São Paulo, sábado, 16 de junho de 2001

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FUTEBOL

Futebol bandido

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Vou pegar carona na idéia do leitor Emanuel Cancella. No "Painel do Leitor" da Folha de ontem, ele escreveu que o Palmeiras perdeu o segundo jogo para o Boca Juniors por ter colocado em campo o "futebol bandido". Concordo.
O alviverde, a meu ver, foi vítima de uma ilusão, se não de uma armadilha.
No jogo de ida, na Bombonera, os palmeirenses jogaram com brio e competência: levaram botinadas, foram garfados pela arbitragem e saíram com um empate. Mereciam vencer e, por isso, trouxeram na bagagem o sentimento de ter sido lesados.
No segundo jogo, em casa, o time parece ter entrado em campo empenhado mais em revidar o que sofreu em Buenos Aires do que em jogar para vencer.
Nervosos e atabalhoados, seus jogadores praticamente entregaram dois gols aos argentinos em dez minutos.
Quando esboçava uma virada, depois de fazer o primeiro gol, o Palmeiras foi prejudicado por um torcedor afoito que invadiu o campo e agrediu covardemente o bandeirinha -em protesto, aliás, contra um erro inexistente.
Talvez contagiados pela sandice do agressor (absurdamente aplaudida pela torcida), os palestrinos passaram a distribuir botinadas, o que culminou na justíssima expulsão do zagueiro Alexandre.
No segundo tempo, enquanto o Palmeiras, com um atleta a menos, buscava desordenadamente virar o placar, Riquelme colocava os brucutus para dançar. Um lance emblemático da partida foi aquele em que o craque argentino fez Argel rodopiar feito um pião, chutando o ar a cada drible, até que, claro, apelou para a falta.
Muitos torcedores vibram quando um cabeça-de-bagre do seu time acerta uma patada num adversário habilidoso e atrevido. É uma reação catártica compreensível.
Lembro-me de que, ainda adolescente, senti algo parecido quando, na partida contra a Holanda na Copa de 74, Luiz Pereira agrediu o atacante Rep e, ao ser expulso, saiu mostrando o distintivo para a torcida. Depois de sermos humilhados pelo futebol superior da Laranja Mecânica, nos sentimos vingados por aquele gesto de patriotismo selvagem.
Compreender uma atitude desse tipo não significa aprová-la e, muito menos, recomendá-la. É o pior de nós que vem à tona nesses momentos, e não deve ser erigido em regra.
Lugar de bandido é na cadeia, lugar de cavalo é no curral. Campo de futebol é -ou deveria ser- para quem sabe jogar bola.

Está (quase) todo mundo cheio de esperança no futuro da seleção sob o comando de Luiz Felipe Scolari.
Sem querer aguar essa festa, tenho alguns temores.
Por não poder correr riscos, e por seu próprio gosto defensivista, é possível que Felipão escale três volantes -Mauro Silva, Emerson e Rochemback-, diminuindo as possibilidades criativas do meio-campo.
Se Romário não estiver bem física ou tecnicamente, talvez sejamos condenados ao esquema de chuveirinhos na área para as cabeçadas de Jardel.
Ao que tudo indica, estamos no limiar de um novo pragmatismo, à la Parreira. Mas é melhor esperar para ver.

Jogo duro
Sem André Luiz, suspenso, o Corinthians deverá ser um time menos leve e criativo amanhã, contra o Grêmio. O time gaúcho, por sua vez, terá mais poder ofensivo com a volta do endiabrado Marcelinho Paraíba. Como o Grêmio precisa vencer ou fazer pelo menos três gols, espera-se que tome a iniciativa. O Corinthians, pressionado pela Fiel, também terá de atacar. Aposto que será um grande jogo.

CPI das raposas
Acabou de modo caótico e melancólico a CPI da CBF/Nike. De uma comissão que tem 18 de seus 25 membros ligados aos clubes e federações não poderia sair algo melhor. É como pôr a raposa para tomar conta do galinheiro. O relatório "alternativo", que deixa intocados os cartolas mais comprometidos com falcatruas, é uma piada e uma ofensa. Espera-se que o Senado e o Ministério Público façam alguma coisa com o que foi apurado.

E-mail: jgcouto@uol.com.br



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