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FUTEBOL
Futebol bandido
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Vou pegar carona na idéia
do leitor Emanuel Cancella. No "Painel do Leitor" da Folha de ontem, ele escreveu que o
Palmeiras perdeu o segundo jogo para o Boca Juniors por ter
colocado em campo o "futebol
bandido". Concordo.
O alviverde, a meu ver, foi vítima de uma ilusão, se não de
uma armadilha.
No jogo de ida, na Bombonera, os palmeirenses jogaram
com brio e competência: levaram botinadas, foram garfados
pela arbitragem e saíram com
um empate. Mereciam vencer e,
por isso, trouxeram na bagagem
o sentimento de ter sido lesados.
No segundo jogo, em casa, o time parece ter entrado em campo
empenhado mais em revidar o
que sofreu em Buenos Aires do
que em jogar para vencer.
Nervosos e atabalhoados, seus
jogadores praticamente entregaram dois gols aos argentinos
em dez minutos.
Quando esboçava uma virada, depois de fazer o primeiro
gol, o Palmeiras foi prejudicado
por um torcedor afoito que invadiu o campo e agrediu covardemente o bandeirinha -em protesto, aliás, contra um erro inexistente.
Talvez contagiados pela sandice do agressor (absurdamente
aplaudida pela torcida), os palestrinos passaram a distribuir
botinadas, o que culminou na
justíssima expulsão do zagueiro
Alexandre.
No segundo tempo, enquanto
o Palmeiras, com um atleta a
menos, buscava desordenadamente virar o placar, Riquelme
colocava os brucutus para dançar. Um lance emblemático da
partida foi aquele em que o craque argentino fez Argel rodopiar
feito um pião, chutando o ar a
cada drible, até que, claro, apelou para a falta.
Muitos torcedores vibram
quando um cabeça-de-bagre do
seu time acerta uma patada
num adversário habilidoso e
atrevido. É uma reação catártica compreensível.
Lembro-me de que, ainda
adolescente, senti algo parecido
quando, na partida contra a
Holanda na Copa de 74, Luiz
Pereira agrediu o atacante Rep
e, ao ser expulso, saiu mostrando o distintivo para a torcida.
Depois de sermos humilhados
pelo futebol superior da Laranja
Mecânica, nos sentimos vingados por aquele gesto de patriotismo selvagem.
Compreender uma atitude
desse tipo não significa aprová-la e, muito menos, recomendá-la. É o pior de nós que vem à tona nesses momentos, e não deve
ser erigido em regra.
Lugar de bandido é na cadeia,
lugar de cavalo é no curral.
Campo de futebol é -ou deveria ser- para quem sabe jogar
bola.
Está (quase) todo mundo
cheio de esperança no futuro da
seleção sob o comando de Luiz
Felipe Scolari.
Sem querer aguar essa festa,
tenho alguns temores.
Por não poder correr riscos, e
por seu próprio gosto defensivista, é possível que Felipão escale três volantes -Mauro Silva,
Emerson e Rochemback-, diminuindo as possibilidades
criativas do meio-campo.
Se Romário não estiver bem física ou tecnicamente, talvez sejamos condenados ao esquema
de chuveirinhos na área para as
cabeçadas de Jardel.
Ao que tudo indica, estamos
no limiar de um novo pragmatismo, à la Parreira. Mas é melhor esperar para ver.
Jogo duro
Sem André Luiz, suspenso, o Corinthians deverá ser um time
menos leve e criativo amanhã, contra o Grêmio. O time gaúcho,
por sua vez, terá mais poder ofensivo com a volta do endiabrado Marcelinho Paraíba. Como o Grêmio precisa vencer ou fazer
pelo menos três gols, espera-se que tome a iniciativa. O Corinthians, pressionado pela Fiel, também terá de atacar. Aposto
que será um grande jogo.
CPI das raposas
Acabou de modo caótico e melancólico a CPI da CBF/Nike. De
uma comissão que tem 18 de seus 25 membros ligados aos clubes e federações não poderia sair algo melhor. É como pôr a raposa para tomar conta do galinheiro. O relatório "alternativo",
que deixa intocados os cartolas mais comprometidos com falcatruas, é uma piada e uma ofensa. Espera-se que o Senado e o
Ministério Público façam alguma coisa com o que foi apurado.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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