio e fim não é garantia de vitória na Copa, como mostram os títulos do Brasil, em 2002, e da Itália, em 2006. Mas é melhor do que contar com a sorte na reta de chegada. Esse erro, o Brasil não cometeu.

pvc@uol.com.br



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